4 vinhos e as suas histórias: Um Alvarinho cultivado há anos, um duriense de castas locais, um tinto com história e um branco “jovem”
Começa o mês onde se preparam as vindimas. Porém, em muitas regiões algumas já se antecipam para agosto, cada vez mais sujeitas às alterações climáticas. A hora é de organizar equipas e definir metas.
Soalheiro Primeiras Vinhas 2023
O branco de Monção e Melgaço conta a história de 50 anos quando em 1974 que a família Cerdeira plantou a primeira vinha contínua de Alvarinho em Melgaço, numa parcela chamada Soalheiro. O Primeiras Vinhas nasceu nesta vinha em 2006 e esta nova colheita é uma edição comemorativa.
Para esta gama, a Soalheiro integra uma seleção de vinhas, "todas com mais de 30 anos espalhadas pelo território, cuidadas por algumas das mais de 180 famílias que fazem parte do Clube de Viticultores da Soalheiro". A vindima é feita manualmente e a fermentação ocorre principalmente em inox, com 15% do volume total fermentado em barricas usadas, num foudre e num tonel de grandes dimensões. A produtora explica que "a filosofia é manter o vinho em contacto com as borras através da bâtonnage, dando-lhe uma maior estrutura e um caráter diferenciado".
Maria João Cerdeira sugere uma menor ou maior temperatura, de 8 a 14 graus, combinando-o, por exemplo, com marisco, todos os tipos de peixe, carne branca, queijo curado, carne fumada ou pratos da cozinha asiática e mediterrânica. Com um preço de 18,50 euros, o Primeiras Vinhas é apontado como tendo um enorme potencial de evolução em garrafa, mas dada a jovialidade e frescura também se justifica bebê-lo brevemente.
A responsável pela Soalheiro salienta que este branco "tem o objetivo de valorizar as vinhas mais antigas de Alvarinho", acreditando que "nos próximos 50 anos a junção entre o cuidado familiar e o estudo aprofundado do ecossistema das parcelas vai valorizar ainda mais a diversidade do Alvarinho em Monção e Melgaço". Maria João Cerdeira conclui que "as condições naturais únicas – um vale rodeado de montanhas – e a diversidade da viticultura familiar têm uma influência determinante no Soalheiro Primeiras Vinhas.
Pessegueiro Colheita Branco 2023
A quinta duriense lançou este vinho proveniente de uma mistura das castas Rabigato, Viosinho e Gouveio, vindas de parcelas do Cima Corgo. O enólogo João Nicolau de Almeida refere que o objetivo foi "fazer um blend no qual a casta rainha fosse o Rabigato, casta autóctone e muito antiga na região, e que resultou num vinho com muita mineralidade, sabor, frescura e vivacidade".
O diretor técnico, Hugo Helena, explica que "as uvas são transportadas em caixas de 22 quilos até à adega e ficam 12 horas em câmara frigorífica, parcialmente esmagadas e prensadas em prensa vertical". O responsável acrescenta que "a fermentação é natural com leveduras indígenas e o estágio do vinho com borras finas é feito em pipos de 600 litros (30%) e em cubas inox (70%).
Para o Pessegueiro Colheita Branco, engarrafado em março 2024, a aposta no Rabigato, segundo o enólogo, também aconteceu pelos "aromas cítricos e minerais, com uma excelente acidez".
João Nicolau de Almeida refere que "o ideal será servi-lo a uma temperatura entre os 10 e os 12 graus e, como um vinho bastante leve e fresco, consegue-se beber facilmente sozinho ou harmonizá-lo com pratos leves, como saladas frias, e pratos de peixe ou de carne grelhada.
Com um preço de 12 euros, Nicolau de Almeida sugere o consumo "em breve devido a sua frescura e leveza, embora possa ser interessante acompanhar a sua evolução devido à sua acidez". Hugo Helena salienta que "é um vinho muito equilibrado, com boa acidez que representa muito bem o perfil das parcelas da Quinta do Pessegueiro, bem como das castas usadas". O responsável diz que "é um vinho feito a pensar em consumidores diversos e que agrada a todos". No que diz respeito ao terroir, o diretor técnico explica que as uvas "são provenientes das parcelas situadas a uma altitude entre 250 e os 550 metros, de solo xistoso, viradas a norte". Hugo Helena conclui que a casta Rabigato "necessita de muito calor para a sua maturação fenólica e alcoólica, mas, no entanto, a boa acidez que possui resulta num bom equilíbrio".
Quinta da Vacaria Ah! Galego
O enólogo João Menezes surpreendeu-se com a qualidade da uva de duas ou três parcelas de moscatel galego a 600 metros de altitude "que proporcionou um vinho mais fresco e dinâmico".
Para este branco, desde o início que a casa apostou numa imagem e conceito disruptivos com uma cápsula, em vez da tradicional rolha, para chegar a um público mais jovem, para que seja possível "usufruir do vinho de forma fácil e descomprometida", refere. A imagem surge de um desafio lançado à "Sparrow Creative Solutions", de Pedro Antunes, para que concebesse a imagem do Ah Galego!"
Uma das maiores dificuldades de o fazer foi, segundo o enólogo, "manter a consistência de qualidade tendo em conta acima de tudo as questões climáticas".
João Menezes refere que este monovarietal de moscatel galego deve ser servido a uma temperatura de 8 a 12 graus e "vai muito bem sozinho, com uma boa conversa e boa música, mas combina bem com grelhados especialmente de peixe". O preço de 17,50 euros foi decidido tendo em conta a relação entre custos de produção que o Douro que o enólogo garante "sempre muito elevados".
João Meneses refere que "o vinho tem potencial de longevidade, contudo, os primeiros três anos mostram a sua verdadeira frescura com aromas e sabores apetecíveis em qualquer altura do ano". Considera que se distingue "pelo aroma e pela acidez" e foi feito para "quem aprecia vinhos bons e fáceis de beber".
O Fugitivo Baga Vinhas Centenárias 2018
Paulo Nunes, enólogo na Casa da Passarella, referencia este tinto como tendo nascido de "uma ligação umbilical da casta Baga com a região do Dão", de resto, "a origem da casta onde se encontra uma variabilidade genética de maior expressão". Dada a importância, a vinícola considerou "quase obrigatório" existir este vinho numa casa também ela centenária. O enólogo explica que o vinho "é feito como há um século, elaborado em lagar de granito com engaço total, fermentação espontânea, extrações muito suaves após início de fermentação".
Relativamente ao envelhecimento, o Fugitivo estagiou três invernos em tonel de 2500 litros. Paulo identifica a viticultura como a principal dificuldade uma vez que "a casta requer muita atenção na vinha, é muito sensível a doenças de origem fúngica e, no período final de maturação, é muito sensível às possíveis chuvas do equinócio".
O enólogo sugere a degustação, dependendo se é a solo ou não, entre os 14 e 17 graus. Propõe ainda um acompanhamento que pode passar pelos pratos de peixe gordo ou de caça. O preço que ronda os 32 euros é decidido pela gama onde se insere que tem como inspiração, segundo o enólogo, "o lado mais criativo, o que, muitas vezes, passa por um regresso ao que já se fez num passado longínquo".
Paulo Nunes garante que é um vinho para beber já, "mas seguramente para guardar", sendo que a longevidade "é uma das características intrínsecas da casta Baga". O responsável salienta que a variedade "remete para um Dão clássico que traz à memória grandes vinhos (ainda hoje) da década de 60". O vinho, acrescenta, aponta "para um consumidor enófilo com uma cultura vínica forte e uma vontade profunda de aprendizagem, de evolução de conhecimento". Quanto à influência do terroir, o responsável pela enologia destaca as condições edafoclimáticas da Serra da Estrela, "ímpar em todo o território nacional". Paulo Nunes não tem dúvidas que "toda esta condição de clima, solo e casta, interpretado por um saber fazer vinho secular, implica um vinho de puro terroir".
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