60 anos de Lamborghini: dos tratores aos super-carros
Incompatibilizado com o Commendatore Ferrari, um industrial de tratores decidiu fundar a sua própria marca de automóveis desportivos de luxo. Em 1963, há 60 anos, nascia a Lamborghini.
Prelúdio
Ferruccio Lamborghini (1916-93) fez fortuna como fabricante de tratores. Na reconstrução da Itália do pós-guerra, o trator era um bem de enorme valor e a Lamborghini Trattori obteve grande sucesso num mercado que voltava a dar os primeiros passos depois da total destruição. Amante de automóveis desportivos de grande gabarito, o que na altura se apelidava Gran Turismo, comprou vários modelos de um recém-lançado fabricante de automóveis, um tal Enzo Ferrari. Mas não apreciava alguns pormenores da marca de Maranello: os interiores espartanos, aos quais faltava o toque de luxo que justificasse o elevado preço, materiais de menor qualidade – como, por exemplo, as embraiagens, que obrigavam a idas frequentes à oficina – e o serviço pós-venda, que não estava à altura da exclusividade que a marca pretendia. Levando essas críticas ao próprio Enzo Ferrari – pessoa cuja personalidade não era, digamos, a mais fácil de se lidar – Lamborghini viu-se enxovalhado pelo futuro Comendador, que questionou o que é que um fabricante de tratores saberia de automóveis para estar a fazer tais críticas. Vexado e completamente certo de que ele próprio conseguiria fazer melhor, Ferruccio Lamborghini lançou-se então num novo projeto da sua vida industrial: criar um verdadeiro Gran Turismo, um GT, que na altura significava um automóvel de grandes prestações e elevado luxo, capaz de fazer longas viagens num ambiente de grande conforto.
Automobili Lamborghini
Em 1963, na localidade de Sant’Agata Bolognese, entre Bolonha e Modena, nascia o fabricante automóvel Lamborghini. Característica fundamental do(s) carro(s) do novo construtor: motor central, tração às rodas traseiras, motorizações de arquitetura nobre – a mais nobre, aliás, os 12 cilindros em V. Outra peça do conceito muito próprio da marca e que se mantém até hoje: apesar de produzidos em (pequena) série, os modelos Lamborghini são objeto de trabalho específico por parte de empresas externas, carroçadores na sua maioria, que afinam e elevam ainda mais a exclusividade dos automóveis, quer nos interiores, quer no exterior. Ainda mais uma particularidade: os primeiros Lamborghini de série derivavam de protótipos apresentados em salões automóveis e em concursos de design e elegância – medindo a reação do público, submetendo, aqui e ali, o protótipo a exercícios de personalização de acordo com o gosto do (endinheirado) cliente, a marca recolhia importantes dados e ensinamentos que depois aplicava na linha de montagem.
350 GT, o primeiro Lamborghini de série
Entre 1964 e 1966, o 350 GT inspirou-se precisamente num desses protótipos, o 350 GTV, antes de ser fabricado em série. As linhas exteriores foram retrabalhadas e o motor V12 de 3500 cm3, derivado da competição, foi "esvaziado" dos 400 para uns ainda assim muito respeitáveis 270 cavalos, de forma a assegurar maior longevidade e uma utilização mais civil – e civilizada – na estrada. Há que notar que, em 1964, um automóvel atingir os 254 km/h de velocidade máxima só estava ao alcance de poucos, muito poucos, fabricantes.
Miura, uma beleza intemporal
É atualmente uma das coqueluches dos leilões de automóveis clássicos e, quando aparece um, atinge por norma valores astronómicos. Batizado com o nome de um touro (sobre a ligação entre a Lamborghini e a tauromaquia, já lá iremos), o Miura foi produzido entre 1966 e 1973 – o choque petrolífero desse ano acelerou o seu fim. As linhas exteriores, desenhadas por Marcello Gandini – que viria a desenhar também o Countach e o Diablo, além do Citroën BX, BMW Série 5, Lancia Stratos e Renault Super 5 – são de uma beleza que o passar dos anos não belisca minimamente. O motor V12 estava acoplado à caixa de velocidades e ao diferencial, todo o conjunto montado em posição central sobre o eixo traseiro, num modelo que, pasme-se, foi desenvolvido em segredo por engenheiros da Lamborghini, já que o patrão Ferruccio não queria carros tão agressivos e tão evocativos da competição automóvel, coisa que deixava para o rival Ferrari.
Countach, a besta automóvel
Poderiam bem tê-lo batizado 666, tal o ar monstruoso da carroçaria desenhada pelo já referido Marcello Gandini para o estúdio de design Bertone. Apresentado no Salão de Genebra de 1971 mas apenas produzido em série em 1974 – um mau timing, com a crise petrolífera a arrasar a economia mundial – o Countach deve o seu invulgar nome à palavra "contacc", uma expressão de espanto do dialeto piemontês. O motor viu a cilindrada aumentar para os 3.9 litros e a potência subir aos 370 cavalos (ainda assim, como medida de precaução, era menos do que seria possível extrair do V12, cerca de 440 cavalos).
Lamborghini & tauromaquia
Em 1962, Ferruccio Lamborghini – ele próprio um nativo do signo do Touro – visitou uma ganaderia em Sevilha e ficou impressionado pelo poder físico e a altivez dos touros criados para a arena. Nasceu aí o logótipo da marca e, desde então e com apenas algumas exceções, os modelos Lamborghini são batizados com nomes de touros famosos: Miura, Islero, Urraco, Jalpa, e até mesmo os mais modernos Murciélago e Reventón (lançados depois da morte de Ferruccio Lamborghini), aludiam às touradas e à arte da tauromaquia.
Lamborghini, 60 anos and counting...
Ferruccio Lamborghini vendeu o negócio do fabrico de automóveis em 1972, retirando-se para o centro de Itália, onde se dedicou a outro dos seus negócios e paixões: a viticultura. Após várias décadas em que mudou de mãos por meia dúzia de vezes, com uma falência pelo meio, a Lamboghini foi adquirida em 1998 pela Volkswagen e mantém-se até hoje sob a alçada de um sólido grupo fabricante de automóveis. A atual gama inclui o Revuelto, o Huracán, o SUV (!) Urus, além das séries limitadas Countach LP800-4 e Sián. Quem diria que um "fabricante de tratores" saberia tanto de automóveis...
Lamborghini do filme "O Lobo de Wall Street" vai a leilão
Referimo-nos, claro, ao Lamborghini Countach 25th Anniversary Edition de 1989 conduzido por Leonardo DiCaprio, um de apenas 12 exemplares enviados para os Estados Unidos com a pintura toda em branco, por dentro e por fora.
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