Portugal, a Fórmula 1, Sir Jackie Stewart, a Rolex e os recordes: uma história de emoções e velocidade
Lewis Hamilton ganhou outra vez e o público nas bancadas não respeitou o distanciamento social, mas parece que os pilotos adoraram o nosso Grande Prémio. O primeiro em mais de 20 anos.
Com 15 curvas e 4653 km de extensão, o circuito algarvio combina curvas rápidas, lentas e diferentes elevações que deixam muitas vezes os pilotos sem conseguir ver o que vem a seguir. Uma enorme branca num desporto que se decide em milésimas...
"As ondulações são incríveis", dizia Lewis Hamilton, "em muitos sítios não consegues ver onde estás e, de repente, descobres que estás mesmo em cima da curva."
Faz parte da emoção de correr em Portugal, contou-nos Sir Jackie Stewart, lenda do desporto e triplo campeão mundial da modalidade (1969, 1971 e 1973) no paddock reservado à Rolex, marca cronometrista oficial da Fórmula 1 da qual é embaixador. "Os pilotos de Moto GP dizem que é melhor circuito, e tenho a certeza de que teremos aqui uma corrida espetacular, com muitos momentos imprevisíveis em pista", contava-nos em jeito de prognóstico – e ainda sem ter visto a incrível primeira volta de Kimi Räikkönen na prova. Um tratado.
Boa parte dos pilotos concorda com a opinião e Pierre Gasly, da AlphaTauri, vai mais longe e compara a sensação a uma montanha russa: "Subimos, descemos e ficamos com aquela sensação no estômago… Uauu! Nunca me tinha sentido assim num F1". Sebastian Vettel, da Ferrari, acrescenta que é "a prova de que existem muitos circuitos excitantes por aí, só precisamos de saber escolher os melhores".
Jackie Stewart gosta desta emoção. No seu tempo era conhecido por ser um dos pilotos mais arrojados em pista, mas era também um dos principais campeões em prol da segurança: "Havia quem me criticasse, dizendo que a F1 era um desporto perigoso, mas a minha condução, sempre no limite, dava-me credibilidade para defender a causa". À semelhança do que faria, anos mais tarde, outro grande campeão. Ayrton Senna, infelizmente, acabaria mesmo por falecer vítima dessa falha, e o mesmo só não aconteceu a Sir Jackie, provavelmente, porque abandonou as corridas em 1973. No auge da fama, no ano em que se sagrou triplo campeão do mundo, chocado com a morte do colega de equipa, François Cevert, nos treinos. Nessa altura, conta, "um piloto que corresse continuamente durante alguns anos tinha 2/3 de hipóteses de falecer".
Felizmente, hoje as estatísticas são bem diferentes, e essa não é a única melhoria que aponta: "no meu tempo não havia mulheres na F1 e hoje existem várias em todas as equipas. Também não havia pilotos negros e temos um campeão. A F1 tornou-se muito mais inclusiva", diz comparando as duas épocas.
No ano em que abandonou as pistas, Jackie Stewart estabeleceu um recorde somado de vitórias em Grandes Prémios que duraria até 1987, batido por Alain Prost quando venceu o GP de Portugal. Então disputado no Estoril. Um recorde que mais tarde passaria para Michael Schumacher e que voltou agora a ser batido, por Hamilton, mais uma vez num Grande Prémio de Portugal.
Sir Jackie acompanha o circo como embaixador da Rolex, que em 2013 cimentou a ligação ao desporto ao tornar-se parceira global e cronometrista oficial (tal como nas 24 Horas de Le Mans), mas a associação entre o piloto e a marca é de uma longevidade impressionante: vem desde 1968, antes ainda de ter vencido o seu primeiro título mundial.
Mais antigos ainda são os laços ao desporto automóvel, e sensivelmente aos anos 1930, e aos recordes mundiais de velocidade em terra de Sir Malcolm Campbell, que se tornou no primeiro piloto a superar a barreira das 300 mph (ou 483 km/h), ao volante de um Bluebird. O piloto inglês corria nas areias lisas de Daytona, na Flórida, ao pé do local onde hoje se ergue o famoso circuito e se correm as Rolex 24 at Daytona. O que poucos sabem, como relatou o jornalista Fernando Correia de Oliveira, é que cinco anos volvidos, Sir Malcom visitou o nosso país na esperança de estabelecer uma pista nas areias da Caparica, algo que teria certamente mudado o destino da vila. Infelizmente tal não viria a acontecer e a ligação da Rolex a Daytona continua inabalável, sobretudo ao pulso, pois é o nome de um dos modelos mais procurado pelos amantes da velocidade. Um relógio em particular, o Daytona que o ator Paul Newman utilizou durante a sua carreia de piloto, foi recentemente leiloado pela "módica" quantia de 17,8 milhões de dólares. Mais um recorde mundial. Mas não seria mais engraçado se o seu nome fosse Rolex Caparica de Paul Newman?
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