Isto Lembra-me Uma História. De Roger Schmidt a António Costa: as demissões e o óbvio
Governantes em apuros e treinadores de futebol a salvar o pescoço - ou como a vitória do Benfica sobre o Sporting no dérbi da capital pode servir para evocar Humberto Delgado.
A 7 de novembro - e depois de durante toda a manhã desse dia definitivo terem circulado notícias acerca de buscas, acerca de escutas, acerca, no fundo, de uma grande e longa investigação que tinha como objetivo desmascarar batotas cometidas pelas políticos que atualmente nos governam -, o primeiro-ministro, António Costa, reuniu-se com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. No final dessa pequena cimeira, o chefe de Governo falou aos jornalistas e, no meio de algum palavreado que mais não era do que verbo para preencher tempos mortos, disse cinco palavras fundamentais: "Obviamente, apresentei a minha demissão." Se o predicado - "apresentei" - e o complemento direto - "a minha demissão" - merecem sublinhado, o advérbio de modo - "obviamente" - que o primeiro-ministro escolheu para esclarecer o País acerca da sua decisão com vista ao futuro.
A frase de António Costa faz lembrar aquela outra de Humberto Delgado, quando se candidatou à Presidência da República, em 1958. Quando questionado acerca do que faria com António de Oliveira Salazar, então presidente do Conselho de Ministros, o general candidato respondeu enfaticamente: "Obviamente demito-o!" (Sem surpresa, a vida não correu bem a Humberto Delgado a partir desse momento.) António Costa consegue, na atualidade, a proeza de recordar esse passado longínquo por, de uma assentada, se pôr no lugar de Delgado e também na posição de Salazar: obviamente, demite o primeiro-ministro, sendo que o primeiro-ministro é ele próprio.
A história, vista assim, tem a sua graça, e é bom que uma coisa lembre a outra, até porque é precisamente para essas ocasiões que esta rubrica serve. Contudo, não é de somenos lembrar que nem toda a gente faz a mesma gestão das suas situações de crise. Por exemplo, e ainda em relação à idade contemporânea da política nacional, há quem, como o antigo presidente do Conselho, não lide bem com as demissões, nem com intenções de demitir. João Galamba, o ministro das Infraestruturas do Governo liderado por António Costa, cujo envolvimento nos casos que envolvem o mesmo Governo é superlativo e absoluto, veio perentoriamente dizer em público que não tem a menor intenção de se demitir. "Não, não tenciono apresentar a minha demissão", disse Galamba - e podia perfeitamente ter feito pendant com António Costa parafraseando, uma vez mais, Humberto Delgado: "Obviamente, não me demito!" Os políticos de hoje em dia não têm a verve e a finésse dos outros desse tempo no que toca a demitir e não demitir.
E, mesmo assim, ainda não é este o assunto que me traz aqui. Não se pode esperar que o principal assunto na ordem do dia seja uma crise política com demissões de governos - Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e comentador inusitado de insignificâncias avulsas, já aceitou a demissão de Costa e marcou novas eleições para 10 de março - quando há um dérbi futebolístico ainda fresco na memória de todos, sendo que este teve um final razoavelmente épico, do ponto de vista dos benfiquistas, e absolutamente inadmissível, na ótica dos sportinguistas. Perder, nos últimos segundos, um jogo que estava ganho será, em princípio, diametralmente oposto a ganhar, nos últimos segundos, uma partida que estava perdida - e os festejos dos benfiquistas parecem corroborar esta perceção.
No Estádio da Luz, e depois de tempos muito conturbados em que a participação na Liga dos Campeões tem sido praticamente desastrosa, o Benfica deu sinais de vida e uma ténue amostra do espírito e da qualidade da equipa que o ano passado foi campeã nacional com distinção. O débil Benfica venceu, com contornos emocionais muito elevados, o sólido Sporting num jogo, como se diz na gíria do futebol, "impróprio para cardíacos". Diz a mitologia do futebol que este tipo de desfechos em dérbis de Lisboa não é de surpreender - quantas não são as vezes em que a equipa mais frágil acaba por surpreender e superar aquela que está, à partida, por cima? A estatística até pode desmentir esta perceção (na esmagadora maioria dos casos, vence quem está melhor), mas o que é que importa a estatística quando o que me dá jeito é a lenda e não o facto?
Concentremo-nos no essencial: o Benfica, claro underdog antes do apito inicial, fez um jogo muito razoável e foi-se impondo diante de um Sporting mais maduro, mais seguro e mais confiante, que soube ir gerindo o jogo à sua medida e, juntamente com uma ponta de sorte, conseguiu chegar ao intervalo não só sem sofrer golos (o Benfica dispôs de várias oportunidades claras), como ainda com um golo marcado (um belíssimo golo de Gyökeres numa das duas ou três ocasiões em que os sportinguistas conseguiram chegar com verdadeiro perigo à área benfiquista).
Nestas circunstâncias, e atendendo ao cenário de destruição do País Basco, onde na semana passada o Benfica fora celindrado pela modesta Real Sociedad, em San Sebastian, Robert Schmidt, o treinador benfiquista estava obviamente demitido pela maioria dos sócios, adeptos e simpatizantes do Benfica, e até por alguns admiradores dos rivais que vão dando atenção à realidade dos encarnados. Mas Schmidt, como Galamba, não é pessoa que se demita obviamente. O treinador alemão vai fazendo de conta que está bem, que a coisa vai, que é preciso é crença e esperança. E a verdade é que, apesar de tudo, a coisa lá vai, com crença e esperança: o Benfica já venceu este ano o FC Porto (duas vezes, uma delas para a Supertaça) e o Sporting. Ou seja, ganhou todos os clássicos, defrontou e vergou, com mais ou menos brilho, com mais ou menos mérito, os seus principais rivais e, assim sendo, perante estes resultados, não há presidente que demita um treinador, obviamente.
Resta saber se, como sucede com António Costa e a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, a gestão do cargo do técnico alemão continua a estar a prazo - porque estava, tinha de estar, e caso o Benfica não tivesse vencido o Sporting esse prazo seria certamente curto - ou se, pelo contrário e como sucede com o ministro das Infraestrutura, Roger Schmidt não tem a menor intenção de se demitir nem de ser demitido. Obviamente, ficaremos atentos.
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