Renault Mégane E-TECH 100% elétrico, um caso sério
Caso sério pela positiva, note-se: é que não se trata apenas de mais um Renault, nem de mais um EV. O escriba vai tentar explicar, no espaço limitado de um artigo online, o que o levou a escolher aquele título ali em cima. Que os deuses do automóvel lhe dêem engenho e arte.
Tecnicalidades
Comecemos pelos números, pela tecnologia, pelo jargão técnico. Assim fica despachada essa vertente sem a qual um artigo sobre automóveis não seria um artigo sobre automóveis. O novo Renault Mégane E-Tech chama-se Mégane mas poderia perfeitamente chamar-se Captur, já que esse é mais ou menos o modelo semelhante em termos de tamanho. Estreia uma nova plataforma da Renault, chamada Common Module Family (CMF-EV para os amigos, sendo o sufixo EV, evidentemente, referente a Electric Vehicles), plataforma essa que é exclusiva para veículos elétricos. A colocação das quatro rodas exatamente nos quatro cantos da plataforma resulta, logo à partida, numa considerável distância entre eixos (2.69m, para um comprimento total de 4.20m), que é a chave para um bom espaço no habitáculo. Também o reduzido tamanho da bateria, extremamente fina (11cm de espessura!), contribui para esse score – muito embora o espaço para as cabeças dos ocupantes dos lugares traseiros pudesse ser um pouco melhor, mas isso deve-se ao desenho da carroçaria (já lá iremos). Mais dados técnicos: a dita bateria pode ter uma capacidade de 40 ou de 60 kWh e alimenta um motor – sobre o eixo dianteiro, logo trata-se de um tração à frente – com potências de 130 ou 220 cavalos. A autonomia vai dos 300 aos 470 km, consoante a capacidade da bateria e a potência do motor.
Design exterior
É bem conseguida esta nova linguagem estilística que a Renault apelida de "sensual-tech". Um bom chavão inventado pelo marketing da marca francesa e que se traduz em linhas desportivas mas depuradas (até os puxadores das portas são escamoteáveis), numa silhueta que alterna entre o monovolume e o SUV de menores dimensões – o termo "SUV", bem como o "crossover", dão para praticamente tudo o que um fabricante automóvel deseje hoje em dia. E sim, há uma certa sensualidade nas linhas do Mégane E-TECH. E dinamismo também: visto de lado e desde os ¾ traseiros, parece um predador prestes a saltar sobre a sua presa, com uma linha de carroçaria relativamente alta e a descer a caminho da frente do carro. As ópticas, à frente e atrás, dão ao modelo uma personalidade marcada (chama-se atualmente a isso a "assinatura luminosa").
Lá dentro
Tudo isto é muito bonito, o ‘design’ é um ponto forte, mas a superfície vidrada, principalmente atrás, ressente-se da silhueta descendente, quase em cunha, da carroçaria. A visibilidade para trás e de novo para os ¾ não é a mais vasta do mundo, e uma jogada inteligente foi dotar o espelho retrovisor de uma artimanha hi-tech: puxando a patilha anti-encadeamento, o espelho transforma-se num ecrã que transmite tudo o que uma câmara de vídeo capta na traseira do automóvel. O espaço interior é mais que suficiente para cinco adultos, a atmosfera a bordo é ampla e agradável, mas nos lugares traseiros o espaço para a cabeça é algo acanhado – digamos que Shaquille O’Neal se sentiria um pouco claustrofóbico. A dotação de equipamento é quase uma feira de tecnologia, com destaque para um tablier rico, moderno, uma verdadeira montra hi-tech. Mas o que mais impressiona no interior do Mégane E-TECH é a qualidade de materiais e o alto nível dos acabamentos. Sem que isto represente qualquer preconceito em relação à marca francesa, dificilmente se diria que se está dentro de um Renault. É de facto muito agradável o interior do Mégane E-TECH, dá vontade de estar lá dentro.
Ao volante
De referir que este – o volante – tem um formato, digamos, retangular com os vértices curvos. À volta dele, quatro-manípulos-quatro (!)... à esquerda, os piscas e as luzes; à direita, os limpavidros, o satélite de controlo da música e, last but not least, a manete da caixa de velocidade automática. Enfim, é uma certa congestão, não teria sido possível reduzir um pouco? Posição D engrenada, o Mégane E-TECH evolui na estrada com muito bom pisar – cortesia das quatro rodas nos quatro cantos – e proporciona uma experiência de condução bastante agradável. Os 220 cavalos são suficientes para quase todas as situações com que o condutor se depare e, quanto aos ocupantes, o nível de conforto a bordo e de isolamento de ruídos é condição para não terem qualquer razão de queixa.
Afinal é um caso sério porquê?
O Renault Mégane E-TECH não é o mais bonito dos EV. Nem o mais potente, nem o mais rápido, o maior, o mais económico. Não proporciona a maior autonomia, nem o carregamento mais rápido, muito menos as maiores acelerações ou as travagens com maiores forças G. Também não é o mais luxuoso nem o melhor equipado. Mas no conjunto é – e o escriba jura a pés juntos – um dos melhores (talvez o melhor) que ele testou neste ano da graça de 2022. O seu trunfo reside naquilo que oferece: um conjunto agradável, bem pensado, muito bem fabricado, e por preços bastante competitivos. Começam nos €35850 da versão équilibre (oui, en français dans le texte) e vai até aos €46850 da versão iconic; a meio fica aquela que nos parece mais equilibrada, a versão techno, a partir dos €43850. Em suma, o Mégane E-TECH é uma aposta vencedora por parte da Renault. Inaugurando o que a marca francesa chama a Geração 2.0 dos seus veículos elétricos, pode ser este o caminho certo para os EV do futuro próximo. Daí o caso sério.
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