4 vinhos e as suas histórias. Dois tintos com a marca do Alentejo, um duriense tradicional e um branco d’Oiro
As alterações climáticas têm ditado a antecipação das vindimas, porém ainda há quem as faça no início de outubro. Em evidência, três tintos, dois deles tradicionais e um a ganhar projeção. O branco também já é um clássico.
A história de séculos numa garrafa: Lima Mayer Tinto 2017
Na Quinta de São Sebastião, em Monforte, passaram, desde a sua fundação em 1200, povos romanos, árabes e visigodos. O vinho provém de uma extensão de vinha de 20 hectares de solo granítico, sujeito a amplitudes térmicas significativas.
O produtor Thomaz Lima Mayer descreve o tinto como resultado de "uma vindima selecionada, feita manualmente, uvas vinificadas em lagares ou em cubas troncocónicas, com controle de temperatura". O responsável refere que o vinho "estagia em barricas de carvalho francês durante um período mínimo de dois anos, ao qual se segue um estágio em garrafa durante mais um ano".
Relativamente às castas, Syrah, Aragonez, Petit Verdot, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon, reúnem-se num lote afinado pelo enólogo da casa, Rui Reguinga, "de forma a manter estável o perfil do vinho". Thomaz Lima Mayer justifica a escolha "pela capacidade de adaptação às condições do terroir e aos solos ácidos graníticos, ao regime pluviométrico e às temperaturas características da região do Alto Alentejo". O produtor sugere os 15ºC. para degustar um vinho que no seu entender é "bastante gastronómico, acompanha bem pratos de caça, carnes vermelhas e quase todos os pratos típicos da cozinha tradicional portuguesa".
Com um preço de venda de 12 euros, Thomaz não tem dúvidas que o vinho tem "grande capacidade de envelhecimento, embora esteja totalmente pronto para ser consumido logo após a compra". O proprietário da Quinta de São Sebastião explica que na região do Alto Alentejo "há uma grande variedade de terroirs, com solos muito diferentes entre si que que dão origem a vinhos de excelência, únicos e com características bastante diversas".
No que diz respeito aos destinatários, o produtor destaca que o vinho é produzido "com o objetivo de ser o complemento de excelência para as refeições de quem gosta de pratos estruturados". Thomaz Lima Mayer conclui que "apesar do seu perfil classic, é um vinho com grande frescura".
Um pouco de Ródano no copo: Quinta do Monte d'Oiro Reserva Branco 2021
É conhecida a paixão do produtor José Bento dos Santos pelos grandes vinhos das Côtes du Rhône, em particular pelos famosos brancos das sub-regiões de Condrieu e Château-Grillet. O filho e responsável pela quinta, Francisco Bento dos Santos, esclarece que "o terroir da Quinta do Monte d'Oiro tem várias semelhanças com o vale do Ródano e, desde o início do projeto, que houve uma procura pelo perfil daquela região francesa".
O produtor não tem dúvidas que "elaborar um grande branco é tão (ou talvez até mais) difícil que fazer um grande tinto". Aponta o "controlo de maturação muito rigoroso que obriga a uma dupla vindima em duas datas distintas". Francisco explica que primeiro colhem os cachos mais expostos e, alguns dias mais tarde, os mais interiores. Depois, acrescenta, "a vinificação é dividida entre cubas de inox e barricas de carvalho francês, sendo que uma parte são barricas novas e outras usadas, de 225 e 500 litros. A escolha da casta Viognier não foi alheia à circunstância de ser a branca mais plantada nas Côtes du Rhône.
Francisco Bento dos Santos garante que o branco ganha em ser bebido não muito frio, a 10 ºC., "para depois, já no copo, aquecer até aos 12, 14 ºC. Sustenta que é um vinho "gastronómico por excelência, com boa frescura e salinidade graças à proximidade atlântica da vinha (em linha reta, a quinta fica a apenas a 20 km do oceano)". O produtor sugere um peixe assado no forno, um arroz de marisco, uma massada de cherne, um bóbó de camarão, um caril de gambas ou uma cataplana bem portuguesa.
Para o responsável, o preço de 25 euros justifica-se "por ser um branco de qualidade reconhecida e cujo processo de produção é muito trabalhoso e delicado". Pode ser bebido brevemente ou "cinco, 10 ou mesmo 15 anos após a colheita", garante.
Francisco Bentos Santos refere que "a proximidade do mar é uma marca transversal à região de Lisboa, conferindo belíssima acidez aos vinhos". Diz que este branco não é exceção, "se bem que a casta Viognier e o terroir específico onde nasce lhe confiram características peculiares e muito apreciadas pelo mercado".
Uma imensidão de castas: Menin Grande Reserva Tinto 2019
O enólogo João Rosa Alves destaca "a grande referência da marca Menin Douro Estates". O responsável refere que se trata de um vinho que "representa a ambição de Rubens Menin e Cristiano Gomes em produzir grandes vinhos na Região Demarcada do Douro, valorizando o património biológico da diversidade de castas autóctones (54 identificadas) que se encontram nos onze hectares da macro parcela de Vinhas Velhas da Quinta da Costa de Cima".
Para João Rosa Alves o maior desafio na produção deste vinho prende-se com "o rigoroso acompanhamento vitícola dos diferentes micro-talhões – divisão dos onze hectares em pequenos talhões" –, e consequente determinação "do ponto ótimo de maturação e decisão da data de vindima". No processo de vinificação, as uvas passam pelo tapete de escolha, seguindo por gravidade para baleiro de fermentação (cuba de madeira) com controlo de temperatura. João Rosa Alves explica que após a fermentação alcoólica, as diferentes componentes estagiam em barricas de carvalho francês de 225 litros de capacidade durante 20 meses, seguindo-se o engarrafamento.
A temperatura recomendada para servir o Reserva situa-se entre os 16 e 18ºC. com a recomendação da casa para que se decante o vinho. Quanto à harmonização João Rosa Alves, "por se tratar de vinho muito complexo, recomenda-se que acompanhe assados tipicamente portugueses ou pratos de carnes de caça". O preço recomendado de 50 euros resulta dos "elevados custos de produção, 100% manual no caso das vinhas velhas, e a qualidade quando comparada com o mesmo segmento de vinhos que existem no mercado".
O enólogo garante "imenso prazer ao ser consumido ainda jovem, mas demonstra elevado potencial de engarrafamento". Acrescenta que "a grande finalidade deste vinho é mostrar a riqueza, sofisticação e valor das vinhas velhas do Douro". O responsável aponta a importância da localização da Quinta da Costa de Cima, na freguesia de Gouvinhas, na divisão do Cima e do Baixo Corgo. Acrescenta que representa o limite o Rio Ceira, que contorna parte da quinta e, assim, acredita, representa os dois terroirs no vinho: "a concentração e intensidade do Cima Corgo, equilibradas pela frescura do Baixo Corgo".
O "bordeaux" do século passado: Reguengos Garrafeira dos Sócios 2019
Nasceu na campanha de 1982 e, três anos mais tarde, surgiu o primeiro Garrafeira do Alentejo. O enólogo Rui Veladas recorda que o objetivo original "era poder oferecer aos associados da CARMIM (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz) um vinho que representasse o melhor de cada campanha". Ao longo dos anos 90, o tinto, refere, "contribuiu decisivamente para a afirmação do perfil de vinho tinto alentejano". O responsável conta que nas primeiras edições o processo de escolha "tinha início após a conclusão dos vários lotes de vinhos", sendo que aqueles com maior potencial de envelhecimento eram selecionados e estagiados para produção do Garrafeira. Porém, foram sucessivamente identificadas algumas vinhas que passaram a ser as principais contribuintes para os lotes do vinho de Garrafeira.
Rui Veladas garante que a procura dos melhores lotes de cada ano passou a ser feita fora daquele perímetro, "uma vez que se pretende revelar o melhor da região dentro do perfil desejado, ou seja, complexidade aromática e grande estrutura para fazer face ao teste do tempo de estágio em depósito, barrica e garrafa".
Nesta edição de 2019 as castas utilizadas são o Alicante Bouschet, Aragonez e Cabernet Sauvignon. O enólogo não esconde que há "persistência na utilização do Alicante Bouschet e do Aragonez, mas pode surgir uma terceira ou quarta casta". Rui Veladas aponta os 16 e 18ºC como a temperatura ideal para o servir, acompanhado de migas à alentejana, um cabrito assado no forno ou uma alcatra à moda da Terceira. O preço, que ronda os 25 euros, adequa-se, por exemplo, ao facto de o vinho não gerar retorno antes de três anos após concluída a vindima.
Apesar de Rui Veladas afiançar que o Garrafeira se pode beber no imediato, "não deixa de ser um vinho com grande capacidade de envelhecimento". O enólogo salienta que o vinho "tem uma personalidade muito forte e olha pouco a modas". A casa dedica, conclui, "um carinho muito especial a todos os jovens que abordam a CARMIN recordando o vinho do rótulo bordeaux que o pai ou avô levavam à mesa em dias especiais de celebração em família.
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