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Tudo o que precisa de saber sobre a America’s Cup

A partir de 29 de agosto, começa a ser decidido o destino da America’s Cup, a mais antiga competição desportiva do mundo. E tudo acontece aqui ao lado, em Barcelona, onde os barcos vão literalmente voar, mais do que navegar.

Foto: DR
29 de agosto de 2024 | Bruno Lobo

Seis equipas começam hoje a competir na Louis Vuitton Cup, a prova que vai determinar quem terá a honra de desafiar o atual detentor da America’s Cup. Os italianos da Luna Rossa Prada Pirelli e os americanos do NYYC American Magic (New York Yacht Club) são os favoritos, mas atenção aos ingleses da Ineos Britannia, aos suíços da Alinghi Red Bull Racing e aos franceses da Orient Express Racing Team. Todas as equipas vão enfrentar-se em duelos individuais, onde cada vitória vale um ponto. Por isso, senhoras e senhores, preparem-se para assistir às corridas de veleiros mais emocionantes que já viram na vida (assumindo que já viram algumas...).

A espetacularidade das provas está garantida pela velocidade a que estes barcos se deslocam na água, voando literalmente, mesmo sem motor. São os barcos à vela mais rápidos de sempre, e cada equipa investiu entre 100 e 150 milhões de euros para ter a oportunidade de disputar a America’s Cup – a mais antiga competição desportiva internacional e a mais prestigiada prova de vela do mundo.

Os italianos da Luna Rossa Prada Pirelli (direita) e os americanos do NYYC American Magic (New York Yacht Club) (esquerda) são os favoritos.
Os italianos da Luna Rossa Prada Pirelli (direita) e os americanos do NYYC American Magic (New York Yacht Club) (esquerda) são os favoritos. Foto: DR

Apesar de participar nas regatas, o Emirates Team New Zealand não recebe qualquer ponto, mesmo em caso de vitória, porque é o vencedor da última edição e está automaticamente qualificado para a America’s Cup. Será contra eles que o vencedor da Louis Vuitton Cup irá competir.

O que é a America’s Cup, e porque é tão importante?

A America’s Cup é uma competição de vela entre países, representados por um clube náutico. O vencedor ganha o direito de ostentar a "Taça" até que outra equipa a consiga conquistar e, basicamente, se coroe como a melhor do mundo.

Reza a lenda que, na prova original, disputada ao largo da ilha de Wight em 1851, um marinheiro subiu ao mastro para relatar a corrida à rainha Vitória, que assistia ao confronto entre os melhores da marinha britânica e um barco americano. Quando os veleiros contornaram a ilha e o marinheiro informou a rainha de que o barco americano seguia na frente, ela perguntou quem vinha em segundo. O marinheiro, perscrutando o horizonte e sem ver mais nenhum barco, respondeu: "Sua Majestade, não há segundo." Verdadeira ou não, a frase tornou-se o slogan da America’s Cup, uma prova onde os segundos nem sequer são "os primeiros dos últimos".

Em 173 anos de história, a competição atraiu os melhores velejadores e grandes magnatas, apaixonados pela vela, que não hesitaram em abrir os cordões à bolsa para investir em inovação, design, novas tecnologias e materiais para criar veleiros cada vez mais rápidos. E, passados todos estes anos, continua a ser assim...

Emirates Team New Zealand não recebe qualquer ponto, mesmo em caso de vitória, porque é o vencedor da última edição e está automaticamente qualificado para a America’s Cup.
Emirates Team New Zealand não recebe qualquer ponto, mesmo em caso de vitória, porque é o vencedor da última edição e está automaticamente qualificado para a America’s Cup. Foto: DR

Onde, quando e como assistir

As provas começam no porto de Barcelona, de hoje até 8 de setembro. No final dos round robins, onde todas as equipas competem entre si, as quatro com mais pontos passam às meias-finais – sendo que quem tiver maior pontuação pode escolher o adversário nas meias-finais. Estas disputam-se entre 14 e 19 de setembro, e vence a primeira equipa a alcançar cinco vitórias. A final da Louis Vuitton Cup decorre entre 26 de setembro e 5 de outubro, sendo necessárias sete vitórias para determinar o vencedor. Depois, será a vez de disputar a 37ª America’s Cup, entre o vencedor desta competição e o Emirates Team New Zealand, vencedor da última edição. As regatas têm lugar entre 12 e 21 de outubro e, mais uma vez, são necessárias sete vitórias para vencer.

Este ano, pela primeira vez, foram também criadas provas de juventude e a Puig Women’s America’s Cup Barcelona. Todos os seis clubes navais presentes no evento principal apresentam a sua equipa feminina, e houve mais seis inscrições, representando Espanha (com o Real Club Náutico de Barcelona a jogar em casa), Holanda, Canadá, Suécia, Austrália e Alemanha. As provas femininas decorrem de 5 a 13 de outubro.

Se estiver a pensar em visitar a Cidade Condal, esta é uma excelente altura. Em Barcelona, o ideal é entrar numa das fanzones criadas para acompanhar o evento, mas as regatas serão visíveis de praticamente qualquer ponto na costa. Em alternativa, pode acompanhar toda a ação em direto no site da 37th America’s Cup, no YouTube e até na RTP. Isto é que é serviço público!

 O vencedor ganha o direito de ostentar a
O vencedor ganha o direito de ostentar a "Taça" até que outra equipa a consiga conquistar. Foto: DR

A história da "Taça"

Considerada o auge das regatas internacionais, tudo começou quando o Earl of Wilton, Comodoro do Royal Yacht Squadron, encomendou à Garrard & Co., joalheiros do rei, uma taça em prata para servir de troféu numa prova à volta da ilha de Wight, reunindo os barcos mais velozes. Isto gerou bastante atenção, inclusive do outro lado do Atlântico, onde um grupo de fundadores do Yacht Club de Nova Iorque decidiu que iria entrar na competição. A decisão não foi pacífica e gerou várias críticas e má imprensa, pois temia-se que uma derrota – a Britânia dominava os mares – fragilizasse a alma e o orgulho da jovem nação americana.

A 22 de agosto de 1851, o iate América – para cúmulo batizado com esse nome – não só venceu o "orgulho da marinha britânica" como os aniquilou, perante o olhar da rainha Vitória e do seu filho, Eduardo VII (o do parque). De regresso a Nova Iorque, os membros desse sindicato original ainda pensaram em fundir a taça para fazer medalhas comemorativas, mas felizmente optaram por doá-la ao New York Yacht Club como uma "taça de desafio para uma competição amigável entre países estrangeiros."

Durante mais de 100 anos, entre 1870 e 1980, os barcos americanos defenderam com sucesso o troféu em várias provas, quase sempre dominadas pelas grandes fortunas de ambos os lados do Atlântico. Pierpont Morgan, diversos Vanderbilt e Forbes de um lado, Lloyds, Lipton e uma mão cheia de condes e duques do outro. Em 1983, foi uma inesperada Austrália a primeira desafiante a conseguir derrotar o New York Yacht Club e a hegemonia americana. A Taça seguia para os antípodas e começava aquilo que hoje se chama a era moderna da America’s Cup.

Em mais de 170 anos de história, apenas quatro nações (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e, curiosamente, a Suíça) venceram o troféu, e os britânicos, que são quem mais vezes a desafiou, nunca conseguiram levar a Taça de volta para o país.
Em mais de 170 anos de história, apenas quatro nações (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e, curiosamente, a Suíça) venceram o troféu, e os britânicos, que são quem mais vezes a desafiou, nunca conseguiram levar a Taça de volta para o país. Foto: DR

Em mais de 170 anos de história, apenas quatro nações (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e, curiosamente, a Suíça) venceram o troféu, e os britânicos, que são quem mais vezes a desafiou, nunca conseguiram levar a Taça de volta para o país.

Desde a primeira edição que o troféu é disputado segundo as regras do Deed of Gift estabelecido quando a taça foi entregue ao NYYC para organizar a tal competição internacional. Segundo esses princípios, a Taça não tem qualquer periodicidade fixa, cabendo ao vencedor o direito e o dever de organizar a edição subsequente – incluindo a escolha do local, da data, das regras e a decisão do design dos barcos competidores, chegando para tal a acordo com o Challenger of Record, o primeiro sindicato a montar um sério desafio pela Taça. Nesta edição, o Challenger of Record voltou a ser inglês.

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