Teixinha, a nova joia da coroa dos vinhos alentejanos
Da Herdade da Malhadinha Nova, bem lá no sul do Alentejo, a família Soares foi explorar uma velha quinta no topo da Serra de São Mamede, em Portalegre, e o resultado caminha para o soberbo.
"Acima da Teixinha só há serra selvagem, carvalhos, castanheiros e sobreiros", diz, com evidente orgulho, João Soares. Fala sobre a propriedade que a família comprou no topo da Serra de São Mamede, bem no coração do distrito de Portalegre. Quando se tem no portfólio uma propriedade como a Malhadinha Nova, praticamente só com vinhos premium, ficar assim tão encantado com um novo projeto vínico, não será fácil, mas João tem bons motivos para descrever o novo projeto com entusiasmo.
Os dois tintos e os dois brancos, todos colheita de 2021, que acabam de chegar ao mercado com o logo Teixinha serão, certamente, um deles. Curiosamente, três são provenientes da mesma vinha, plantada em 1997 a uma altitude de 700 metros, e que junta castas brancas e tintas num field blend mais atípico. Temos Trincadeira, Aragonez ou Alicante Bouschet (no lado das tintas), Bical, Fernão Pires, Salsa e Tamarez (nas brancas). Castas bem típicas. Em 2017 foram plantados mais dois hectares, um de Aragonez (Tinta Roriz a norte ou Tempranilllo do lado de lá da fronteira), e outro de Roupeiro (Síria para o Instituto do Vinho e da Vinha), uma das castas mais antigas de Portugal e a branca mais plantada no Alentejo que dá origem ao único monocasta da Teixinha.
O Roupeiro Branco ’21 revela-se um vinho fresco e frutado, com algumas notas de frutos tropicais, como é marcante da casta, mas ganha também um final mais seco e longo. Um perfil um pouco mais austero – e isto é para ser entendido como um elogio.
Nos tintos − Field Blend Tinto Barrica e Field Blend Tinto Tava − temos exatamente a mesmas uvas, da mesma vinha, e o que os distingue é sobretudo o processo de estágio, com o primeiro a passar 14 meses em barrica e o segundo 14 meses em ânfora de terracota, a Tava. O Barrica, com o estágio prolongado em madeira, apresenta-se como um vinho mais redondo, de taninos aveludados e com as típicas notas tostadas da barrica. Será, muito provavelmente, o vinho mais consensual entre os dois. Dito isto, o Tava é para nós especial, e seguramente aquele que melhor revela a essência e a pureza deste terroir. Frescura e elegância são as duas palavras que melhor o descrevem.
Resta o Field Blend Branco ’21, que revela também – extraordinariamente bem − esse carácter mais mineral conferido pelo terroir da Serra de são Mamede. Tem acidez equilibrada, textura elegante e perfil gastronómico. É, no fundo, um sedutor à mesa.
Será por este "grande potencial para produzir vinhos com maior frescura e elegância" de que fala João Soares, que a região de Portalegre está na moda, e atraiu "tantos nomes grandes, como a Sogrape, a Niepoort, Susana Esteban ou David Baeverstock". Não que a família Soares estivesse à procura de um novo projeto, mas quando visitaram a propriedade de 105 hectares, com as vinhas a 700 metros de altitude, a "fonte de água puríssima", mais os "frutos maravilhosos em todas as árvores", pensaram que seria uma loucura deixar passar esta oportunidade. "Três semanas depois estávamos a assinar o contrato", revela o mais velho dos irmãos Soares que, com a mulher Rita e o irmão Paulo, gere a Herdade da Malhadinha Nova, vinhos e Hotel, e a Garrafeira Soares, o negócio de família que já expandiram para mais de 25 lojas de norte a sul do país.
Por agora, os vinhos da Teixinha são vinificados na Herdade da Malhadinha, mas já está prevista uma adega para a propriedade que contará com a assinatura do atelier Aires Mateus (uma parceria que começou na Herdade da Malhadinha Nova, com o novo spa), pelo que também daqui podemos esperar algo de muito especial.
Palavra final para os rótulos, uma característica tão inconfundível dos vinhos da Malhadinha, com os desenhos dos filhos dos irmãos Soares. A tradição vai manter-se na Teixinha, embora já não com desenhos, mas sim com palavras, nas quais as gerações mais novas expressam os seus sentimentos por esta quinta da família. E podemos ler coisas deliciosamente ingénuas como: "Na Teixinha em Portalegre há uma linda casa, muito velhinha. Ao lado há uma laranjeira. Também lá há uma cobra chamada víbora cornuda" ou "A Teixinha é especial, tem uma fonte de água fresca que vem da Serra de São Mamede, tem uma frutas maravilhosas que adoro apanhar das árvores, uvas, castanhas, kiwis, cerejas, bravios…". Dá vontade de conhecer o lugar, não é? E, na verdade, só precisamos de abrir uma garrafa...
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