4 vinhos e as suas histórias: um rosado além-fronteiras, um vinho viciante e dois tintos do Douro
Julho também é mês de rega, sobretudo das vinhas mais novas. Há as que quase não necessitam, que com as suas raízes profundas procuram os nutrientes. Em destaque, um 100% Alvarinho, um rosé afrancesado, um tinto bio e um reserva que procura a frescura.
"Comme en Provence": Vinha da Rosa Rosé – Single Vineyard 2022
O desafio foi proposto por um francês amigo de Filipa e João Maria Portugal Ramos, ambos filhos deste produtor. Filipa explica que andava com "vontade de lançar um vinho rosé diferente" e conta que durante um jantar em Estremoz, o repto lançado pelo amigo foi o de fazer vinho rosé estilo Provence no Alentejo. A produtora explica que a decisão foi de que o vinho "deveria ser proveniente das vinhas biológicas, rodeadas pelas roseiras que a serpenteiam". Filipa Portugal Ramos acrescenta que a tradição, mantida pela família, remonta ao tempo dos romanos que associavam as rosas à produção de vinha que, além da beleza e dos aromas, "são também um importante habitat para alguns insetos e funcionam como um sistema de alerta para algumas maleitas da vinha".
João Maria explica que as uvas são provenientes do lado voltado a nascente, "menos castigado pelo sol", são vindimadas manualmente e arrefecidas em camara frigorifica. Refere que a fermentação ocorre também a temperaturas baixas em cubas de inox, mas parte do lote fermenta e estagia em barricas usadas de 500 litros. Para o produtor, a maior dificuldade foi "perceber qual o momento certo para conseguir um vinho fresco, com sabor, mas ao mesmo tempo com pouca cor". João Maria salienta que o rosé é feito com as castas Touriga Nacional e Syrah e recomenda o seu consumo entre 10 e 12ºC.
Filipa Portugal Ramos sugere pratos de peixe, aves, ovos e saladas, uma vez que "é um vinho gastronómico", mas conclui que "a sua frescura e vitalidade permite que possa ser bebido "by the glass", como aperitivo". Com um preço aproximado de 16 euros, a produtora refere que idealizaram o rosé "para consumo rápido", apesar de considerar que pode "evoluir na garrafa".
Os filhos de João Portugal Ramos, Filipa e João Maria, estão atentos ao crescimento exponencial do consumo de rosés nos últimos anos. Filipa garante que "há uma evidente alteração nos hábitos de consumo, com as pessoas a consumirem vinhos mais frescos e menos alcoólicos". João Maria não tem dúvidas que estão "na época perfeita para os amantes deste tipo de vinho: o calor, os dias longos de verão, os fins de semana na praia e jantares ao ar livre são um convite irrecusável a um copo de rosé".
Um vício chamado Alvarinho: Gran Vicious 2020
Na altura, o enólogo Tiago Macena da Quinta da Vacaria explica que o nome desta edição especial está "intrinsecamente associado a um conceito de desejo e paixão, sugere uma ligação intensa e gratificante, refletindo o carisma inebriante dos vinhos produzidos sob esta marca". Para Tiago Macena o maior desafio foi "a prospeção de terreno e o parceiro de adega". Refere que a vinificação é clássica e que passou por uma maceração pelicular prolongada, enquanto parte da fermentação foi realizada em barricas de carvalho francês, "onde estagiou demoradamente".
O enólogo escolheu a casta Alvarinho uma vez que tem "uma expressão sublime na região de Monção e Melgaço, onde os vinhos são produzidos". O responsável aponta a temperatura ideal para servir o Vicious entre 14°C e 16ºC e garante que pode ser apreciado sozinho ou acompanhando uma refeição. Por exemplo, destaca, "um prato de mariscos frescos, como camarões grelhados ou vieiras, ou outros pratos de peixe". O preço de 275 euros inclui uma ponderação "do custo de produção, o tempo de estágio, a qualidade das uvas, a exclusividade da produção limitada e a reputação da marca".
Tiago Macena não tem dúvidas que o Grand Vicious pode ser consumido imediatamente, porém, "tem potencial para envelhecer em garrafa e desenvolver maior complexidade ao longo do tempo". Relativamente à região, o enólogo garante que embora partilhe a mesma casta Alvarinho, representa uma procura pela excelência, expressando autenticidade, complexidade e sofisticação". Quanto ao destinatário, o responsável assinala que é destinado a pessoas "que valorizam a qualidade, a autenticidade e a busca pela excelência na produção de vinhos" ou mesmo a colecionadores de vinhos, "dada a sua produção limitada e a capacidade de envelhecimento em garrafa".
Tiago Macena conclui que o terroir da região de Monção e Melgaço "tem uma influência significativa na produção dos vinhos". Mas além desses efeitos, o enólogo também tenta encontrar diferenças em cada parcela, razão pela qual escolheu "uma vinha de encosta, virada a Norte e menos produtiva para elaborar o Gran Vicious".
Biodiversidade e preocupação ambiental: Terras do Grifo Bio tinto Reserva 2021
A empresa Rozès já tinha convertido anteriormente parte das vinhas da Quinta da Veiga Redonda em produção biológica. Com a enologia de Manuel Henrique, Luciano Madureira e Jorgina Quintela, chegaram o branco e o rosé bio e, este ano, o tinto, também biológico. Manuel Henrique explica que a história deste vinho começou em 2000, na altura em que a empresa comprou a quinta no Douro Superior, "onde habitam os grifos, aves majestosas e guardiãs ancestrais das vinhas". Refere que 2021 foi o início do primeiro vinho biológico, com "uma grande preocupação na sustentabilidade ambiental e defesa da biodiversidade."
Jorgina Quintela aponta uma vinificação semelhante aos restantes, embora totalmente autónoma para evitar qualquer tipo de contaminação, "o que se torna complexo em termos de organização do trabalho na adega e na receção de uvas de outras quintas". A equipa escolheu as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Tinto Cão. O enólogo Luciano Madureira garante que este tinto "é um reserva muito encorpado cheio de fruta preta e caráter do Douro Superior", que pede obrigatoriamente "pratos cheios, nomeadamente o cabrito, borrego e cozido de carnes de porco, fumeiros e queijos fumados muito fortes".
O preço de 16,50 euros incorpora, além dos impostos, os custos de produção associados e integração de uma margem que permita à empresa criar valor para poder reinvestir na região do Douro Superior. A enóloga Jorgina Quintela considera que continua a haver "uma boa relação preço-qualidade junto do consumidor, apresentando assim ao mercado um produto de alta qualidade, mas com preço muito competitivo".
Para Manuel Henrique, o tinto está pronto para ser desfrutado, mas vai continuar a evoluir na garrafa. O enólogo, que recomenda que se beba a uma temperatura ligeiramente fresca, entre os 14º C e os 16º C, confessa que quer continuar com o estilo que os clientes apreciam "e conquistar novos clientes, em particular os que procuram esta categoria reserva, agora com uma alternativa biológica".
Família Touriga: Quinta do Pessegueiro Reserva Tinto 2021
A filosofia da quinta passa pela descoberta e curiosidade no estudo do maior número de castas existentes, do tipo de poda, e diferentes densidades de plantações entre outros aspetos. A explicação é do diretor técnico de viticultura e enologia da Quinta do Pessegueiro, Hugo Helena, que aponta 2012 como a altura em que foram plantadas novas parcelas apenas com uma casta, "como por exemplo, a Tinta Amarela, Rufete, Tinto Cão e Tinta da Barca, entre outras". No que diz respeito ao vinho, o responsável salienta que, "sabendo que a casta Touriga Nacional é o pai da Tinta da Barca e da Touriga Franca, provado geneticamente, surgiu a ideia de fazer um blend com o pai e as duas filhas".
O primeiro lançamento foi em 2021 com o reserva de 2019 e, segundo o enólogo, as maiores dificuldades estão na viticultura para conseguir "uma boa matéria-prima" e na precisão da data de vindima. Os dois pontos fundamentais, acrescenta, para que depois haja "um mínimo de intervenção com produtos enológicos". Hugo explica que as uvas passam entre 12 e 16 horas numa câmara frigorifica, antes da vinificação, "feita com leveduras indígenas em balseiros de madeira e envelhecimento em barricas de 225 litros e pipos de 600 litros usados.
O responsável pela viticultura e enologia indica 16ºC para o consumo e, apesar de ser um vinho para acompanhar uma refeição, principalmente pratos de carne, "não se deve pôr de lado os de peixe como por exemplo o atum". Na opinião de Hugo Helena, o vinho, com um preço de 17,50 euros, "está pronto para beber, mas tem muito potencial de guarda, isto porque apesar da sua complexidade e textura, tem uma grande frescura e vivacidade".
O enólogo chama "autêntico" a um vinho "que representa bem as castas que incorpora, com a complexidade da Touriga Franca, com a textura e aroma da Touriga Nacional e finalizando com a frescura da Tinta da Barca". Hugo Helena conclui que este reserva provém de duas parcelas, "uma parte da Quinta do Pessegueiro virada a poente que traz a untuosidade e a concentração e a outra parte da Quinta da Teixeira com a textura e a frescura".
4 vinhos e as suas histórias: um vinho de trilogia, um Pinot Noir, um Moscatel do Douro e um palhete transmontano
Em junho trata-se a vinha e, mesmo com o tempo que não ajuda, já se vislumbram os primeiros cachos. Um tinto que representa uma das três estações do Douro, um Pinot e um Moscatel do planalto de Alijó e a tradição de brancos e tintos juntos numa garrafa.
Afinal, qual é o melhor copo para beber vinho?
A resposta anedótica é evidentemente "todos", mas será que é mesmo assim? Foi a pergunta que fizemos a alguns dos melhores especialistas na área - nomeadamente Jancis Robinson e Maximiliam Riedel, dois nomes incontornáveis.
4 vinhos e as suas histórias: dois tintos do Douro, um de talha e um branco de “calhau rolado”
Em abril continua o processo de floração, uma etapa em que as videiras ficam mais sensíveis às doenças o que requere uma atenção redobrada dos viticultores.
4 vinhos e as suas histórias: vinho da talha, um rosé, um natural do Douro e uma experiência improvável
Maio, ou na versão endeusada dos romanos, Maya, é geralmente um mês de muito trabalho na vinha. Aqui segue-se a rota do românico no Alentejo, ouve-se um grito de liberdade no Douro e percebe-se a cor rosada de dois durienses.
4 vinhos e as suas histórias: De um Vinhão de topo a um “Péttilant Naturel” da mesma região
Neste mês ultimam-se os tratamentos e redobra-se a atenção ao clima. A falta de água interrompe o crescimento, mas as videiras podem concentrar a sua energia na uva se houver equilíbrio.
4 vinhos e suas histórias: um rosé, um espumante, uma casta mal-amada e uma estreia duriense
Num mês em que a expressão das vinhas começa a ser mais evidente, a “aliança” de um português e de um austríaco, um espumante democrático, uma homenagem a uma casta mal-amada e uma estreia duriense.
Quatro vinhos e as suas histórias: Duas “tourigas” e dois tintos com a marca duriense
Em novembro preparam-se as videiras para as chuvas e para o novo ciclo que se inicia. As folhas caem e a planta entra em hibernação antes de se iniciar a fase da poda. Para muitos, o mês mais tranquilo nas vinhas.
Vinhos para celebrar a vida, a família e os amigos
Todas as razões são boas para comemorar. Religiosas, pagãs ou de outras origens, as festas regadas com vinho marcam a ligação do homem à natureza e aos seus. Um espumante histórico, um vinho de sobremesa e três durienses com alma e tradição. A sul, no Tejo, um reserva branco.
No Convento do Beato, em Lisboa, premiou-se o talento nacional no que respeita à gastronomia, ao mesmo tempo que se assinalou o empoderamento feminino, com o cocktail e um jantar de gala exclusivamente criado por quatro chefs portuguesas: Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares.
Das entradas às sobremesas, o sabor intenso da trufa d’Alba delicia o inverno no restaurante italiano, em Sintra.
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Jaquinzinho, o nome comum para carapaus pequeninos fritos parece ter origem num pescador de Sesimbra. Porém, no prato, foi a fadista Hermínia Silva que os popularizou.