Quatro vinhos e as suas histórias: Duas “tourigas” e dois tintos com a marca duriense
Em novembro preparam-se as videiras para as chuvas e para o novo ciclo que se inicia. As folhas caem e a planta entra em hibernação antes de se iniciar a fase da poda. Para muitos, o mês mais tranquilo nas vinhas.
Casaboa Reserva Homenagem Tinto 2020
Joana Paes, proprietária e produtora na Quinta da Casaboa, explica que este vinho é "uma homenagem ao avô, João Ferreira dos Santos, fundador da quinta em 1958". Nos 18 anos que leva na gestão da quinta em Runa na zona Oeste, o tinto foi lançado apenas seis vezes e a produtora considera-o "o melhor vinho da casa". A vindima é manual na "melhor parcela de Touriga Nacional" e a vinificação feita em cubas de inox com controlo de temperatura a frio durante 10 a 12 dias e, posteriormente, estagiou em barricas novas de carvalho francês durante 14 meses. Joana Paes confessa que a maior dificuldade deste vinho "é atingir a qualidade pretendida para esta gama e nem todos os anos vitícolas são favoráveis à Touriga Nacional".
A escolha da casta resulta do facto de ser a principal utilizada no projeto da Casaboa. A produtora refere que a variedade "consegue atingir a excelência e revela a identidade enquanto produtora e portuguesa". Joana sugere os 16 a 18 graus para o consumo num "vinho gastronómico cujo perfil estruturado pede claramente uma boa refeição, preferencialmente pratos de carnes vermelhas".
O preço ronda os 23,50 euros e teve como base o custo de produção e vinificação de uma colheita selecionada de apenas 700 garrafas. A proprietária da quinta esclarece que este tinto "é um vinho elegante e guloso pronto a degustar, mas os seus taninos estruturados permitem-lhe que possa ter uma vida longa". Joana Paes salienta que os destinatários são aqueles que "ano, após ano, aguardam uma nova colheita e não se desiludem". Um consumidor, acrescenta, "apreciador de vinhos portugueses, da casta Touriga Nacional e que gosta de beber um bom vinho em ocasiões especiais". Relativamente ao terroir, a responsável refere que a casta "se adapta bem ao solo basáltico calcário, que lhe dá a estrutura e o clima atlântico influenciando na sua frescura".
Vinha da Fonte 2021
O enólogo e produtor Paulo Coutinho procurou nesta colheita "dar uma nova evolução ao vinho", pois os consumidores exigem cada vez mais elegância. Neste tinto do Douro o envelhecimento do vinho foi promovido "através da criação de flor numa barrica, que depois foi utilizada no lote final". Para o responsável, é "um equilíbrio perfeito entre o frutado e a estrutura, com uma oxidação positiva trazida pelo vinho de flor".
Relativamente à produção, Paulo Coutinho explica que "todo o vinho é produzido com uma suave maceração durante a fermentação e a grande dificuldade está em determinar até onde se pode fermentar com as partes sólidas da uva". O enólogo não tem dúvidas que "o caráter do Douro precisa de ser respeitado e, no final, o vinho deve preservar sua capacidade de envelhecimento em garrafa".
Paulo Coutinho sugere que, "ao contrário de um típico Douro, aconselha-se um consumo ligeiramente refrescado", isto é, no Inverno entre os 14 e os 15ºC. e cerca de 12ºC. num dia de verão. Refere que acompanha uma "gastronomia cuidada e não somente carnes…".
O preço de venda recomendado, 39 euros, é, para o produtor "mais do que justo não pela quantidade produzida, mas pelo investimento em vinha, que é o dobro de custo normalmente verificado por hectare de vinha no Douro". Quanto à guarda, Paulo diria que se poderia beber já, mas "tem excelente capacidade de evoluir". O responsável elucida que este vinho "é destinado aos consumidores que buscam a elegância num tinto disruptivo que pode surpreender, transportando o apreciador para outras grandes regiões vinícolas".
Paulo Coutinho conclui que pratica "uma agricultura regenerativa que busca promover a resiliência natural da videira num solo rico e funcionalmente biodiverso". Para isso, acrescenta, "a boa gestão dos cobertos vegetais é fundamental, garantindo a vida no solo".
Quinta das Marias Reserva Touriga-Nacional 2020 Dão DOC
A grande novidade é a participação do escultor Paulo Neves que apresentou 1200 rótulos personalizados em garrafas de uma edição limitada de Touriga-Nacional Reserva 2020 do produtor do Dão. O enólogo da Quinta das Marias, Luís Lopes, explica que "cada rótulo é único, pintado à mão e assinado". Quanto à escolha do vinho, a decisão passou pelo facto de tanto o produtor Peter Eckert da Quinta das Marias, como Paulo Neves, terem uma preferência pela Touriga Nacional.
Luís Lopes refere que "as uvas são provenientes da melhor parcela de vinha da propriedade e fermentam separadamente de outras tourigas de outros talhões, com o fim de preservar a identidade e qualidade da parcela". O enólogo explica que o tinto "tem dois anos de estágio em barrica e já leva mais de dois anos de estágio em garrafa, com cor intensa e com um grande potencial de guarda".
O responsável aponta os 14 a 16 graus para servir o vinho – com um preço de 80 euros –, que pode ser acompanhado com "vitela de Lafões". Luís Lopes salienta que "quem faz o vinho, além do terroir, são as pessoas". Refere que a Touriga Nacional é "uma variedade fácil para impressionar as pessoas, no bom sentido, pois é bastante compacta e, expressa uma singularidade identitária". Já quando à sua personalidade, o enólogo diz que "tem de ser dada pelas pessoas que trabalham o campo e a adega e, neste caso, ela não é tão densa e concentrada como a maioria das tourigas do Dão, e apresenta um perfil mais fresco, intenso, saboroso, mas, sem ser enjoativo".
Luís Lopes aponta como objetivo "dar a oportunidade às pessoas para apreciarem uma boa Touriga, conhecerem a Quinta das Marias e, ficarem com uma peça de arte exclusiva do escultor Paulo Neves, ao qual poderão sempre associar o vinho ao rótulo". Segundo o responsável pela enologia, a parcela em causa foi estudada por consultores de terroir em 2019 e a perceção do enólogo bateu certo com a avaliação científica do solo.
Quinta Nova Reserva Terroir 2022
O enólogo residente da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, António Bastos, explica que este tinto "é um dos três reservas que integra a gama Quinta Nova da propriedade duriense, cuja primeira colheita data de 2019". O enólogo esclarece que as castas são provenientes de solos xistosos e plantadas na sub-região do Cima Corgo em modo de produção integrada. O vinho estagiou nove meses em barricas de carvalho francês. Para o responsável, talvez a maior dificuldade tenha sido "o ano de colheita (2022), um dos mais quentes e secos de que há memória". Porém, refere que a precipitação que ocorreu no início de setembro "contribuiu para alguma recuperação da videira e um final de maturação quase perfeito, o que permitiu obter vinhos tintos com grande harmonia, de carácter firme, mas elegante".
Quanto às variedades, o vinho é feito com Touriga Nacional (35%), Touriga Franca (35%), Tinta Roriz (15%) e Tinto Cão (15%), provenientes das 41 parcelas que compõem a Quinta, que foi pioneira ao realizar o primeiro estudo para a plantação monovarietal na região do Douro.
O responsável recomenda servir o tinto entre os 16º C. e os 18ºC. e, pela estrutura, acompanhar "carnes vermelhas grelhadas como chuletón, posta mirandesa, e entrecôte e igualmente bem bochechas de porco estufadas e carnes de caça como javali e perdiz ou ainda bacalhau assado no forno". O preço de 18 euros foi decidido tendo em conta o posicionamento da gama em questão que inclui os três reservas Quinta Nova.
António Bastos garante que o vinho "é marcado por uma cor intensa, densidade e aromas sedutores, e apresenta uma sofisticação que só a madeira de carvalho francês consegue aportar, conferindo-lhe uma estrutura musculada e uma textura suculenta". Conclui que "o final é longo e tenso, digno de um vinho que reflete a identidade do terroir da Quinta Nova". O enólogo refere que mais do que um blend de castas, "esta é uma referência espelho da propriedade que reflete também a cultura, o património e o legado de mais dois séculos de história".
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