Prazeres / Restaurantes

O sabor do Rio de Janeiro chegou a Lisboa (com a ajuda de José Avillez)

A chef Kátia Barbosa traz até às varandas do Bairro do Avillez o melhor da cozinha popular brasileira. A má notícia é que será apenas até 14 de março.

Foto: Grupo José Avillez
17 de janeiro de 2020 | Aline Fernandez

Já ouviu falar do bolinho de feijoada brasileira? Foi ideia da Kátia Barbosa e nasceu no Aconchego Carioca, no Rio de Janeiro. Lá na cidade maravilhosa esse botequim é o paraíso da comida brasileira – inclua neste éden gastronómico as maravilhosas bebidas: leia-se até 80 tipos de cervejas e caipirinhas – a sério.

Oriunda de uma família humilde e com oito irmãos, a chef passou a infância a ver a mãe a cozinhar por necessidade e o pai por paixão. Mas, como todos sabemos, os dotes culinários não passam nos genes e – acreditem – até aos 30 anos só fez arroz daqueles em sacos individuais e macarrão instantâneo (quase um crime gastronómico…). Foi no segundo casamento que começou a fazer companhia ao marido na cozinha, pois não tinham dinheiro para jantar fora.

Pouco depois o negócio que tinha de joias veio a falir e começou a trabalhar no Aconchego Carioca, que era de um dos seus irmãos e da cunhada – Rosa, até hoje sua sócia. Começou por fazer tudo e mais um pouco na cozinha e, quando tinha um tempo livre escapava para uma livraria para perceber os métodos de confeção e as características de cada ingrediente.

Com o tempo e os elogios percebeu que havia espaço para fazer boa comida tradicional brasileira. Juntou os estudos e técnicas que aprendeu com as lembranças da família e criou uma culinária típica carioca e nordestina. Até porque o pai, que era da Paraíba, sempre estava a fazer o típico baião de dois, do Nordeste brasileiro, a carne-de-sol e a carne-seca com abóbora e a mãe colhia mandioca do quintal e extraía a goma da tuberosa com a ajuda dos filhos. Era ela que fazia o chamado "capitão", quando amassava feijão e arroz com a mão e fazia uma bola – dessa ideia surgiu o indiscutível bolinho de feijoada da Kátia.

Este afeto gastronómico e sucesso indiscutível no Rio de Janeiro atravessou o Oceano Atlântico e (para nossa sorte) aterrou em terras lusitanas. Até dia 14 de março o Aconchego Carioca estará instalado nas varandas do Bairro do Avillez. "Eu adoro o Brasil, adoro o Rio de Janeiro, tenho família lá há muitos anos. Me apaixonei pela Kátia há tempo, quando a conheci, apaixonei-me pela cozinha dela", elogia José Avillez, explicando que tiveram oportunidade de passar mais juntos, já que a brasileira foi jurada no concurso Mestre do Sabor, da TV Globo, juntamente com o chef. "Um dia eu pensei: ‘Vamos trazer o verão do Rio para cá, no inverno de Lisboa’", contou à Máxima. "Liguei à Kátia e perguntei o que era preciso fazer. Ela disse: ‘Nada, tô indo!’", riu-se.

Os chefs Kátia Barbosa e José Avillez
Os chefs Kátia Barbosa e José Avillez Foto: Grupo José Avillez

O objetivo do chef português com esta pop-up é poder mostrar a cozinha da amiga. "Mostrar o que são as raízes brasileiras, que vão muito além dos rodízios, do que as carnes grelhadas e da picanha." Kátia veio com a filha Bianca e entrou na cozinha do Avillez para ensinar à equipa o que faz nos fogões cariocas. "O Avillez é o cara mais generoso e louco que eu já vi na vida", diz com orgulho, contando que o português chamou os chefs de todos os seus restaurantes para estarem juntos.

Segundo Kátia, José Avillez é mesmo fã dos seus pratos. "Ele comeu uma feijoada para duas pessoas sozinho!", contou-nos e acrescentou: "Magro desse jeito, eu fiquei meio chocada… Aí o Felipe Bronze [galardoado chef carioca] chegou e pediu o bobó de camarão. Ele ainda comeu do bobó do Felipe!", lembrou entre risos. Pensando em como ia preparar a sua comida aqui, Kátia apressou-se em saber os ingredientes que estavam à venda por cá. Disseram-lhe que em Portugal faziam baião de dois com outro feijão. "Mas eu sou Kátia Barbosa, meu irmão", ou seja, não tem meia-receita. E assim chegaram mais de 30 quilos de feijão-de-corda a Lisboa.

Antes de deliciar-se com a carta, saiba que a proposta da chef é ter sempre novidades no menu para poder voltar mais vezes até março e provar coisas diferentes. Para já, de terça-feira a sábado, apenas ao jantar, está disponível um menu fixo, que é uma verdadeira viagem aos sabores brasileiros. Começa pelo couvert, com pão de queijo e manteiga, segue com cinco entradas – é isso mesmo, cinco, carioca não gosta de miséria à mesa – das quais poderá provar o tal bolinho de feijoada, a almofadinha de queijo, feita com massa de tapioca, o bolinho de abóbora com carne seca, o pastel recheado com costela bovina e o clássico do litoral brasileiro: casquinha de caranguejo. Mas prepare-se porque está longe do fim. São ainda servidos dois pratos principais: o bobó de camarão, prato refogado com leite de coco e mandioca, acompanhado de arroz branco e farofa de dendê, e o baião de dois, arroz com feijão-de-corda, bacon, linguiça, carne seca ou de sol, queijo coalho e aipim frito.

O menu
O menu "Aconchego Carioca" no Bairro do Avillez Foto: Grupo José Avillez

Para fechar a orgia gastronómica, chegam o Romeu e Julieta, goiabada cremosa com queijo Minas (feito artesanalmente na região de Minas Gerais, registado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional do Brasil como património imaterial) e o pudim de cachaça. O preço de €30 inclui ainda água, uma caipirinha e café.

Já no sábado ao almoço é servida a feijoada, com custo de €35 por pessoa, em formato buffet, que inclui entrada, feijão-preto, carnes salgadas, couve à mineira, farofa, aipim frito, laranja, sobremesas, uma caipirinha, água e café. Vale ainda a pena saber que o Aconchego Carioca no Bairro do Avillez terá música ao vivo aos jantares de quinta e sexta-feira, bem como aos sábados ao almoço.

Para animar ainda mais o ambiente, o bar serve caipirinha de cachaça Anumará ou cachaça envelhecida Seleta. A variedade de frutas inclui, além dos clássicos lima e abacaxi, tangerina, manga, goiaba e framboesa, mas todas com um twist, ou seja, com um toque de yuzu ou malagueta e até eucalipto. A cerveja brasileira Cerpa, uma pilsner da Amazónia, também está à venda, podendo ser pedida à garrafa (€3,50) ou "5 geladas no balde" (€15), como todo o bom carioca faz.

Algumas das caipirinhas servidas no bar do Aconchego Carioca no Bairro do Avillez
Algumas das caipirinhas servidas no bar do Aconchego Carioca no Bairro do Avillez Foto: Grupo José Avillez

O quê? Aconchego Carioca. Onde? Bairro do Avillez – Rua Nova da Trindade 18, Lisboa. Quando? Diariamente até ao dia 14 de março. Terça-feira a sábado das 19h às 00h; sábado das 12h30 às 15h. Quanto? €30 por pessoa menu fixo ao jantar; €35 por pessoa ao almoço. Reserva: 215 830 290.

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