Espumante dos Açores: um vinho com muito Pico
Com o primeiro espumante certificado dos Açores e a redescoberta de um vinho extraordinário, a cooperativa Pico Wines começa 2023 em grande.
Primeiro o espumante, porque é realmente uma novidade. Temos vindo a (re)descobrir nos últimos anos como os Açores, e a Ilha do Pico em particular, são um terroir de exceção para vinhos frescos, com ótima acidez, e daí à criação de um espumante seria apenas uma questão de tempo. Diga-se que já houve outros espumantes na ilha, mas este foi o primeiro a receber a certificação Denominação de Origem Controlada (DOC). Foi produzido pela Cooperativa Vitivinícola da ilha do Pico, Picowines, na zona da Candelária, a muito poucos metros do mar, e exclusivamente a partir da casta Arinto dos Açores − que não é exatamente o mesmo Arinto que temos aqui no continente. Trata-se de um blanc de blancs portanto, e o enólogo Bernardo Cabral explica como os Açores influenciam o vinho, tornando "evidentes as notas de algas do mar, iodo e maresia". A bolha é fina e elegante, ligando bem com esta acidez natural, temperada pelos quatro anos de estágio que leva em garrafa, e que também marcam o vinho. O final é longo, deixando um salgado agradável na boca. Sem dúvida um espumante que vale a pena provar.
E se o espumante foi uma surpresa, o que dizer deste (A)parecido? Ou (re)Aparecido? Trata-se de um vinho – também Arinto dos Açores, e também de 2017 – cujas caixas se tinham "perdido" na cooperativa. "Nós sabíamos que ele existia", conta o enólogo. "Só não sabíamos exatamente onde." Esclarece: "O nosso armazém não é a coisa mais organizada. Temos pessoas a arrumar caixas de um lado para o outro, constantemente, e aquelas ficaram esquecidas debaixo de um vão de escada." Ajuda o facto de ser uma pequena quantidade − apenas 256 garrafas, e descaracterizadas, ou seja, sem rótulo − e 2017 ter sido o ano de estreia de Bernardo Cabral na cooperativa. "Nesse ano fiz muitas experiências, com a intenção de conhecer o melhor possível as várias vinhas endógenas, castas e abordagens de vinificação". A maior parte dessas experiências nem chegou a ser engarrafada, foi aproveitada para outros vinhos… sobrava este lote, sobre o qual recaia alguma esperança, mas muito pouca certeza da evolução.
Foi o Diretor Geral da Picowines, Pedro Cavaleiro, quem decidiu perceber o que estava naquelas caixas, e não tardou muito até ligar para Bernardo Cabral: "apareceu aqui um vinho espetacular!", disse-lhe, "tens de vir provar." Não estava a exagerar, é um vinho realmente especial, complexo, profundo, que se vai deixando revelar com tempo… Com uma quantidade tão pequena não será fácil de encontrar, mas se surgir essa hipótese não hesitem.
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