Prazeres / Sabores

Meat the Whisky Maker: uma boa conversa e whiskies de excelência

Encontrámo-nos, no Tivoli Vilamoura, com o embaixador global da Glenfiddich, que passou por Portugal para apresentar os seus whiskies de uma maneira original e despretensiosa. Tudo durante um jantar recheado de boa conversa.

Foto: Pexels
Ontem às 22:44 | Diego Armés

Na época futebolística de 1982-83, um pequeno clube escocês fez história na Europa do futebol. O Aberdeen Football Club ganhou, primeiro, a Taça dos Vencedores das Taças diante do Real Madrid na final (2-1, após prolongamento) e, depois, no tira-teimas europeu, conquistou a Supertaça Europeia diante do campeão da Europa Hamburgo (0-0 na Alemanha, 2-0 na Escócia - a Supertaça jogava-se a duas mãos.

A que propósito vem o pequeno, porém poderoso, Aberdeen de 1982-83? É que a memória desse Aberdden é uma das mais queridas que o escocês Struan Grant Ralph preserva, pelo que faz questão de a partilhar com aqueles com quem conversa: orgulhoso, fala do seu lendário Aberdeen de outros tempos, que levou de vencida até os poderosos Real Madrid - e, pelo caminho até à final, deixou também para trás o gigante Bayern Munich.

O embaixador

Struan Grant Ralph é o embaixador global da Glenfiddich, mítica destilaria de whisky escocês. Só que, para Ralph, falar sobre whisky não é apenas falar acerca da casa que representa, é muito mais do que isso. Desde a história do próprio whisky, enquanto bebida destilada cuja existência quase milenar está envola no nevoeiro das Isles escocesas, que acolheram frades irlandeses que aí se recolheram e refugiaram, até à língua dos escotos (o povo original da Escócia), que Ralph também sabe falar, passando por episódios relacionados com a gastronomia local ou, como sublinhado no início do texto, à sua equipa de futebol, todos os temas de conversa são bons temas quando se está na presença de Struan, porque se trata de um extraordinário conversador.

Meating

O motivo do nosso encontro com o embaixador global da Glenfiddich é um evento de caráter excecional, tanto no que concerne à qualidade como no que respeita à qualidade. Trata-se do Meat (é mesmo assim, M-E-A-T, uma brincadeira com "conhecer" - meet - só que com "carne" - meat - na ementa) the Whisky Maker, um "whisky dinner" promovido pelo hotel Tivoli Marina Vilamoura. Trocando por miúdos, é um jantar de carnes cujo paring é feito com cocktails à base de whisky. Antes de saborearmos os cocktails, é-nos dado a provar cada um dos whiskies que a Glenfiddich escolheu para apresentar de uma maneira inovadora e criativa.

Essa prova consiste sempre em dois momentos: um, primeiro, com o whisky em estado puro; o segundo, para provar depois de aberto com uma gota de água. O objetivo é perceber as diferenças e compreender a importância da gota de água na libertação dos aromas e sabores mais complexos guardados num whisky velho. Para quem nunca testou, fica a sugestão, porque o pequeno gesto faz, de facto, toda a diferença.

Ementa

Struan Grant Ralph contou com a ajuda da equipa do Argo Cocktail Bar e do Pepper’s Steakhouse para apresentar vários whiskies Glenfiddich, alguns deles de edições muito especiais. Não só os cocktails fizeram excelente pairing com a comida, como o próprio menu de jantar se revelou inventivo. Para começar, um carpaccio de carabineiro guarnecido com caviar, lima kaffir e flor de sal.

Carpaccio de carabineiro, um dos pratos servidos durante o jantar.
Carpaccio de carabineiro, um dos pratos servidos durante o jantar. Foto: DR

O cocktail que acompanhou o prato tinha na sua base o Glenfiddich 18 anos, que se misturava com licor de whisky, hortelã, aipo, soda de azeitona e folha Kimone. Morder a folha Kimone ajudava, em conjunto com a hortelã e a azeitona que adornavam o copo, a abrir o palato.

O cocktail que acompanhou o prato tinha na sua base o Glenfiddich 18 anos.
O cocktail que acompanhou o prato tinha na sua base o Glenfiddich 18 anos. Foto: DR

Seguiu-se o Pregado, com broa de milho e cremoso de sriracha. Fez pairing um cocktail com Glenfiddich Ipa, espumante, Ladano, cedro e especiarias. O Glenfiddich IPA é um whisky incomum, que já não se encontra à venda. Envelhecido durante 6 meses num casco IPA, resultou de uma experiência da destilaria em 2015.

Um Chateaubriand de Rúbia Galega, puré pastinaca, trufa, ervilha fumada e molho moscatel. Delicioso. No copo, Glenfiddich Fire & Cane, moscatel roxo e Palo Santo em copo pincelado com manteiga de amendoim e pó de ouro.
Um Chateaubriand de Rúbia Galega, puré pastinaca, trufa, ervilha fumada e molho moscatel. Delicioso. No copo, Glenfiddich Fire & Cane, moscatel roxo e Palo Santo em copo pincelado com manteiga de amendoim e pó de ouro. Foto: DR

O primeiro prato de carne chegou em seguida e resultou num dos momentos mais memoráveis da noite. No prato, um Chateaubriand de Rúbia Galega, puré pastinaca, trufa, ervilha fumada e molho moscatel. Delicioso. No copo, Glenfiddich Fire & Cane, moscatel roxo e Palo Santo em copo pincelado com manteiga de amendoim e pó de ouro. O cúmulo do requinte, sem descurar nunca o sabor e a beleza de toda a combinação. O Glenfiddich Fire & Cane é uma edição muito especial de um whisky peated, ou seja, um whisky destilado em lume de turfa. A turfa é um material formado a partir dos sedimentos vegetais que se acumulam ao longo de milhares e até milhões de anos em zonas específicas, normalmente à beira de lagos ou em pântanos drenados. Quando seca, torna-se matéria combustível - uma espécie de carvão para um lume muito brando e com um aroma acentuado, muito característico. O whisky peated herda esse aroma, que se incorpora maravilhosamente no próprio destilado. O prato, em conjunto com o cocktail, desencadeia uma tempestado de sensações, com os seus aromas e sabores fortes, fumados, doces, tostados, em suma, um robusto festim para o palato.

Depois do Chateaubriand, só podia vir a sobremesa, um brulée - leite creme, gelado de chocolate branco e esferas de citrinos. Para acompanhar esta verdadeira bomba, um cocktail com Glenfiddich 21, licor banana brasil, vinho Madeira 10 anos e telha em chocolate branco e fava tonka com notas de citrinos. Complexo. O Glenfiddich 21, envelhecido em cascos de rum durante 6 meses, é maturado ao longo de 21 anos até ganhar as notas que o tornam sofisticado a este ponto.

O Glenfiddich 21, envelhecido em cascos de rum durante 6 meses, é maturado ao longo de 21 anos até ganhar as notas que o tornam sofisticado a este ponto.
O Glenfiddich 21, envelhecido em cascos de rum durante 6 meses, é maturado ao longo de 21 anos até ganhar as notas que o tornam sofisticado a este ponto. Foto: DR

Para finalizar, um "Charuto de Chocolate": chocolate brazil, chocolate gold e petazetas de chocolate rubi. Ideal para acompanhar café e, claro, o último whisky da noite. Este não entra em cocktail, chega a solo. É o Glenfiddich 23 anos, a obra-prima. "Se alguém disser que não gosta de whisky, sirvam-lhe isto!", exclama Struan Grant Ralph exibindo a garrafa. É o Glenfiddich do futuro. Raríssimo. Após 23 anos a amadurecer em cascos de carvalho europeu e americano, finaliza em barricas raras de carvalho francês Cuvée, onde estagiaram as melhores bases para produção de Champanhe, durante um período máximo de 6 meses, o que lhe confere um aroma floreado e notas de brioche.

Após 23 anos a amadurecer em cascos de carvalho europeu e americano, finaliza em barricas raras de carvalho francês Cuvée.
Após 23 anos a amadurecer em cascos de carvalho europeu e americano, finaliza em barricas raras de carvalho francês Cuvée. Foto: DR

Nota final

Se dúvidas houvesse de que o whisky pode servir para elaborar alguns dos melhores cocktails da atualidade, elas terão ficado desfeitas durante este "Meat the Whisky Maker"(o nome remete também para a designação das noites especiais organizadas pelo Tivoli Carvoeiro, Meet the Wine Maker, em que produtores portugueses apresentam os seus néctares em jantares temáticos). Para os mais puristas, o Glenfiddich simples, com uma gota de água, será sempre o melhor. E percebe-se porquê. Além de ser um gosto que não se discute, estes - todos estes - são whiskies de elevadíssima qualidade. Também se conclui deste jantar que a boa companhia à mesa é mesmo essencial. E o embaixador global da Glenfiddich foi o melhor anfitrião que se podia desejar para este tipo de encontro. Resta desejar que o seu Aberdeen regresse em breve aos bons, velhos tempos de glória.

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