Las Dos Manos: o novo restaurante do chef Kiko Martins
Um apaixonado pelos sabores do mundo, o chef cria uma improvável, mas estupenda, fusão entre a gastronomia mexicana e a japonesa. Ali mesmo em frente ao miradouro de São Pedro de Alcântara. Vamos até lá?
Assim que nos aproximamos do número 59 daquela rua, uma placa onde se pode ler "Mexico meets Japan", confirmamos as expetativas criadas: não se trata de um restaurante mexicano, mas também não é um japonês como vulgarmente o entendemos. Além da placa, os tons convidativos que pintam a fachada, algures entre o verde e o azul turquesa, transportam-nos para outras paragens. Entramos e as dúvidas dissipam-se: aos catos e azulejos turquesa unem-se, ao fundo na parede, as imagens de Frida Khalo e de uma gueixa japonesa, frente a frente, tornando evidente que o que por ali vamos encontrar — e provar — vai muito além do óbvio.
A conversa desenlaça-se enquanto brindamos com uma Sakurita (tequila Reposado, triple sec e yuzu). "Eu nunca fui muito de fusões", afirma Kiko Martins. Conta que o primeiro pensamento que teve quando a ideia do restaurante lhe foi surgindo — ênfase no "foi surgindo" porque, tal como afiança, a ideia não nasceu subitamente — foi: "Isto é ridículo, talvez seja a ideia mais parva que eu tive na vida". Assim, levou-a para a almofada, dormiu sobre o assunto e não a partilhou com ninguém: "Tive algum medo das reações (risos)".
Numa primeira fase, a ideia daquele restaurante era ser um mexicano que se destacasse por ter matéria-prima muito boa, high level, tal como assegura o chef. O toque japonês manifestou-se depois: "Após alguns testes — não sei se foi na [elaboração da] tostada ou nos aguachiles — comecei a perceber que [esta fusão] se tratava de uma cozinha que ficava muito bem e que [a gastronomia mexicana] ganhava alguma elegância e nobreza com ingredientes e técnicas japonesas". Para os cerca de trinta pratos que a carta exibe, foram feitos 150 testes. "A meio dos testes comecei a delinear o conceito: uma cozinha mexicana com um toque japonês".
O menu abre com os tacos, são quatro opções onde o clássico al pastor de secretos de porco preto e ananás (€7,30) encabeça a lista. "Temos o nosso espeto com barriga e secretos de porco preto e fazemos como se faz no México", explica Kiko Martins. Há ainda o de pato confitado e laranja (€8,20); o de tempura de camarão black tiger (a tempura a remeter ao Japão) com panko e maracujá (€8,40) e o de rabo de boi "12 horas" e ovo de codorniz (€9,30).
Seguem-se os aguachiles "prato muito fresco e aromático, basicamente é um primo do ceviche peruano, onde introduzimos alguns produtos e técnicas japonesas", explica o chef. São seis opções: salmão braseado com abacaxi e yuzu (€21,80); tataki de lombo de atum e edamame (€23,70); sashimi de lírio e gamba do Algarve (€22,40); lula e polvo (€22,60); sashimi de vieira e maracujá (€23,90); carabineiro e aipo (€38,30).
Nas tostadas as hostes abrem com: tártaro de salmão e gamba do Algarve (€8,40). Segue-se o sashimi de lírio com abacate e ponzu (€9,70); tártaro de novilho com gema de ovo (€8,80), e barriga de atum (€14,30). Já no que respeita às quesadillas, são duas as opções de autor: chouriço bellota, feijão preto e cheddar (€9,80) ou a tempura de camarão mozzarella e aioli (€10,30).
A fechar o menu faz-se o devido elogio à carne, onde o Japão volta a estar em destaque: tonkatsu de barriga de leitão e arroz yakimeshi (€29,80); tonkatsu de rabo de boi confitado e arroz yakimeshi (€31,60); yakitori de picanha (280g/€32,70). E o mais especial: yakitori de kobe (250g/€167,80).
Passemos às bebidas. À entrada do novo restaurante, com 37 lugares — 16 dos quais em duas barras com oito lugares cada —, existe um bar de cocktails onde, além da já mencionada Sakurita (€13,60), uma belíssima versão da margarita mexicana, se juntam a Classic Margarita (tequila blanco, triple sec e lima, €12,90) e o Las Dos Manos Sour (tequila blanco, triple cec e clara de ovo, €13,80). Nas opções sem álcool surge o Coconut Passion (ananás, coco, lima e frutos vermelhos, €11,30). Onde se celebra o México não poderia faltar a Tequila & Mezcal: nas tequilas o Cazcabel Blanco e Patron Silver (€5,20 e €7,30); no Mezcal, o Ojo de Tigre e o Meteoro Joven (€5,40 e €7,60).
A encerrar esta simultaneamente distante e deliciosa viagem entre o México e o Japão estão as três sobremesas: churros com doce de leite, milho, granizado de lima e tequila (€8,60); chocolate picante (€9,40) e flan de três leites com gelado de goiaba (€8,80).
As opções podem ser feitas à carta ou optando pela degustação Las Dos Manos: cinco pratos e uma sobremesa, €66,70 (por pessoa).
Afinal, confirmou-se. A intuição de Kiko Martins estava certa. "A ideia disparatada até faz algum sentido". E concluiu: "estou muito contente, foi tudo feito com muito tempo, carinho e dedicação. Sinto que está tudo muito afinadinho". Não poderíamos concordar mais.
Onde? Rua S. Pedro de Alcântara 59, Lisboa. Quando? Todos os dias, das 12h às 23h30.
De tripas à moda do Porto a sarrabulho vegetariano. O evento gastronómico do ano
A segunda edição do Melting Gastronomy Summit terá lugar no recém-inaugurado Mercado do Bolhão, no Porto, a 25 e 26 de novembro.
Vinhos para preparar o final do outono
Num período em que as vinhas ganham cores antes de perderem as folhas, um abafado para aquecer a alma e o corpo, dois tintos a norte e um clássico a sul, uma parceria franco-portuguesa e um vinho “do outro mundo”.
Vinhos para surpreender (e alguns com potencial de guarda)
Na última semana do mês, o lançamento de um vinho do Dão que faz corar de vergonha os “reserva” que vão saindo todos os anos. Um transmontano com um posicionamento acima do comum, dois brancos do Alentejo e Douro, um tinto de Mértola e um espumante dos verdes.
Arrebita Alentejo. Petiscos low-cost e concertos gratuitos a sul
De 19 a 20 de novembro, o mercado municipal de Santiago do Cacém recebe chefs de todo o país como João Narigueta, Ana Moura, Filipe Ramalho e André Cruz. Experiências gastronómicas e animação musical não faltarão.
No jardim do Sr. Lisboa, os vegetais são os protagonistas
Não é um restaurante vegetariano ou vegano, mas tem a sua grande aposta nos alimentos que muitas vezes ficam esquecidos na ponta do prato, trazendo-os para o centro da narrativa: os legumes.
Duetos. A nova experiência gastronómica dos hotéis PortoBay
De 16 a 17 de novembro, os hotéis Les Suites e The Cliff Bay vão receber duetos compostos por um chef residente e um chef convidado, que prometem apresentar um menu dedicado a sabores madeirenses e algarvios.
Boa Kitchens. O restaurante pan-asiático que vai até casa
Para além de toda a dinâmica em torno dos pedidos, o novo estabelecimento gastronómico da equipa do Boa-Bao, que já existe na baixa lisboeta e no Porto, é perfeito para refeições rápidas ou almoços na espaçosa esplanada.
Mex Battles. As "lutas" de cocktails a que queremos assistir, no Mex Factory
A 28 de dezembro, o restaurante de Alcântara recebe um rival mexicano para disputar uma vitória: quem faz os melhores cocktails?
Restaurante Animal e os encontros no bar do hotel
A notícia nem é mais um hotel lindo no centro da capital, o que o Hotel Hotel é, mas onde, em abono da verdade, muito poucos lisboetas ficarão hospedados. O convite é para ir ao restaurante Animal, que não tendo nada de selvagem é ideal para soltar os sentidos mais sofisticados no meio da sua floresta interior.
No Convento do Beato, em Lisboa, premiou-se o talento nacional no que respeita à gastronomia, ao mesmo tempo que se assinalou o empoderamento feminino, com o cocktail e um jantar de gala exclusivamente criado por quatro chefs portuguesas: Justa Nobre, Ana Moura, Marlene Vieira e Sara Soares.
Das entradas às sobremesas, o sabor intenso da trufa d’Alba delicia o inverno no restaurante italiano, em Sintra.
Em novembro preparam-se as videiras para as chuvas e para o novo ciclo que se inicia. As folhas caem e a planta entra em hibernação antes de se iniciar a fase da poda. Para muitos, o mês mais tranquilo nas vinhas.
Um Pinot Noir sem nada a temer dos borgonheses, um espumante que não é branco nem rosé, mas Baga, e três vinhos de terroir de vinhas muito velhas. A Casa da Passarella foi ao passado abrir caminho para os vinhos de amanhã, e o resultado é francamente especial.