Prazeres / Sabores

Espumante dos Açores: um vinho com muito Pico

Com o primeiro espumante certificado dos Açores e a redescoberta de um vinho extraordinário, a cooperativa Pico Wines começa 2023 em grande.

O espumante da Picowines é o primeiro a receber a certificação Denominação de Origem Controlada (DOC). Na fotografia, o enólogo Bernardo Cabral.
O espumante da Picowines é o primeiro a receber a certificação Denominação de Origem Controlada (DOC). Na fotografia, o enólogo Bernardo Cabral. Foto: Picowines
27 de janeiro de 2023 | Bruno Lobo

Primeiro o espumante, porque é realmente uma novidade. Temos vindo a (re)descobrir nos últimos anos como os Açores, e a Ilha do Pico em particular, são um terroir de exceção para vinhos frescos, com ótima acidez, e daí à criação de um espumante seria apenas uma questão de tempo. Diga-se que já houve outros espumantes na ilha, mas este foi o primeiro a receber a certificação Denominação de Origem Controlada (DOC). Foi produzido pela Cooperativa Vitivinícola da ilha do Pico, Picowines, na zona da Candelária, a muito poucos metros do mar, e exclusivamente a partir da casta Arinto dos Açores − que não é exatamente o mesmo Arinto que temos aqui no continente. Trata-se de um blanc de blancs portanto, e o enólogo Bernardo Cabral explica como os Açores influenciam o vinho, tornando "evidentes as notas de algas do mar, iodo e maresia". A bolha é fina e elegante, ligando bem com esta acidez natural, temperada pelos quatro anos de estágio que leva em garrafa, e que também marcam o vinho. O final é longo, deixando um salgado agradável na boca. Sem dúvida um espumante que vale a pena provar. 

Espumante Coop. Vit. Ilha Do Pico 2017. Preço: €60.
Espumante Coop. Vit. Ilha Do Pico 2017. Preço: €60. Foto: D.R

E se o espumante foi uma surpresa, o que dizer deste (A)parecido? Ou (re)Aparecido? Trata-se de um vinho – também Arinto dos Açores, e também de 2017 – cujas caixas se tinham "perdido" na cooperativa. "Nós sabíamos que ele existia", conta o enólogo. "Só não sabíamos exatamente onde."  Esclarece: "O nosso armazém não é a coisa mais organizada. Temos pessoas a arrumar caixas de um lado para o outro, constantemente, e aquelas ficaram esquecidas debaixo de um vão de escada." Ajuda o facto de ser uma pequena quantidade − apenas 256 garrafas, e descaracterizadas, ou seja, sem rótulo − e 2017 ter sido o ano de estreia de Bernardo Cabral na cooperativa. "Nesse ano fiz muitas experiências, com a intenção de conhecer o melhor possível as várias vinhas endógenas, castas e abordagens de vinificação". A maior parte dessas experiências nem chegou a ser engarrafada, foi aproveitada para outros vinhos… sobrava este lote, sobre o qual recaia alguma esperança, mas muito pouca certeza da evolução. 

Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico. (A)parecido 2017. Arinto dos Açores. Edição limitada a 252 garrafas. Preço recomendado: €100.
Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico. (A)parecido 2017. Arinto dos Açores. Edição limitada a 252 garrafas. Preço recomendado: €100. Foto: D.R

Foi o Diretor Geral da Picowines, Pedro Cavaleiro, quem decidiu perceber o que estava naquelas caixas, e não tardou muito até ligar para Bernardo Cabral: "apareceu aqui um vinho espetacular!", disse-lhe, "tens de vir provar." Não estava a exagerar, é um vinho realmente especial, complexo, profundo, que se vai deixando revelar com tempo… Com uma quantidade tão pequena não será fácil de encontrar, mas se surgir essa hipótese não hesitem.

Saiba mais Picowines, Espumante, Açores, Ilha do Pico
Relacionadas

Terceira, uma ilha (ainda) por descobrir

Uma das portas de entrada do arquipélago dos Açores, com voos diretos e diários desde o continente, a segunda ilha mais populosa dos Açores é um verdadeiro museu a céu aberto e a que melhor preserva a original do arquipélago.

Vinhos para beber no mês mais curto do ano

Foi uma imposição do imperador romano César Augusto que um dos dias de fevereiro passasse para agosto porque antes o mês tinha 29 dias (30 nos anos bissextos). Enfim, é empo suficiente para provar três tintos do Douro, Dão e Alentejo, um champanhe clássico, um Porto de Favaios e um branco de Monção e Melgaço. 

Vinhos para dar as boas-vindas à primavera

A três dias do início de uma nova estação, um tempo em que os dias se alongam cada vez mais, dois Portos, um clássico e um fora da caixa, um champanhe, um branco e dois tintos que atravessam fronteiras.

Mais Lidas
Sabores Regresso ao passado, na Passarella

Um Pinot Noir sem nada a temer dos borgonheses, um espumante que não é branco nem rosé, mas Baga, e três vinhos de terroir de vinhas muito velhas. A Casa da Passarella foi ao passado abrir caminho para os vinhos de amanhã, e o resultado é francamente especial.