4 vinhos e as suas histórias: dois tintos do Douro, um de talha e um branco de “calhau rolado”
Em abril continua o processo de floração, uma etapa em que as videiras ficam mais sensíveis às doenças o que requere uma atenção redobrada dos viticultores.
Farouk
A parceria entre o chef Olivier e a casa Niepoort resultou num tinto apenas disponível nos restaurantes do cozinheiro lisboeta. O enólogo Daniel Niepoort explica que o vinho "é feito a partir de uma vinha bastante especial em Covas do Douro, com uma mistura das castas típicas da região". Foi escolhido por Olivier entre vários por ter as características que desejava num vinho do Douro que, segundo o responsável, deveria ter "complexidade, equilíbrio e elegância".
O enólogo, filho de Dirk Niepoort, conta que o vinho foi feito à semelhança do "Batuta" da casa, "mas com uma percentagem quase nula de engaço, fermentação em inox com o bago inteiro, uma maceração de cerca de duas semanas em infusão seguido de uma malolática em barrica onde estagia durante 18 meses". Relativamente às castas, o Farouk é elaborado a partir de uma vinha velha com várias variedades, com predominância de Touriga Francesa, Tinta Roriz e Touriga Nacional.
Daniel indica um intervalo entre 18 e 22 graus celsius para o degustar, garante que pode ser bebido sozinho, mas "fica melhor acompanhado uma refeição com alguma gordura, desde pratos de peixe no forno, carnes vermelhas e pratos mais exóticos com caril". O preço praticado nos restaurantes ronda os 40 euros.
O enólogo refere que o vinho pode ser bebido agora, mas tem potencial de envelhecimento em garrafa. Acrescenta que "transmite claramente a sua origem, num perfil mais elegante, com os taninos mais polidos, distinguindo-se por essa característica". Ainda segundo o responsável, Olivier decidiu "estreitar as relações com Dirk Niepoort e, ao mesmo tempo, homenagear o seu cão Farouk. Daniel Niepoort conclui que apesar da intervenção do homem na elaboração deste tinto, "há um pendor menos interventivo no vinho, preservando a essência da vinha no copo".
Gutta Supera
Luís Leão, enólogo da Quinta do Paral, lembra que "os projetos começam pela base, pela raiz, e foi com a aquisição de uma vinha velha na região do Ribatejo que este vinho teve início". Garante ser "apaixonado pela autenticidade, pela origem das coisas, e nada é mais verdadeiro do que ter algo que identifica uma região, neste caso, uma vinha velha, com mais de 50 anos da casta autóctone Fernão Pires".
O responsável pela enologia refere que quando visitou a vinha percebeu que estava plantada em solo de calhau rolado, o que poderia dar origem a um vinho diferente. Luís Leão, que explica que a operação principal da Quinta do Paral é na Vidigueira e naquela região não possuem adega. Mas explica que a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVRT) autorizou, desde a primeira colheita, o transporte das uvas e a vinificação no Alentejo.
O enólogo, que faz vinhos brancos alentejanos há cerca de 30 anos, garante sempre ter respeitado as características das uvas e o terroir que as destinge, pelo que se questionou como poderia enaltecer esta casta e considerou que a melhor forma era "vinificá-la e estagiá-la em madeira, com muita oxigenação, para que o caracter aromático dela fosse mais expressivo".
Luís Leão recomenda servir o branco Gutta Supera a uma temperatura entre os 10 e 12°C. "para permitir que os aromas citrinos sejam apreciados plenamente". Acrescenta que "é um vinho gastronómico que combina especialmente com pratos de bacalhau, atum braseado, marisco ou até um queijo de pasta mole".
O branco, com um preço recomendado de 16,80 euros vendido apenas na garrafeira vinha.pt, apontado como um vinho de guarda, provém de um solo maioritariamente de calhau rolado que influencia o perfil, que o enólogo descreve como "características únicas de frescura, mineralidade e complexidade". Luís Leão explica que o nome Gutta Supera "vem do latim e significa gota de cima".
Roquette & Cazes 2021
Um vinho oriundo do projeto Roquette & Cazes ou, como os responsáveis gostam de referir, "do encontro de dois amigos, Jorge Roquette, da Quinta do Crasto no Douro, e Jean-Michel Cazes, do Château Lynch-Bages, em Bordéus". O produtor Tomás Roquette define o tinto de uma forma simples: "Três castas, duas famílias e um terroir". Separadas por mais de 1000 quilómetros, as equipas no Douro contam com os enólogos Manuel Lobo e Cátia Barbeta e o viticultor Tiago Nogueira e, do outro, a francesa liderada pelo enólogo Daniel Llose.
O vinho é feito com processos de vinificação típicos de Bordéus como por exemplo, durante a vinificação, um tipo de remontagem mais suave, conhecida pelo nome de "delestage". Tomás refere que no processo se recorre a "macerações prolongadas pós-fermentativas, técnica muito importante para a definição do estilo dos vinhos Roquette & Cazes". As variedades escolhidas neste tinto são a Touriga Nacional (60%), a Touriga Franca (25%) e a Tinta Roriz (15%) que o produtor justifica como "as castas bandeira da região do Douro e a combinação perfeita para o estilo de vinho que se pretende".
O responsável aconselha servir o vinho entre os 16 e 18 graus e como sugestão "acompanhar pratos de carne de caça, grelhadas ou no forno, ou com pratos da cozinha italiana". Com um preço recomendado de 22,5 euros, o vinho é apontado como podendo ser bebido já, até porque, refere Tomás Roquette, "já foi submetido a um generoso estágio de 12 meses em barrica de carvalho francês e garrafa". Porém, acrescenta que se prova "um vinho com potencial de guarda, até avaliando pela boa evolução de colheitas anteriores".
Tomás Roquette explica que "todas as uvas são vindimadas manualmente e provêm, na sua maioria, da Quinta do Meco e de vinhas mais velhas no Douro Superior". Acrescenta que "o grande propósito deste projeto é preservar as características naturais deste terroir, que dá origem a vinhos muito ricos e elegantes, combinando-as com técnicas de vinificação de Bordéus". Por esse motivo, conclui, "ambas as equipas trabalham lado a lado, todo o ano, no Douro".
Vila de Frades 1656
O enólogo da Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, Vasco Moura Fernandes, conta que o Vila de Frades 1656 nasceu na Taberna dos Arcos em Vila de Frades, "onde se encontra uma das talhas mais antigas da região, a Talha 1656, que guarda memórias, saberes e sabores de várias gerações". O responsável refere que o tinto nasceu da vontade de criar o primeiro vinho tinto de talha da adega cooperativa "que honrasse a capital do vinho de talha Vila de Frades".
Vasco Moura Fernandes refere que a vinificação "é ancestral e com a mínima intervenção, respeitando ao máximo o terroir da sub-região da Vidigueira". Para o enólogo a maior dificuldade prende-se com o fator "da vinificação ser em lote, em que são colhidas as três castas em simultâneo – Aragonez, Trincadeira e Tinta Grosa, provenientes de vinhas velhas – e onde é muito importante encontrar o ponto ótimo de maturação das uvas".
O responsável pela enologia da Adega Cooperativa da Vidigueira indica os 18ºC. a 20ºC. para servir o vinho e sugere que seja acompanhado com um borrego com silarcas (cogumelos) ou mesmo sozinho.
Com um preço de 33,90 euros, o vinho é descrito por Vasco Moura Fernandes como tendo "muitas características para ser tornar num bom vinho de guarda, mesmo tendo em conta que os vinhos de talha por norma são bebidos novos". Relativamente aos vinhos da região, o enólogo aponta "a embalagem diferenciadora, com referências históricas, aliada a um vinho com muita qualidade". Refere que o Vila de Frades 1656 "é o primeiro vinho tinto de talha da Adega, vinificado numa das talhas mais antigas da região" e, por isso "difícil comparar".
O responsável salienta que é dirigido a "bons apreciadores de vinhos de talha, colecionadores de edições especiais e históricas", um vinho proveniente da sub-região da Vidigueira "influenciado pelo microclima da Serra do Mendro e pelos solos graníticos que, conjugado com o processo tradicional, seguido criteriosamente na elaboração do Vinho de Talha, permitiu obter uma combinação de sabores e aromas únicos".
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Setembro ainda é o mês das vindimas. Por exemplo, na região dos vinhos verdes, a colheita estende-se até ao final do mês e, por vezes, até outubro. Em destaque, um verde, um duriense tradicional, um tinto de altitude e um branco de vinhas velhas.
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No Convento do Beato, em Lisboa, premiou-se o talento nacional no que respeita à gastronomia, ao mesmo tempo que se assinalou o empoderamento feminino, com o cocktail e um jantar de gala exclusivamente criado por quatro chefs portuguesas: Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares.
O emblemático guia gastronómico volta a Portugal, agora em versão digital, menos elitista e mais próximo de todos. Vai distribuir “Soís” (um, dois ou três) aos restaurantes e prestigiar o melhor da cozinha portuguesa.
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