Isto Lembra-me Uma História: Três adeptos à espera da equipa
O Paris Saint-Germain conquistou o campeonato de França pela 11.ª vez, o que constitui um recorde absoluto de títulos. Contudo, os adeptos parisienses não pareceram particularmente impressionados com o feito. Nem eles, nem ninguém, aliás.
O PSG sagrou-se, no sábado, 27 de maio, campeão de França. Trata-se de uma notícia sem surpresa para quem acompanha minimamente a atualidade futebolística. É somente a confirmação de uma expectativa que se renova a cada época desde que a Qatar Sports Investments se tornou, em 2011, proprietária do clube e o CEO do fundo de investimentos, Nasser Al-Khelïfi, passou a ocupar o lugar de presidente.
No que toca a novidade, merece muito maior destaque a receção que a comitiva do Paris Saint-Germain teve no regresso a Paris. Vindos de Estrasburgo, onde empataram 1-1 conquistando o ponto que lhes bastou para se sagrarem campeões franceses pela 11.ª vez, os jogadores e a equipa técnica do Paris tinham à sua espera não menos do que três adeptos para os saudarem por mais esta conquista. Não é piada nem brincadeira, há imagens que mostram os três fanáticos do PSG que esperaram até de madrugada para celebrarem a conquista do título de campeão da Ligue 1 com os seus ídolos.
Vale a pena notar que, ao conquistar o título de campeão francês, o Paris Saint-Germain bateu o recorde absoluto de campeonatos conquistados, superando o Saint-Étienne, que tem 10, e afastando-se de Olympique Marseille (9), AS Mónaco (8), Nantes (8) e Olympique Lyonnais (7). O campeonato francês é assim mesmo, já teve muitos campeões (19, no total) e várias épocas hegemónicas - o Saint-Étienne dmoninou nos anos 60, o Marselha ganhou vários campeonatos da segunda metada da década de 1980 e no início da de 1990, e o Lyon conquistou todos os seus títulos de campeão entre 2001-2002 e 2007-2008, ou seja, foi heptacampeão. Já o PSG, ganhou 9 dos seus 11 títulos nos últimos 11 anos, precisamente depois da entrada em cena do fundo de investimentos Qatar Sports.
O facto de haver apenas três adeptos entusiasmados o suficiente com mais um título de campeão tem tudo para ser absolutamente bizarro - a começar pelo facto de se tratar de um clube parisiense e de Paris ter a mais populosa área metropolitana da Europa Ocidental, com cerca de 11 milhões de habitantes. Certamente, nem todos os parisienses serão adeptos do PSG, mas convenhamos que, de entre 11 milhões, haver apenas três pessoas disponíveis para congratular a equipa da capital francesa, parece manifestamente pouco.
Poderão alegar que se tratava de uma hora tardia aquela a que o avião da equipa bilionária, carregado de jogadores milionários, aterrou nas imediações de Paris. Mas isto lembra-me uma história, que me conta um amigo meu, muito orgulhoso de cada vez que a recorda. Em 2013-2014, o Benfica eliminou a Juventus nas meias-finais da Liga Europa. O jogo da segunda mão foi disputado em Turim, depois de uma vitória magrinha dos lisboetas por 2-1 no Estádio da Luz. Nessa altura, a regra dos golos fora ainda dava vantagem em caso de empate no acumulado das duas mãos. Estando a final agendada precisamente para o Juventus Stadium, era de supor que os italianos não dessem chance à equipa portuguesa e virassem a eliminatória com relativa facilidade, até porque à época a Juve era uma equipa muito mais rica e poderosa do que o Benfica. Acontece que esse Benfica, treinado por Jorge Jesus, tinha uma fibra rara e conseguiu, de modo praticamente épico, segurar a vantagem, chegando ao fim dos 90 minutos de quase massacre com as redes da baliza de Jan Oblak imaculadas: terminou 0-0, o que bastou para apurar os encarnados para final.
Esse meu amigo tomou então uma decisão, juntamente com outros amigos: ir esperar a equipa ao aeroporto. O Benfica aterraria em Figo Maduro daí a algumas horas, ninguém sabia ao certo quantas. Tudo isto aconteceu a uma quinta-feira, e este apontamento não é despiciendo. Segundo os relatos, a comitiva benfiquista terá chegado já bem dentro da madrugada, depois das quatro da manhã, talvez até já fossem cinco.
Chegado ao pé da saída do aeroporto, esse meu amigo foi obrigado a estacionar o carro quase a dois quilómetros do local. Porquê? Porque estava tudo cheio. Quinta-feira, madrugada já bem alta e eram milhares os adeptos do Benfica que ali aguardavam os seus heróis pelo simples facto de terem conseguido apurar-se para a final da Liga Europa - nem sequer foi por a terem ganhado (haveriam mesmo por vir a perdê-la no desempate por penaltis contra o Sevilha, depois de um teimoso empate 0-0). Eram quase cinco da manhã e ninguém arredava pé. Eufóricos, os benfiquistas faziam questão de mostrar a sua paixão pelo clube e a sua admiração pelo Benfica. Estavam ali para ficar e ficaram até ser possível saudar os jogadores.
Dir-me-ão que são mais sensatos os adeptos parisienses, que fizeram uso do juízo e foram deitar-se a horas decentes em vez de ficarem de pé, ao frio, à espera de um bando de jogadores hiper-ricos. E é verdade, é uma perspetiva razoável, lógica e certa como só as coisas frias e racionais conseguem ser. Sucede que no futebol a paixão futebolística é um fenómeno pouco dado à lógica e à razão. Pelo que, se só havia três adeptos à espera do Paris Saint-Germain campeão não terá sido por excesso de bom-senso, mas antes por falta de paixão. É que o dinheiro pode comprar muita coisa, mas não compra tudo. Não compra o fervor dos adeptos, por exemplo. Por muitos Messis e Neymares e Mbapés que se leve a bordo, quem fica em terra vibrará sempre muito mais com as vitórias sentidas e sofridas do que com o tédio da função cumprida praticamente por obrigação: juntaram ali os mais caros e talentosos e eles inevitavelmente ganharam. Mas não conquistaram ninguém. Ou, no máximo, talvez tenham tocado o coração daqueles três adeptos que os aguardavam.
Isto Lembra-me Uma História: Coldplay e a arte de chamar ao palco
Esta história de ter convidados debaixo do mesmo holofote não é sempre igual. Às vezes, é muito surpreendente, como aconteceu em Coimbra. Mas há uma história capaz de deixar Chris Martin de queixo caído.
Isto Lembra-me uma História: Comboio com destino à tragédia
Na Índia, os acidentes de comboio matam muito. O acidente de 2 de junho junta quase três centenas de vítimas à contabilidade trágica. Por cá, o pior desastre de comboio aconteceu há quase 40 anos.
Isto Lembra-me Uma História: Este é o Festival da Eurovisão: entre a modernidade e a tradição
No rescaldo da cerimónia de sábado, que decorreu em Liverpool, Inglaterra, importa olhar para o histórico festival, ganho pela sueca Loreen, e que contou com a portuguesa Mimicat.
Isto Lembra-me Uma História: a Seleção de Portugal voltou
Foi um jogo com uma boa vitória e pouca história, mas recheado de pequenos episódios que evocam várias memórias. Dos assobios às invasões de campo, deixou muito para recordar.
Isto Lembra-me Uma História: O Presidente já não gosta do primeiro-ministro
Foi bom enquanto durou, mas a relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa está desgastada pelos sucessivos casos no Governo. A não-demissão de João Galamba foi o golpe mais recente.
Isto Lembra-me uma História: À espera da morte no fundo do mar
O trágico acidente do submergível de recreio Titan mexeu com a opinião pública durante uma semana inteira. O caso despertou consciências e acendeu debates, uns mais, outros menos válidos - mas ninguém lhe ficou indiferente. E ainda recuperou uma das memórias mais horríveis dos últimos 30 anos.
O primeiro jantar às cegas Beyond Vision chega ao Blind, no Porto, já no dia 23 de novembro.
Com uma seleção cuidada de peças de renome, torna-se um ponto de referência na cidade de Lisboa para amantes de interiores, combinando estilo e funcionalidade com um toque de exclusividade.
Aquela palavra de que ninguém gosta anda de novo nas bocas do mundo: crise. Nas bocas e nas barrigas, porque esta não é uma qualquer, é a crise da restauração. E o encerramento de dois eminentes restaurantes de Lisboa deu origem a um debate tão interessante quanto urgente. Conversa com Leopoldo Calhau, Vítor Adão e Hugo Brito.
O mercado do luxo é fascinante. Põe a maioria das pessoas a sonhar com algo que, na realidade, desconhece ou a que não pode aceder. Mas este setor está a aprender a conhecer-se. Depois de ter sido intocável durante tanto tempo, não ficou indiferente ao novo milénio e reinventa-se.