Um hotel de luxo, uma pastelaria-boutique e uma mezzanine cool. É já ali, no Chiado
O Bairro Alto Hotel acrescentou novidades à carta da sua elegante pastelaria. Com propostas lusas de variações curiosas e bestsellers internacionais, todos os bolos, doces e salgados contam uma história.
A pastelaria-boutique do Bairro Alto Hotel permanece indiferente à urgência típica de uma sexta-feira, ainda para mais numa zona tão central como é a Praça Luís de Camões. O luxuoso hotel de cinco estrelas completa 18 anos em 2023 e ocupa agora – com a profunda remodelação que sofreu mesmo antes da pandemia – um quarteirão inteiro, com direito a três prédios e uma entrada estratégica pela Rua do Alecrim.
Lá dentro, por entre tetos altos, janelas rasgadas e madeira escura sofisticada, sobressai um silêncio típico em hotelaria de luxo, mas menos comum na pastelaria convencional. "A ideia foi proporcionar algo diferenciador em Lisboa. Nenhum hotel acaba por ter uma montra de pastelaria de rua", começa por contar a chef pasteleira Maria Ramos, a propósito da nossa visita naquela tarde, para conhecer a nova carta lançada em fevereiro.
Abrem às 10h, mas a equipa começa a trabalhar duas horas antes. Na verdade, o dia inicia-se de véspera, um preparo necessário para que a massa fique a descansar. Na manhã seguinte, fazem-se os bolos todos de raiz, saem as fornadas e compõe-se a montra, qual vitrine de joalharia onde cada peça tem o seu protagonismo. Por entre doces e salgados, a seleção é sucinta - é propositado.
Uma pesquisa de meses permitiu a apresentação de uma proposta gastronómica que juntasse o melhor dos dois mundos: referências nacionais e internacionais, no caso. "Sempre lutámos ao máximo por uma carta de bolos muito portuguesa, mas estava a ser um entrave para os estrangeiros provarem", explica-nos a chef. Agora, conseguiram uma combinação que inclui tanto favoritos lusos, sob variações muito próprias, como produtos bastante apreciados lá fora.
Desta forma, ao pastel de nata passível de se degustar à colher ou às merendas folhadas com queijo açoriano, por exemplo, juntam-se agora os rolos de canela e mel ou cinnamon rolls com um twist em semelhança aos folares de Olhão, mas também um preferido cosmopolita, o donut americano, nas versões de iogurte, pistáchio e chocolate branco e também chocolate negro e flor de sal. De facto, cada doce, salgado ou "híbrido" conta uma história e mais tempo houvesse para nos deliciarmos a saboreá-las. O chocolate dos donuts é produzido e fabricado em Montemor; a especiaria usada no rolo de canela, a alcaravia, é ótima para a digestão e foi descoberta numas férias em Marraquexe (só há um sítio em Portugal onde a encontrar); a massa do jesuíta é somente recheada depois de cozida, por uma razão muito especial. Há ainda bolas de berlim com creme de ovos, empadas de frango em vinha d’alhos, e claro, pão de Deus – simples, com fiambre, queijo ou misto, e com uma massa de brioche baunilhada ou com toque de limão e leite de coco no topo, mas sempre com um baixo teor em açúcar.
É também aqui que a chef Maria Ramos, sob direção do chef Bruno Rocha, responsável pela restauração e bebidas do Bairro Alto Hotel (que incluí ainda o restaurante BAHR, um rooftop e um bar), quiseram inovar. É que para além de uma montra-boutique pensada e selecionada a preceito com fabrico próprio e a busca por um menor desperdício (os bolos estão também disponíveis para consumo para os hóspedes), a equipa primou pelo equilíbrio de açúcares, em receitas tradicionalmente carregadas nesse aspeto, tudo muito conseguido pelos aromáticos, os referidos limão e baunilha, mas também canela, laranja, entre outros.
Segue-se uma carta de bebidas, a quente ou frio, criada para estar em comunhão com a vitrine. Há chás e infusões da Compagnie Coloniale, chocolate quente e ginjas, uma incrível limonada de pepino e gengibre gaseificada a Pellegrino, cervejas artesanais e lattes, mas sobretudo um mundo de café de especialidade ainda por explorar. Rodrigo Tavares, o barista que nos acompanha nesta incursão, mostra-se em êxtase. Há um lote criado exclusivamente para o Bairro Alto Hotel, com assinatura The Royal Rawness, mas o melhor é mesmo deixar-se levar pelo atendimento personalizado.
Por fim, três hipóteses para a degustação de tudo: fazer uma encomenda e levar para casa, sentar-se num dos sete lugares ao balcão de mármore no piso térreo, com vista para a capital ou, a nossa favorita, aproveitar a mezzanine do primeiro piso, um género de sala de estar com candeeiros a meia-luz, sofás de veludo e muita intimidade quer para trabalhar confortavelmente, como para uma reunião de negócios ou entrevista de emprego. Aconteceu de tudo, enquanto lá estivemos.
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