Prazeres / Sabores

4 vinhos e as suas histórias: Dois tintos, um branco e um generoso, de Norte a Sul

Um mês com pouco trabalho na vinha, mas já com os olhos postos na poda que se aproxima. Para conferir, dois tintos de zonas nobres, um, branco de uma casta mal-amada e um novo fortificado, mas com tradição.

Foto: DR
30 de novembro de 2023 | Augusto Freitas de Sousa

Quinta de Monforte Azal 2021

A casta Azal, típica da região dos Vinhos Verdes, é especialmente cultivada nas sub-regiões de Amarante, Basto, Baião e Sousa. A Quinta de Monforte em Penafiel lançou agora o seu "Azal superior branco" que, segundo o enólogo da casa, Francisco Gonçalves, tem "características mais ácidas, de baixo grau alcoólico, de cor aberta, agradável e fresco". Explica que a casta é normalmente utilizada em vinhos de lote e "historicamente, tem sido pouco valorizada".

O responsável revela que na Quinta de Monforte perceberam um equilíbrio muito interessante entre álcool e acidez e consideraram "que teria capacidade para envelhecer bem em barrica", pelo que o colocaram em barricas de 500 litros, "para não marcar muito o vinho, mas para lhe dar longevidade e complexidade". Para o enólogo o maior desafio foi "encontrar a maturação perfeita para atingir os objetivos". Acrescenta que o vinho "é feito pela qualidade da uva e do seu terroir" com pouca intervenção. Explica ainda que "a interação da barrica e o seu período de estágio de 12 meses criam um vinho diferenciado, associado às características intrínsecas do lugar".

Quinta de Monforte
Quinta de Monforte Foto: DR

Francisco Gonçalves sugere uma temperatura intermédia alta, em torno dos 12, 13ºC. podendo beber-se "sozinho e acompanhado". Com comida, avança, "deve ser associado a pratos mais fortes, com alguma gordura, peixe gordo assado, carnes vermelhas – é um vinho que tem excelente frescura e acidez, volume, que consegue aguentar pratos mais fortes e gordos ou queijo".

O branco, vendido a €26 , pode-se se beber brevemente, mas o enólogo salienta que tem uma grande capacidade de guarda. Refere que "apesar de ser produzido nos Vinhos Verdes, é um vinho muito mais harmonioso e encorpado". Francisco Gonçalves acredita que "é a região que tem maior potencial para a produção de grandes vinhos brancos onde se consegue ter grande potencial de envelhecimento, associado à acidez e frescura e, a par, uma intensidade de forma natural".

Crasto Altitude 430 - 2021

A colheita de 2021 do Crasto Altitude é a terceira edição deste vinho produzido pela Quinta do Crasto no Douro. O administrador da empresa, Tomás Roquette, recorda que a primeira colheita aconteceu quase como um projeto experimental, "em menores quantidades, mas a resposta positiva do mercado ditou a sua continuidade e o alargamento da produção".

Quinta do Crasto no Douro
Quinta do Crasto no Douro Foto: DR

Relativamente à produção do vinho, Roquette explica que a base é comum às restantes referências, porém, "a criação do Crasto Altitude tem algumas particularidades, nomeadamente, ao nível da viticultura, da escolha das castas e da sua localização". O administrador explica que "a vinificação é também diferente do habitual, com as uvas selecionadas a serem ligeiramente esmagadas e transferidas para cubas de fermentação em aço inox com controlo de temperatura, onde fermentaram durante quatro dias com maceração pelicular e extração muito ligeira". Depois, conclui, "segue-se uma prensagem para barrica usada de carvalho francês, onde termina a fermentação e repousa durante 12 meses".

As castas do tinto, Tinta Francisca (70%) e Touriga Nacional (30%) estão plantadas a uma cota de 430 metros de altitude. Tomás Roquette recomenda que o vinho seja servido a uma temperatura mais fresca, idealmente, entre os 15°C e 17°C. O produtor garante que o vinho pode ser bebido durante todo o ano, mesmo nas estações mais quentes. Salienta que pode acompanhar os pratos mais leves ou um final de tarde entre amigos – "não exige uma grande refeição para brilhar".

Quinta do Crasto no Douro
Quinta do Crasto no Douro Foto: DR

Com um preço de €17, Roquette esclarece que o "Altitude" "tem um ótimo comportamento desde novo, pela frescura e elegância, mas tem uma evolução em garrafa que se prevê muito boa". Refere que foi pensado com "descomplicação e leveza, respondendo também a um público mais jovem". Isto porque apresenta um grau alcoólico mais baixo e "uma agradável frescura e elegância, demonstrando todo o potencial das castas que o compõem quando plantadas nas condições de altitude que dão o mote a este vinho".

João Pires Moscatel, Moscatel, 10 anos

António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca (JMF), diz que este vinho generoso "vem completar o portefólio da marca icónica João Pires". Acrescenta que a JMF se quis reinventar com "a apresentação do seu primeiro generoso feito a partir de vários lotes de várias colheitas em que a mais nova tem pelo menos 10 anos".

Soares Franco refere que, "enquanto produtora mais antiga, com maior prestígio e tradição na elaboração dos moscatéis de Setúbal, a José Maria da Fonseca quer lançar esta nova referência como mais um tributo à região". O administrador da JMF aponta que o licoroso "deve ser apreciado moderadamente como aperitivo, com frutos secos, a uma temperatura de 10ºC. ou a acompanhar sobremesa ou doces com chocolate a 16ºC. 

"Apreciado moderadamente como aperitivo, com frutos secos, a uma temperatura de 10ºC. ou a acompanhar sobremesa ou doces com chocolate a 16ºC" Foto: DR

O preço de venda recomendado de €19.99 é explicado pelo responsável como querendo "proporcionar a oportunidade de compra de um moscatel com bastante qualidade, feito a partir de um lote com pelo menos 10 anos de idade, a um preço que fosse acessível a todos, tal como é caracterizada a gama João Pires". Uma vez que é um vinho fortificado, e que já passou por um processo oxidativo, José Maria Soares Franco sinaliza que "não irá evoluir após o engarrafamento, por isso, pode ser apreciado já ou guardado, mas não irá existir uma evolução relevante".

Para o enólogo e administrador, "as principais diferenças para outros moscatéis de Setúbal é a utilização de alguns lotes mais antigos, que vão potenciar a complexidade e elegância do vinho". Outro dos pontos diferenciadores são as condições nas adegas da José Maria da Fonseca, como os cascos de moscatel, por onde já passaram muitos outros moscatéis antigos. Por outro lado, a vinícola garante que as vinhas de argila da Serra da Arrábida dão mais acidez e frescura ao vinho

No que diz respeito ao destinatário, Soares Franco aponta um consumidor que procura "um vinho frutado e macio", fácil de beber e ainda mais fácil de partilhar entre amigos e família.

O novo terroir da Malhadinha: Teixinha Field Blend Tava Tinto 2021

Além dos vinhos da Herdade Malhadinha Nova, a CEO da empresa, Rita Soares, tem agora uma nova quinta, Teixinha, que considera "extremamente interessante pela diversificação dentro da mesma região do Alentejo, mas com características tão especiais e distintas como as condições climáticas da Serra de São Mamede". No caso deste vinho tinto, a curiosidade é a utilização de "uma ânfora em barro para o estágio de 14 meses". Relativamente às castas, Rita Soares explica que "não foram escolhidas, uma vez que já existiam na propriedade". Acrescenta que são "vinhas a 700 metros de altitude, com dois hectares de vinhas velhas plantadas em 1997, um field blend de Roupeiro, Tamarez, Bical, Arinto, Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira e dois hectares de vinha plantada em 2017 com Roupeiro e Aragonez".

A herdade da Teixinha apresenta
A herdade da Teixinha apresenta "características tão especiais e distintas como as condições climáticas da Serra de São Mamede" Foto: Frederic Ducout

A CEO da Malhadinha garante que a temperatura ideal para o servir é entre os 16 a 18ºC, acompanhado de uma refeição, e, para respeitar as tradições do Alentejo e da região de Portalegre, de acordo com a estação, "combina bem com umas sopas de tomate ou feijão com couve e porco preto ou novilho alentejano criado em extensivo na Malhadinha". O preço de 45 euros é explicado pela proprietária pelos cuidados na viticultura e na enologia, com produção biológica, enologia de precisão e de pouca intervenção.

Rita Soares garante que "é um vinho de guarda" feito no coração da Serra de São Mamede, "rodeado por cerejeiras, sobreiros e castanheiros centenários, um lugar com água nascente onde os verdes se mostram puros e o nevoeiro misterioso abraça a antiga ruína, outrora secadora de castanhas".

CEO da empresa, Rita Soares
CEO da empresa, Rita Soares Foto: DR

Quanto ao destinatário, Rita Soares salienta que será "o mesmo que na Malhadinha, ou seja, quem aprecia vinhos de qualidade, especiais". Este Tava, acrescenta, foi "estagiado em barro com o objetivo de preservar a pureza da fruta e de o elevar pelas características naturais da fruta ótimas destina-se a um consumidor mais evoluído que privilegia vinhos excecionais produzidos com todos os cuidados extremos".

Saiba mais Vinho, Histórias, Vinha, Quinta de Monforte, José Maria da Fonseca, Serra de São Mamede, Teixinha
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