Prazeres / Test drive MUST

Test drive MUST. Polestar 2, o 1º elétrico da marca do universo Volvo

Paradoxal, o título? Nem por isso. O Polestar 2 representa a aposta da Volvo no mercado dos veículos 100% elétricos. Tanto assim que não se limita a lançar os seus próprios EV, até criou uma marca dedicada a eles.

14 de outubro de 2022 | Luís Merca

Polestar, o que é isso?

Trata-se de uma marca pertencente ao universo Volvo (que, por sua vez, pertence ao universo Geely). Nascida como equipa de competição, a Polestar preparava, inscrevia e fazia correr modelos Volvo. Ficarão para sempre na nossa memória os S60 azuis que competiram no Mundial de Turismos. Em 2009, a Polestar começou também a muscular, afinar e melhorar vários modelos Volvo, dotando-os de um carácter eminentemente desportivo – um pouco como a divisão M para a BMW ou a AMG para a Mercedes. Em 2015, é adquirida pela Volvo. A estrutura de competição mudou o nome para Cyan, enquanto a "nova" Polestar era anunciada em 2017 como uma marca de corpo inteiro, especializada em modelos elétricos de cariz desportivo.

Polestar é uma marca pertencente à Volvo
Polestar é uma marca pertencente à Volvo

Polestar 2, significa que é o segundo?

Sim e não. Houve, de facto, um Polestar 1, fabricado em série bastante limitada: um Gran Turismo 2+2 dotado de uma motorização híbrida plug-in, baseada no 4-cilindros de dois litros da Volvo, secundado por um motor elétrico. Potência total de 600 cavalos, tração integral e caixa de 8 velocidades. O interessante do Polestar 1 era o seu design exterior, influenciado pelo famoso Volvo P1800 já aqui retratado.

Pode, por isso, dizer-se que o Polestar 2 é o primeiro modelo da marca, já que foi projetado, construído e lançado na vigência da "nova" Polestar, marca dedicada a construir viaturas elétricas. Por falar nisso, a Polestar não se ficará por aqui: acaba de ser apresentado o SUV de tamanho médio Polestar 3 [vd caixa], para o ano está previsto um SUV compacto, para 2024 um executivo, e para 2026 um desportivo/grand tourer. Nada mal para uma marca tão jovem.

Polestar 2
Polestar 2

À primeira vista, o exterior

O Polestar 2 é um sedan de cinco portas, um fastback pela sua silhueta e pela quinta porta – um portão – na traseira. O design exterior pode classificar-se como, digamos, um Volvo minimalista ‘ma non troppo’: linhas retas, alguns ângulos, uma traseira volumosa – onde sobressai a linha contínua das luzes traseiras, um fino traço a vermelho, como se fosse uma "lâmina" composta por 288 LEDs. Já a dianteira é tipicamente Volvo, não faltando sequer o "martelo de Thor" nos faróis dianteiros. Não sendo um SUV, o Polestar 2 é alto, com uma generosa distância ao solo, sublinhada pelas também generosas jantes de 19 polegadas (20" na unidade que nos calhou para ensaio).

Faróis dianteiros:
Faróis dianteiros: "o martelo de Thor"

E lá dentro?

Estava tudo a correr muito bem ao entrar para o Polestar 2: bastante espaço interior, cinco adultos viajarão à vontade, com a bagagem arrumada debaixo do tal "portão"-5ª-porta. Espaço é coisa que não falta. Olhando à volta, o design interior é também ele clean, depurado, sem lugar para o supérfluo. Único ponto que destoa: a qualidade de alguns plásticos (por exemplo, nos flancos da consola central), que são duros, rugosos, de toque pouco agradável. Algo que não é digno numa marca pertencente à Volvo. Tirando isso, uma boa nota para a ambiência interior, luminosa (pudera, com aquele enorme tejadilho em vidro) e espaçosa.

Interior do Polestar 2
Interior do Polestar 2

Tecnologia

Dois motores, um em cada eixo, logo, tração integral. Potência total de 408 cavalos, mais que suficiente para dotar o Polestar 2 de um comportamento em estrada de alto nível. Existe um Performance Pack que aumenta a potência para os 470 cavalos.

A bateria de iões de lítio de 400 V está integrada no piso, fechada numa caixa de alumínio rígida, e o seu baixo posicionamento liberta mais espaço no habitáculo, ao mesmo tempo que baixa o centro de gravidade, aumenta a rigidez torcional em 35% e também contribui para a estratégia de ruído, vibração e aspereza (NVH), reduzindo os níveis de ruído interno em 3,7 dB. Um ponto que contribui para a autonomia (481 km segundo a norma WLTP) é a existência de uma bomba de calor. Esta faz baixar o consumo que se perde no aquecimento do habitáculo, aproveitando o calor ambiente e o produzido pelo conjunto motor-caixa. Segundo a marca, até 10% de autonomia podem ser obtidos graças à bomba de calor.

Outro tema caro à Volvo é a segurança, e o Polestar 2 possui uma panóplia ativa e passiva de equipamento que visa proteger quem viaja dentro do seu carro.

Motor-caixa
Motor-caixa

Ao volante

Botão start/stop? Não há. É só pisar o pedal do travão e engrenar a manete da caixa automática em D ou em R (se quisermos fazer marcha-atrás). Travão de mão, ou de pé ou do que quer que seja, mecânico ou eletrónico? Também não. O botão P "tranca" tudo e o veículo está pronto para se desligar.

Na estrada, o Polestar 2 faz jus ao caderno de encargos da marca: ser desportivo. Daí a suspensão ser um pouco durinha, nada de demasiado mas facilmente identificável: é mais duro do que o pisar de um Volvo (mais suave e confortável). Não significa que seja desconfortável, longe disso, mas para se ter um comportamento desportivo, as suspensões não podem ser moles, sob pena de adornar em curva como se de um veleiro de tratasse.

A resposta do(s) motor(es) é imediata, como sempre acontece num EV, e as acelerações são de encostar as costas ao banco. A travagem é muito boa (a unidade testada tinha umas belas pinças de travão Brembo, em amarelo, para não passarem despercebidas e para fazerem ton sur ton com os cintos de segurança, também amarelos). Já a travagem regenerativa – levantar o pé do acelerador – faz com que as rodas travem bastante o andamento enquanto produzem energia elétrica, permitindo vários (muitos) quilómetros em modo one-pedal.

Cinto de segurança amarelo
Cinto de segurança amarelo

Preço e hipóteses no mercado

Começando nos € 48.900 e indo por aí acima até aos € 70.900 (à boleia dos packs disponíveis), o Polestar 2 encontra-se bem posicionado para ter sucesso num mercado como o nosso, particularmente apoiado nas vendas a frotas e a empresas. Mas mesmo o particular encontrará aqui um preço competitivo, quando comparado com "estrelas" e "hélices". Já quanto àquela marca americana que deverá constituir a sua principal concorrente, bem, a luta continua.

Polestar 3
Polestar 3



Polestar 3, o SUV

A Polestar acabou de apresentar um SUV de tamanho médio, cavalgando assim a onda de uma moda que não há meio de se dissipar: a Europa gosta, definitivamente, de SUVs. O novo modelo chegará aos mercados no quarto trimestre de 2023, a preços acima dos 90 mil euros.

Saiba mais Polestar, Volvo, Automóveis, Carros
Relacionadas

Renault Mégane E-TECH 100% elétrico, um caso sério

Caso sério pela positiva, note-se: é que não se trata apenas de mais um Renault, nem de mais um EV. O escriba vai tentar explicar, no espaço limitado de um artigo online, o que o levou a escolher aquele título ali em cima. Que os deuses do automóvel lhe dêem engenho e arte.

Fiat 500: ‘la dolce vita’ aos 65 anos

Símbolo de uma Itália que se reerguia dos escombros da guerra, há seis décadas e meia este modelo assinalava também o renascimento do gigante industrial Fabbrica Italiana Automobili di Torino.

Ainda se lembra do Opel Kadett?

As efemérides são assim: parte-se do presente, viaja-se até ao passado e lá se encontra (mais) um marco da história do Automóvel. Em 1962, nascia o Opel Kadett.

Um Mustang de ligar à corrente? Sim, mas...

Descansem os puristas: o coupé e o cabrio Mustang ainda existem, estão bem e recomendam-se. Entretanto, está desvendado o mistério: por que carga de água foram dar este nome mítico a um EV? Deram e até nem deram mal.

Veículos elétricos. Top 12 testados em 2022

Doze meses de test-drives e, desses, um apanhado de uma dúzia de veículos 100% elétricos. Os 12 magníficos EV testados no ano que agora finda – e 2023 está aí ao virar da esquina, com promessas de ainda mais e melhor.

Gasolina ou gasóleo? Eis a questão

Com os preços dos combustíveis de pernas para o ar – gasóleo mais caro que gasolina – a Mazda respondeu a esta pergunta "shakespeareana". Vejamos o que nos diz o teste a este CX-5 2.0, um gasolina que se comporta (quase) como um diesel.

Aiways U5, o novo SUV elétrico da China com amor

Um SUV elétrico chinês? Mobilidade sustentável vinda do Império do Meio? Napoleão já tinha avisado, não tinha? Quando a indústria automóvel chinesa acordar (já acordou), irá fazer tremer o mundo.

Mais Lidas
Drive ZEEKR: mais uma marca chinesa?

Não exatamente. Uma marca chinesa, sim, mas especializada em veículos elétricos dirigidos ao setor premium. E que visa, direta e desavergonhadamente, a Tesla de Mr. Elon Musk. Conseguirá batê-la? As primeiras impressões são muito promissoras.