Tó Trips: “A música torna-me mais equilibrado”
O músico lisboeta está de volta em nome próprio com Popular Jaguar, um “álbum terapêutico e autobiográfico”, como revela nesta entrevista à Must, no qual viaja pelas várias geografias da sua música. Em paralelo, lançou também o livro Ínfimas Coisas, com fotografias, textos e memórias das muitas viagens que tem feito.
Tem sido intensa, a carreira de Tó Trips, desde o fim dos Dead Combo, tornado ainda mais dolorosamente real depois do desaparecimento físico de Pedro Gonçalves, a outra metade da dupla que escreveu uma das mais gloriosas páginas da história da música portuguesa neste século. Desde então criou os Club Makumba, esse manifesto de resistência em forma de festa, e por estes dias anda na estrada com os Xutos e Pontapés, a substituir em palco o velho amigo Zé Pedro, numa digressão dedicada ao icónico álbum Circo de Feras. Mas por vezes, antes de seguir em frente, é preciso parar e olhar para dentro, tal como Tó Trips faz neste Popular Jaguar, o terceiro registo em nome próprio, que sucede a Guitarra 66 (2012) e a Guitarra Makaka (2015), no qual viaja pelas imensas geografias da sua música, ora elétrica ora acústica, tão reconhecivelmente portuguesa quanto do mundo. Como revela nesta entrevista à Must, será porventura o seu álbum mais pessoal, autobiográfico até, que lhe serviu como terapia para "mandar para trás uma série de coisas" e seguir outra vez em frente, iniciando um novo ciclo. Um trabalho intimista e introspetivo que é agora também apresentado ao vivo em Lisboa, num concerto na Culturgest, onde terá a companhia de Helena Espvall no violoncelo e de António Quintino no contrabaixo.
Pode-se comparar este álbum a uma viagem?
Trata-se, acima de tudo, de um álbum autobiográfico, no sentido em que vagueia pelas minhas diversas geografias musicais e nesse sentido sim, pode-se comparar a uma viagem, embora esse conceito esteja mais presente no livro que também lancei agora, ao mesmo tempo do disco. Chama-se Infímas Coisas e recolhe algumas memórias, fotografias e textos curtos, sobre a minha vida e sobre as muitas viagens que já fiz. E vem acompanhado de um disco de sete polegadas, que de um lado tem um tema inédito e do outro uma montagem sonora com alguns sons que gravei em viagem.
Trata-se, então, de um álbum de balanço?
Nunca fui muito de olhar para trás e sempre me preocupei muito mais com o que vem a seguir, mas confesso que fazer este álbum foi um modo de me manter ocupado depois de um período muito complicado, que coincidiu com o fim dos Dead Combo, a morte do Pedro e até a própria pandemia. Acaba por ser um apanhado de todas as fronteiras que já cruzei com a guitarra. Reúne temas que fiz para filmes, para dança, exposições de arte urbana, mas sem ser uma mera compilação, pois todos eles foram reinterpretados e regravados para este disco. Lá está, acaba por ser a tal viagem pelas minhas múltiplas geografias, e apesar de ter temas muitos díspares entre si, creio que acabam todos por ser bastante reconhecíveis, enquanto meus. Digamos que foi uma maneira de arrumar a casa para iniciar um novo ciclo. É também a primeira vez que surjo na capa de um álbum meu, o que acaba por ter também um certo simbolismo, depois de tanto tempo a sermos sempre dois a aparecer nos discos dos Dead Combo.
Há então, também, um lado bastante terapêutico neste trabalho...
Sem dúvida, foi o modo que encontrei de mandar uma série de coisas para trás e seguir novamente em frente. Mas a música, para mim, sempre funcionou como uma terapia, como algo que me permite ser um tipo bastante mais equilibrado.
E que espaço têm os Club Makumba, a sua mais recente banda, nesta nova fase do Tó Trips?
Todo, estamos a fazer uma residência no Musicbox, onde tocamos sempre com um convidado diferente, já foi João Barradas, o Moulinex e em abril vamos ter o João Gomes, dos Fogo Fogo e Cool Hopnoise. A ideia, para já, é fazer um segundo disco. Gosto de tocar sozinho, mas sempre preferi estar em bandas, especialmente na estrada, porque o espírito é completamente diferente. Com este disco também não vou andar sozinho, porque vou ter a Helena Espvall e António Quintino a acompanharem-me, mais o técnico. Ou seja, já vou ter mais um ambiente de estrada. Mas já houve alturas em andava só eu, o que é uma seca, ir de Lisboa a Bragança, sozinho no carro. E eu até gosto de conduzir (risos)!
Mas agora até faz parte de outra banda, uma vez que foi convidado para ocupar o lugar de Zé Pedro durante a atual digressão dos Xutos e Pontapés, dedicada ao mítico álbum Circo de Feras. Que significado teve este convite, tendo em conta a conhecida amizade pessoal com Zé Pedro?
Convém esclarecer que não sou substituto, sou apenas um convidado, mas foi uma grande honra, claro. Quando me ligaram até pedi uns dias para pensar, pois achei que poderia parecer algo pretensioso da minha parte, mas depois falei com a Raquel, a minha mulher, e acabei por aceitar, porque a verdade é que os Xutos fazem parte da minha vida desde sempre. A primeira vez que fui a um concerto foi para os ver, no Jardim Zoológico, na última sessão da Febre de Sábado de Manhã, do Júlio Isidro. Como não tínhamos dinheiro para o bilhete acabámos por saltar o muro, eu e uns amigos, só para ir ver os Xutos. Numa outra vez fugi de casa com a perna engessada também para ir a um concertos dos Xutos, daqueles do 1 de agosto. Depois conheci o Zé, ficámos amigos e passou a ser uma pessoa sempre presente na minha vida. Foi ele que produziu o álbum de Lulu Blind, tivemos uma banda juntos, era um grande amigo... E devido a toda essa ligação até acabaria por ser deselegante se não tivesse aceitado o convite, mesmo pelo lado simbólico da coisa, mas lá que fiquei mesmo muito assustado, isso fiquei, confesso.
E é uma colaboração para manter no futuro?
Não, é apenas para esta digressão e depois cada um de nós segue o seu caminho. Eles ainda têm muito para fazer os três, nomeadamente um álbum sem o Zé Pedro. E eu prefiro sempre ter as minhas próprias cenas...
Além das viagens referidas no livro, o próprio álbum tem muitas referências a lugares por onde passou. As viagens inspiram-no, enquanto artista?
Bastante e não só enquanto artista. Acredito que quem viaja sabe sempre um pouco mais. Tem-se uma outra visão do mundo, mais tolerante, devido a essa relação com que é necessário estabelecer com o outro. E acabamos também por nos conhecermos melhor a nós próprios. No meu caso são sempre momentos muito inspiradores e de grande reflexão. Viajar torna-nos sempre um pouco mais ricos.
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