Ljubomir analisa os seus 10 vinhos de edição limitada, um a um
Da cozinha, para a televisão, para a adega. Eis o percurso do mediático Ljubomir Stanisic, que virou “cheirista” e criou dez vinhos em parceria com produtores e amigos. Reuniu-os na marca Mestiço, “que tanto pode ser branco ou tinto, mas sempre sem preconceitos”.
Alguém disse um dia que a alegria reside sobretudo no inesperado, e a verdade é que não estávamos à espera de encontrar tantos vinhos fora da caixa nem tão saborosos. Os 10 vinhos de Ljubomir são, de facto, uma bela surpresa.
O famoso chef lançou uma marca de vinhos com dez referências, entre brancos e tintos, de norte a sul do país – e já prometeu que não vai ficar por aqui. Em comum, o facto de terem sido criados pelo seu "nariz" e por alguns "amigos", como Mateus Nicolau de Almeida e Teresa Ameztoi, da Mateus Nicolau de Almeida; Luís Louro e Inês Capão, da Adega Monte Branco; ou Luís Pedro Cândido, Dirk e Daniel Niepoort, da Niepoort.
Os nomes dos vinhos são curiosos e um deles é mesmo Curioso. Os outros são Amoroso, Atrevido, Bravo, Bruto, Maduro, Perigoso, Sólido, Viçoso e Raro. Adjetivos que pretendem não apenas caracterizar o vinho, mas também as muitas facetas de Ljubomir, como tão bem conhecemos da televisão.
Não será o primeiro chef a fazer vinhos, nem estes são sequer os seus primeiros vinhos. Parece que começou há mais de 15 anos e o Viçoso, por exemplo, existia com o nome de Éclair e já o fazia com os Niepoort, mas a esmagadora maioria são, de facto, novidades e reunidas numa marca, pensadas com uma certa lógica e como um todo. Antes de aqui chegarmos, no entanto, temos de agradecer a Dirk Niepoort por tê-lo posto "no caminho certo".
Tudo começou há um tempo atrás…
Mais ou menos na viragem do milénio, Ljubomir descobriu que tinha jeito para "cozinhar" vinhos, bastava juntar os ingredientes (castas) na medida certa, pelo que foi falar com Dirk Niepoort, como começa a explicar: "eu cheio de confiança e o Dirk olha para mim e diz-me ‘filho, se queres fazer vinhos, primeiro tens de aprender a fazê-los. Tens de estagiar em vindimas, tens de trabalhar em adegas, tens de perceber o processo. Depois, se ainda quiseres, podemos voltar a falar’. Foi o que fiz, viajei muito, visitei muitos produtores, estagiei em vários, como o Château Lafite e a Marcel Deiss, na Alsácia, e fui trabalhar com o Daniel para a Alemanha." A questão, continua, "é que fazer lotes de vinho é uma paixão que foi crescendo e que passa muito por poder ter estes projetos em conjunto com amigos".
Assim chegámos à Mestiço. Para esta primeira seleção, temos três vinhos feitos em conjunto com os Niepoort. O Viçoso, que é um vinho muito fácil de beber, muito guloso, "é um vinho glu glu" brinca. Um branco assim como o Bravo, este de 50% Rabigato, temperado por várias castas (Códega de Larinho, Arinto e Viosinho), mais ou menos em partes iguais. Um vinho com mais volume de boca, tal como o Maduro, este tinto. Muito elegante, taninos finos, e muita dimensão.
Não foi amor à primeira vista, mas foi amor ao primeiro vinho
Se com os Niepoort a amizade é antiga, com Luís Louro e a enóloga, Inês Capão, não se conheciam. As primeiras impressões foram mistas – e parece que acabaram com Ljubomir a atirar os mocassins de Luís para cima de um telhado. Ainda assim, não terão corrido tão mal que não valessem um convite para visitar a adega do Monte Branco numa primeira oportunidade. Mónica Franco, mulher de Ljubomir e parceira neste projeto, recorda-se de o ver a misturar lotes de diferentes barricas e Luís Louro "seguramente a pensar, como bom alentejano, ‘mas que piiii é que este piiii está a fazer?’’ Mas quando os blends vieram para a mesa foi uma surpresa total, e "os vinhos faziam todo o sentido".
Foi assim que nasceu o Curioso, um branco alentejano com toques de laranja e mel. O Perigoso, um tinto complexo de várias castas ao qual não falta sequer uma percentagem de branco. O Amoroso, um grande do Alentejo, daqueles cheios de carácter e potência, em capote de veludo. O Atrevido, um branco gordo, com uma nota tão salina que parece ter sido feito junto ao mar e não em Estremoz. Muito gourmet. E o Raro, um 100% castelão, que estagiou numa talha realmente antiga, datada de 1863 e não pesgada. Um blend de dois anos, 20 e 21. Provavelmente irrepetível.
Com Mateus Nicolau de Almeida (quinta geração no Douro) e a mulher, a enóloga catalã Teresa Ameztoi, fez um branco e um tinto. Vinhos que refletem a dinâmica do casal, mais focado na biodinâmica e na experimentação. Temos assim um Bruto, que não é espumante e também se podia chamar Intrigante, por ser tão difícil de perceber − feito com três rabigatos de diferentes parcelas e fermentação espontânea e sem controlo de temperatura. Uma montanha-russa em forma de vinho. O tinto é mais "Sólido". Feito a partir de três parcelas de vinhas velhas, aromas a frutos vermelhos bem vincados e muita frescura. Duas grandes surpresas.
Outra coisa que Ljubomir aprendeu com o "Papi" Niepoort, foi "a lançar os vinhos para o mercado apenas quando estavam prontos", por isso não vamos encontrar nada de 2022 ou 23, mas mais 18, 19 e 20. São todos edições limitadas, geralmente poucas centenas de garrafas, por isso vamos ter muita rotatividade entre os vinhos, produtores e até nos nomes, à medida que cada lote se esgota. Aliás, mal podemos esperar pelas cenas dos próximos capítulos, onde parece que vamos ao Dão, aos Açores e ainda haverá uma grande surpresa da Bairrada. Afinal, ser mestiço é ser tudo isto…
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