Da Europa à Ásia. Viagem pelos sabores do mundo sem sair de Portugal
Encontrar bons restaurantes especializados em cozinhas que não as nossas é uma das pequenas alegrias da vida. Entre as ruas de Lisboa e do Porto, a MUST viajou pelas receitas tradicionais de Itália, de Israel, do Japão e, claro, de Portugal. Eis o veredito.
Giulietta, restaurante e pizzaria vegan
A poucos minutos da estação de metro de Roma, o Giulietta é uma boa surpresa para quem aprecia gastronomia italiana, mas tem dificuldade em encontrar restaurantes que contenham opções no menu sem lactose ou carne. Afinal, o Giulietta especializa-se em pratos vegan, ao mesmo tempo que continua a honrar a tradição dos sabores desta cozinha europeia, através de iguarias típicas como pasta ou pizza.
Em contraste com o movimento da Avenida de Roma, o interior do restaurante é sereno, o que nos permitiu observar com maior detalhe a sua decoração curiosa: penduradas nas paredes estão imagens de estrelas do cinema italiano, todas vanguardistas de algum modo, fonte de inspiração da nova aventura do grupo The Green Affair. O seu objetivo? Olhar para a alimentação de uma forma mais consciente, e daí o desafio de criar uma carta à base de vegetais e alternativas aos produtos de origem animal.
Das ofertas mais icónicas destacam-se a pizza de trufas, que é feita com farinha 00 italiana (doppio zero, é a denominação utilizada em Itália para a farinha mais refinada e pura) e por isso mais fácil de digerir e mais saudável; e a lasanha com cogumelos e tofu biológico, tão deliciosa como se fosse de carne. Nas entradas, as bolinhas de arroz com cogumelos e mozzarella vegan são uma aposta sólida, bem como a salada caprese com o mesmo tipo de queijo. Por fim, terminamos a refeição com um clássico tiramisù (embora sem lactose), bastante popular entre os clientes da casa.
Onde? Avenidade de Roma, 46B, Lisboa. Quando? Aberto todos os dias, das 12h às 23h Reservas 927 397 191
Tantura
Escondido entre as ruas do Bairro Alto, em Lisboa, encontramos o Tantura, um restaurante que continua a dar cartas há quase uma década e que conta com algumas novidades na ementa. Ao lemo estão os proprietários Elad Budenshtiin (também chef e designer de interiores) e Itamar Eliyahu, que viajaram até à capital portuguesa - vindos de Tantura, uma vila de pescadores no litoral de Israel - e que, apaixonados por Lisboa, ali decidiram ficar e montar um negócio.
Da personalidade aventureira de Elad e Itamar e da sua paixão pela cozinha surgiu assim um lugar acolhedor e cheio de vida que faz lembrar a casa das avós, com cores fortes, candelabros, mobília antiga e caricata e loiça sem par. Da cozinha aberta com forno de lenha saem as melhores iguarias da gastronomia israelita, muitas delas baseadas em receitas de família antigas e interpretadas aos dias de hoje, cruzando influências do Médio Oriente, do sul da Europa e ainda do norte de África. "Notámos que a maioria das cozinhas do Médio Oriente em Lisboa eram libanesas, e sentimos que havia espaço para abrir um restaurante de diferentes gastronomias do mundo, que representasse o Médio Oriente de uma forma mais abrangente. A comida israelita é simples, reconfortante e acima de tudo saborosa", explica Elad.
Na mesa não pôde faltar o pão - de três variedades e todas elas deliciosas - acompanhado por três molhos diferentes - de cenoura, coentros e tahini - e bolinhas falafel, apenas para começar a abrir o apetite. Das opções vegetarianas apostámos numa salada de beterraba, cogumelos e espinafres com pasta de amendoim; e numa das novidades do menu, uma espécie de folhado recheado com ovo e vegetais. Dos pratos tradicionais é impossível não mencionar as pitas com hummus (pão pita com pasta de grão), o tabbouleh (salada libanesa) e o shakshuka (ovos escalfados em molho de tomate, pimentos e cebola), que pode ou não conter carne, tal como as restantes escolhas da carta.
Onde? Rua do Trombeta 1D, Lisboa. Quando? De terça-feira a domingo, das 18h à meia-noite. Brunch aos sábados e domingos das 12h às 15h30. Reservas: 21 809 6035
Dona Maria by The Lodge Porto Hotel
À mesa de casa - exceto em dias de festa -, chegam, diretamente do fogão, os tachos e panelas usadas para cozinhar. E no Dona Maria, em Vila Nova de Gaia, acontece exatamente o mesmo. Afinal, a ideia é levar para o restaurante do hotel cinco estrelas, The Lodge, um bocadinho do conforto de casa, em "pratos emblemáticos da zona ou da região", com "um certo brilho".
Exatamente por isso, nasceu, pelas mãos do chef João Vieira, uma entrada surpreendente: sopa cremosa de tomate coração de boi assado com a sua francesinha. E é precisamente como pode imaginar. Um creme alaranjado, muito semelhante ao molho deste símbolo da gastronomia portuense (devido, não só ao tomate, como à adição da cenoura), servido com uma pequena francesinha, que, quando chega à mesa, é regada com um pouco mais da sopa - tal como aconteceria com o prato icónico do Porto.
A esta, juntam-se, para dar início à refeição, uma empada de perdiz de Vila Nova de Foz Côa ou lírio dos Açores com citrinos e abóbora confitada. Segue-se, na nova carta já disponível no espaço, um arroz malandrinho de tamboril e gambas, coelho à caçador albardo em couve e nozes, ou a versão do chef da pescada à poveira, um desafio colocado pelo diretor do hotel.
Para terminar, há duas opções bastante distintas. Numa ode às estações quentes, é servida uma sobremesa chamada "aromas frescos de tributo à Primavera com suspiros de Verão", bastante colorida e perfumada. Já mais quente e frutada, surge a barrica de touriga nacional, inspirada na decoração do próprio hotel. Pensada pela chef pasteleira, Ana José Lamela, que foi à suas memórias da infância buscar inspiração, a sobremesa é composta por ameixa e cassis, cozidos em vinho, além de pedaços de bolo de milho.
Onde? Rua Carvalhosa 151, Vila Nova de Gaia. Quando? Pequeno-almoço das 7h às 10h30, todos os dias; almoço das 12h30 às 15h de segunda a sexta-feira e das 13h às 15h30 aos fins de semana e feriados; jantar das 19h30 às 23h. Reservas aqui.
Black Pavilion
O novo restaurante do Torel Palace Lisboa preenche todos os requisitos de um serão bem passado à mesa: comida tradicional portuguesa com um toque de modernidade e uma vista panorâmica da cidade lisboeta. A verdade é que, do terraço, esquecemo-nos rapidamente que não estamos assim tão longe da azáfama turística da Baixa, apenas a algumas ruas acima de todo o burburinho.
A cozinha descomplicada e cheia de sabor do Black Pavilion, cujo menu foi pensado pelo chef Vítor Matos e que conta com Francisco Quintas como chef residente, faz deste o local ideal para diversas ocasiões, de jantares de aniversário a almoços de empresa. Respeitando sempre a sazonalidade, "partimos de um bom produto para criar pratos de conforto numa versão mais simples, mas sempre consensual", explica o chef consultor em comunicado de imprensa. Na carta contam iguarias como a salada de burrata com tomate, pesto e pinhões - mais tradicional - ou a tosta de sapateira com creme de abacate e citrinos - mais inovadora e já um bestseller da casa - ambas frescas e ideais para iniciar a refeição. Das opções principais, o consenso parece estar no bife de lombo um de quatro molhos à escolha (pimentas, morilles, mostarda antiga ou "à cervejeiro"), no bacalhau fresco Pil Pil com grão-de-bico, que se desfaz logo na boca, e no arroz de tamboril, que faz lembrar os almoços de família na casa da avó.
A grande estrela do restaurante, para lá da comida, é o acolhedor jardim de inverno onde está inserido (também tem uma esplanada e uma sala interior). A decoração, sóbria e clássica, ficou a cargo da designer de interiores Isabel Sá Nogueira, que se inspirou nos típicos jardins de inverno de Inglaterra e França. O resultado traduz-se numa atmosfera clássica e elegante, banhada a azul escuro mas, em contraste, com muita luz natural graças às generosas janelas.
Onde? Rua Câmara Pestana 23, Lisboa. Quando? Todos os dias das 11h às 23h30. Menu de almoço e de jantar das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h30; menu executivo de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 15h. Reservas: 218 099 132
Mattë Lisboa
De fora, ninguém diz que este restaurante tem o charme que realmente aparenta no seu interior. Com duas barras à mostra, onde podemos sentar ao balcão ou escolher a mesa, é um dos novos sítios da cidade que alia a sofisticação da cozinha nipónica à portugalidade. Atrás do balcão e a coordenar a cozinha com sabedoria temos o chef Habner Gomes, dedicado a conquistar uma distinção Michelin com este fine dining em Santos.
À medida que avançamos na carta, percebemos que aqui há um cuidado em fazer jus à tradição desta cozinha, não cedendo à fusão. Há niguiris com os peixes mais frescos do dia - do camarão do Algarve ao lírio dos Açores, às vieiras Hokkaido do Japão, e ainda ao atum Balfego de Espanha - mas também gunkan, sashimi, hosomaki e uramakis. Destacamos o prato-estrela da carta, uma ousadia do chef: pescoço de lírio. Uma parte surpreendentemente suculenta deste peixe, servido no prato como última revelação (vale a pena só por ele!). O menu de degustação, que conta com 12 momentos, custa €125 (sem bebidas).
Onde? Calçada Marquês de Abrantes 22, Lisboa Quando? Das 12h30 às 23h (fecha à 00h30 às sextas-feiras e abre apenas para jantar ao sábado, até à meia-noite e meia; encerra ao domingo e segunda-feira). Reservas 914 682 234
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