Chegou o Barca Velha, o rei da vinha
“Chegou o Leão!” Boa frase para levantar qualquer sportinguista da cadeira, mas aqui não estamos para falar de futebol e sim para apreciar bons vinhos. O melhor de todos, dirão. O Barca Velha.

É o mais conceituado dos vinhos nacionais. Uma raridade, que só aparece em anos excecionais - e não é marketing: em 68 anos nasceram 20 Barca Velha, menos de um terço. Prova da exigência com que é produzido, e que leva então o enólogo, Luís Sottomayor, a fazer a comparação com o rei da selva: "Este Barca Velha é como um leão a andar na savana, é um vinho confiante, que sabe o seu valor e que todos respeitam. Tem uma personalidade única, muito bem definida, e por aqui conseguimos perceber realmente o que o Douro consegue ser".

É este o vinho que temos no copo, o mais novo dos Barca Velha, da colheita de 2011, e o cenário não podia ser mais adequado, em plena Quinta da Leda - Quinta da Lenda podiam chamar-lhe - no meio das vinhas onde nasce, em altitude e junto ao rio, em vales onde o sol se deita mais cedo. Um vinho único, com uma profusão de aromas como já não se encontra, de uma elegância incrível na boca, cheio, fresco e um final longo, longo…
É um Barca Velha para deixar o "pai" orgulhoso. O BV "clássico" que Fernando Nicolau de Almeida queria fazer quando imaginou, nos anos 40 do século passado, que o Douro tinha potencial para produzir vinhos tão bons, e com a mesma longevidade que os de Bordéus. E isto numa altura em que ninguém fazia tintos, só Porto. E se os primeiros anos não foram fáceis, ficam para a história os camiões carregados de gelo, de Matosinhos ao Pocinho, viagem terrível e demorada, só para conseguir fazer a fermentação a uma temperatura controlada. Um louco, sim, e um teimoso, mas foi desta força de vontade que nasceu a lenda e ao longo de quase 70 anos apenas três enólogos tiveram o privilégio - e a responsabilidade - de declarar um Barca Velha (ver caixa). Sendo que os dois que lhe seguiram - José Maria Soares Franco, primeiro, e Luís Sottomayor, agora - trabalharam ambos diretamente com o Mestre. Daqui resulta uma coerência e uma consistência de estilo praticamente sem paralelo no mundo vínico.
A propósito: onde estava em 2011? A célebre pergunta de Baptista-Bastos já se torna pertinente, se não imaginem: há nove anos o último grito em tecnologia era o Samsung Galaxy S…2 ou o iPhone 4S. Sendo que para os lados da Apple o ano seria marcado sobretudo pela perda de Steve Jobs. Em Portugal estava instalada a crise e Pedro Passos Coelho sucedia a José Sócrates. No mundo, as dívidas da Europa dividiam atenções com o início da Primavera Árabe, uma revolta de esperança que em breve terminaria em pesadelo, mas para quem prefere notícias mais cor-de-rosa o ano foi de arromba, com os casamentos reais de William e Kate, e do Príncipe Alberto II, do Mónaco.
Entretanto, em Portugal o inverno foi frio e chuvoso, o que deixou água no solo ao longo do verão, que ainda por cima não foi escaldante, e estes dois fatores permitiram às uvas maturarem mais calmamente. Já sabíamos que 2011 resultou na maior declaração de Vintages de Porto de sempre, e faltava apenas esta certificação para confirmar o ano como mítico. Sottomayor admite que nunca teve dúvidas sobre o resultado, "Este já nasceu BV", e o tempo confirmou-lhe o prognóstico: "Um vinho que já está soberbo, mas que daqui por 25 anos estará ainda melhor […] Quanto pode evoluir em garrafa só o tempo dirá…"
A última vez que um Barca Velha tinha sido declarado, o diretor de enologia da Casa Ferreirinha não tinha assim tantas certezas, ou tão rápidas e em 2017 dizia, sobre a colheita de 2008, "é um vinho que precisa de tempo e paciência para revelar tudo o que vale. Mas vale muito". Esse vinho alcançou 100 pontos na Wine Enthusiast, o que significa que, para os críticos daquela reputada publicação, é mesmo um vinho perfeito. E uma honra nunca alcançada por outro vinho português não fortificado. Nem antes nem depois - ou será que este 2011 vai conseguir repetir a proeza?

Como nasce um Barca Velha?
Já aqui dissemos que um BV apenas surge em anos excecionais, porque se a equipa de enologia não acredita estarem reunidas as condições de qualidade e longevidade a colheita nem sequer é engarrafada. Assim, após uma maturação de 18 meses em barricas de carvalho francês, escolhem, de entre vários lotes um final, "O Escolhido" - e é aqui que reside provavelmente o "segredo" do BV. Mas ainda falta o teste do tempo, porque "um BV não se pode apressar". O lote passará então sete anos e meio (mais ou menos) em garrafa, e só então o enólogo estará em condições de declarar se a colheita é - ou não - Barca Velha. Quando não, é relegada à condição de Reserva Especial.
Será seguramente um momento de angústia, até pelas consequências comerciais que isso acarreta - um Reserva Especial vende-se nas garrafeiras a 200 e um BV a 600! Pior ainda quando nem sequer é engarrafado. Mas importa acima de tudo preservar este legado de excelência e por isso a decisão cabe exclusivamente ao enólogo, e este prefere muito mais errar por excesso, ou seja, despromover um vinho que a generalidade da crítica acredita ter potencial de BV à categoria de Reserva Especial, do que elevar um sem ter os pergaminhos certos. Na dúvida prefere não declarar, e esta mesma exigência é observável na obra dos três enólogos responsáveis: em 68 anos saíram 20 BV e 17 RE ou seja 31 colheitas não viram sequer a luz do dia - e podemos já avançar que o mesmo vai acontecer aos anos de 2012 e 2013. Agora, para voltar a provar um BV novo só daqui por três anos. Se for um Barca Velha!
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