Prazeres / Bebidas

Um Alentejo em socalcos, como no Douro

Uma serra invulgar inspirou a primeira - e única - vinha no Alentejo à moda do Douro. A Herdade da Aldeia de Cima é um projeto original, de Luísa Amorim.

16 de setembro de 2020 | Bruno Lobo

Planícies douradas a perder de vista, campos de trigo e oliveiras, gado a pastar…. É assim o Alentejo na memória da maioria das pessoas… da maioria, não de quem aqui vive, trabalha ou bem o conhece. Esses sabem bem como o Alentejo é muito mais, é uma região que se estende da fronteira com Espanha às rochas escarpadas "onde a terra acaba e o mar começa". São montes e vales, rios e serras e, numa delas, precisamente na que separa o Alto do Baixo Alentejo, vamos então encontrar esta vinha única, plantada em socalcos. Uma paisagem especial, que primeiro surpreende e em seguida maravilha.

A Herdade da Aldeia de Cima não é um projeto vulgar. Trata-se de uma herdade de 2400 hectares, que sobe até ao pico da Serra do Mendro, a 424 metros de altitude, a segunda mais alta do Alentejo. Do cume podemos avistar uma extensão enorme de terra, das aldeias da Vidigueira à cidade de Beja, lá ao fundo. Tem um declive acentuado, entre o 25 e os 40 graus, o que também justificou esta opção. E até os solos são de xisto, mais uma coincidência com o Douro. Já o nome vem de um antigo povoado, a aldeia de Sant’Anna, assim baptizada em 1758, mas que por se situar tão perto do cume ganhou rapidamente a alcunha de Aldeia de Cima.

A Herdade da Aldeia de Cima, Alentejo.
A Herdade da Aldeia de Cima, Alentejo. Foto: Inês d'Orey


Este é o "cenário" que estava há muito nas mãos dos Amorim, embora a família o explorasse apenas para a produção que lhes granjeou fama e fortuna. Por certo os sobreiros continuam a ocupar a maioria dos hectares da herdade, mas após a morte do empresário a herdade ficou nas mãos da filha Luísa - e é ela quem gere os negócios vínicos da família, com a extraordinária Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, no Douro, e mais recentemente a Taboadella, no Dão. Luísa Amorim conhecia bem a propriedade, visitou-a muitas vezes com o pai, e sabia do potencial, mas o que a motivou realmente a embarcar nesta aventura foram as suas memórias dos vinhos alentejanos dos anos 1980, "a sua frescura e textura, antes da invasão das castas internacionais". Foi assim que, em 2017, Luísa desafiou o enólogo da Quinta Nova, Jorge Alves, para tentarem criar esse vinho, produzido exclusivamente com castas portuguesas ou há muito adaptadas ao lugar. Ainda nesse ano iniciaram a plantação desta extraordinária parcela de altitude, e em socalco: 12 hectares com Trincadeira, Alicante Bouschet, Antão Vaz, Aragonês e Alfrocheiro, que sendo mais do Dão, está bastante difundido no Alentejo. Mais surpreendente foi a inclusão da Baga, típica da Bairrada. A sul, e com mais sol e calor, a Baga ganha alguma rusticidade, e cumpre muito bem na função de acrescentar frescura ao vinho - a tão desejada frescura.

Ao longo da vinha corre também um pequeno ribeiro, o Alfaiate, que acabou por dar o nome à mesma, e não fará mal nenhum retê-lo, pois será certamente muito repetido quando a idade e a maturidade das videiras permitirem exprimir na totalidade a qualidade deste mini terroir.

A Herdade da Aldeia de Cima, Alentejo.
A Herdade da Aldeia de Cima, Alentejo. Foto: Inês d'Orey


Por enquanto a equipa da herdade ainda precisa de procurar na região as uvas e as castas para fazer os vinhos da Aldeia de Cima, mas como só utilizam aquelas que oferecem condições muito semelhantes, os vinhos são já uma boa expressão de terroir - e revelam aposta ganha, pois tanto os Reserva como os topo de gama Alyantiju, ambos nas variantes tinto e branco, têm vindo a ser aclamados pela crítica especializada.

Palavra final para os rótulos, plenos de simplicidade e elegância, lembrando a velha aldeia alentejana com as suas paredes caiadas - que foi, entretanto, totalmente recuperada. Desenhados pelo Studio Eduardo Aires, foram distinguidos com o prémio de Ouro nos European Design Awards, e são o argumento final para comprar não apenas uma "casa", mas a aldeia inteira.

Descubra online os packs de vinho da Aldeia de Cima
Descubra online os packs de vinho da Aldeia de Cima Foto: D.R.


Saiba mais informações e compre os vinhos aqui

Saiba mais Alentejo, vinha, Herdade da Aldeia de Cima, projeto, Luísa Amorim, ligação, Douro, vinho, bebidas
Relacionadas

Uma série de vinhos Ímpar(ável)

Pedralvites ou sercialinho não serão propriamente nomes que a maioria dos apreciadores de vinho reconheçam, e muito menos associem a um grande vinho. Mas aqui está ele, em grande e cheio de surpresas…

Grandes vinhos para o verão

Brancos, rosés e até uns belos tintos perfeitos para o tempo mais quente. Estes são os vinhos que devia estar a beber agora.

Chegou o Barca Velha, o rei da vinha

“Chegou o Leão!” Boa frase para levantar qualquer sportinguista da cadeira, mas aqui não estamos para falar de futebol e sim para apreciar bons vinhos. O melhor de todos, dirão. O Barca Velha.

Vinhos para abrir as portas ao mês do verão

O tempo mais quente não implica necessariamente vinhos brancos ou rosés, mas quando se trata de bebida a solo, a tendência não recai sobre os tintos. Ainda assim, dois brancos alentejanos acompanhados um tinto clássico da região. A Norte, mais dois brancos e uma aguardente.

Mais Lidas
Sabores Regresso ao passado, na Passarella

Um Pinot Noir sem nada a temer dos borgonheses, um espumante que não é branco nem rosé, mas Baga, e três vinhos de terroir de vinhas muito velhas. A Casa da Passarella foi ao passado abrir caminho para os vinhos de amanhã, e o resultado é francamente especial.