Akla e Eddy Melo. Um açoriano em Lisboa
Aos 67 anos, o chef evoca as memórias gastronómicas das suas raízes, Terceira e São Miguel, nos Açores, para criar um alinhamento especial no restaurante do hotel InterContinental Lisbon. Os ingredientes, esses, viajam de lá para cá.
Junto ao Parque Eduardo VII, acomodamo-nos no restaurante Akla do Inter Continental Lisbon, onde temos a oportunidade de conversar com parcimónia com o Eddy Melo, mesmo antes da azáfama da hora de almoço. "A minha intenção era fazer um livro, mas tornou-se um tanto complicado e com o conhecimento que tinha optei por este menu", começa por desvendar o chef executivo de 67 anos sobre o novo menu Açores, razão da nossa visita ao Akla. "É mais ou menos uma viagem pelas duas ilhas. Nasci na Terceira, a minha mãe é de lá e aos cinco anos fui para São Miguel, a terra do meu pai. E depois para a América do Norte, Canadá [onde fiquei 25 anos]", continua o chef que ainda teve uma passagem breve por um resort privado na Jamaica, estabelecendo-se no continente em 1993, onde permanece até hoje. Uma vida cheia tal como a proposta que nos traz hoje.
O menu apresenta-se à carta, em seis pratos: quatro principais e duas sobremesas. Começamos pelo arroz malandro com algas dos Açores, fava e alface do mar, queijo de São Jorge de 36 meses, abóbora e cenoura bio assada com mel e anona (€19). Este foi o favorito: cremoso e com as cores da natureza, bonito no prato e morno ao paladar. "Mandei vir sete ou oito qualidades de algas. Nem todas são aptas para o arroz. Umas são demasiado duras, outras desfazem-se", conta-nos a propósito da saga que foi toda a experimentação e fase de testes. "Primeiro o produto vem [todo dos Açores], mas para equilibrar o que quero, tenho de prová-los um a um… no caso das algas, a cru e depois cozinhadas".
Mas se as algas foram malandras como o arroz, o prato que lhe deu mais gosto criar foi mesmo o chicharro dos Açores recheado com inhame das Furnas e morcela grelhado a carvão zero (€32). "Para a maior parte das pessoas é um peixe banal. Não é. Estes chicharros são de quilo. São limpos e só depois retiramos um bocadinho do lombo, o que depois é servido", desvenda enquanto prossegue nos segredos para a mistura com o inhame e a morcela.
Também a lula e o atum saíram, no seu juízo final, com os paladares todos, referindo-se às restantes opções de lula fresca grelhada a carvão zero com mousseline de batata com coentros, molho vilão, limão galego e pico de galo (€28) e o lombo de atum patudo de São Miguel grelhado com pimento banana e batata doce assada (€32). Acenamos em concordância, de boca cheia.
Nesta viagem gastronómica pela Terceira e São Miguel, a proposta não passa pela carne, caso se esteja a questionar por esta altura. É propositado, "não temos pratos de carne. Temos alcatra, mas é verão, não é o momento de pôr um prato de alcatra [seria muito pesado]. Vamos passar a estação quente e perceber como corre", clarifica o chef enquanto denota a qualidade do produto, contando como nas ilhas é fácil um bife de novilho brilhar a solo só com pimenta e um pouco de alho.
No final, as sobremesas. Na dúvida provámos as duas. O bolo micaelense, com cremoso de chá de Gorreana de São Miguel e sorbet de anona (€10), mais consensual, e o inesperado ananás dos Açores grelhado com espuma de queijo da ilha picante e sorbet de araçal (€10). "Quem já foi aos Açores perceberá melhor o menu, evidentemente", conta enquando se junta à mesa para perceber a reação a esta última sugestão, uma verdadeira explosão de sabores.
Num futuro próximo, Eddy Melo não esconde o desejo de se aventurar gastronomicamente arquipélago fora: "Passar para outras ilhas? Já visitei várias. Provavelmente seria uma opção, depende da adesão e de como tudo for feito". Afinal, "a maioria dos portugueses e do mundo só conhece a Madeira, mas pós pandemia fez sentido uma grande parte visitar os Açores. Mais natureza, mais perto, não tanta população", revela em discurso pensativo. Para já, o seu objetivo próximo é que os comensais sintam todos os paladares de lá e que sim, que isso lhes provoque uma curiosidade maior para visitar a sua terra natal.
View this post on Instagram
De momento, o Akla mantém a carta anterior pelo que o novo menu Açores poderá ser degustado, em simultâneo, ao almoço e jantar, durante os próximos meses, ou pelo menos até ao final do verão.
Onde? Rua Castilho 149D, Lisboa. Quando? Todos os dias das 12h30 às 15h e das 19h às 22h30 Reservas: 213 818 700
2 Monkeys. Alta gastronomia servida ao balcão
Jantar neste restaurante é uma sucessão de agradáveis surpresas, ao ponto de não termos receio em afirmar que esta é a nova morada obrigatória de Lisboa.
SUD Lisboa: Vida boa com vista de rio
Inaugurado em julho de 2017, o SUD Lisboa acaba de fazer seis anos e esta é a altura do ano em que somos mais felizes na sua piscina sobre o Tejo, ou a saborear sem tempo uma bela refeição com muito horizonte.
Suba acaba de ser premiado e tem novos pratos
Fomos conhecer os novos sabores da carta do restaurante do hotel Verride Palácio Santa Catarina.
JEZZUS, uma pizzaria artesanal com produtos portugueses premium
No bairro dos Anjos, em Lisboa, abriu um restaurantes com farinhas portuguesas e ingredientes de produtores locais, com as combinações mais improváveis (e tradicionais) de sempre.
Yoshinobu Kimura, um dos sommelier mais prestigiados do mundo, vem a Portugal
Para um jantar exclusivo que acontece no restaurante Casario, no Porto, a 27 de junho.
Sabores portugueses distinguidos em concurso internacional
Licor de ginga, mel e pão de ló foram apenas alguns dos produtos artesanais que se destacaram entre milhares de candidatos no Great Taste 2023.
O chef Alexandre Silva está "on fire" na Ericeira
Já sabíamos que o chef é Loco por cozinhar no fogo, mas isto suplanta todas as expectativas. E há um lugar reservado para si.
Um rally gastronómico à vista nos Açores
Até dia 3 de março está a decorrer a iniciativa "Rota Açores – Nove Ilhas, Um Arquipélago Gastronómico", cujo objetivo é dar a conhecer as melhores receitas e produtos da ilha. Aderiram 23 restaurantes, em seis das nove ilhas, e cada um criou um menu exclusivo.
O emblemático guia gastronómico volta a Portugal, agora em versão digital, menos elitista e mais próximo de todos. Vai distribuir “Soís” (um, dois ou três) aos restaurantes e prestigiar o melhor da cozinha portuguesa.
No Convento do Beato, em Lisboa, premiou-se o talento nacional no que respeita à gastronomia, ao mesmo tempo que se assinalou o empoderamento feminino, com o cocktail e um jantar de gala exclusivamente criado por quatro chefs portuguesas: Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares.
A história do “prego” parece vir da Praia das Maças e de uma tasca gerida por Manuel Dias Prego que começou a servir carne dentro do pão. O petisco rapidamente se generalizou pelo país.
Um Pinot Noir sem nada a temer dos borgonheses, um espumante que não é branco nem rosé, mas Baga, e três vinhos de terroir de vinhas muito velhas. A Casa da Passarella foi ao passado abrir caminho para os vinhos de amanhã, e o resultado é francamente especial.