Café de São Bento: Como este histórico restaurante se adaptou aos novos tempos
A melhor forma de se manter uma tradição é saber renová-la de modo a que tudo se mantenha como dantes, embora melhor, como acontece nesta histórica casa, onde o “melhor bife de Lisboa” continua a ser rei e senhor.
Com mais de quarenta anos de história (os 41 foram celebrados no início desta semana), o Café de São Bento pode gabar-se das muitas personalidades que já por lá passaram. Não só está quase paredes meias com o Parlamento – e reconhecemos algumas caras conhecidas da política durante o almoço – como continua a ser um dos locais de Lisboa com cozinha aberta até mais tarde, "o que também atrai muita gente ligada ao teatro e à música", como sublinha o sócio-gerente Miguel Garcia. Mesmo assim, o "hall of fame" da escadaria em direção ao segundo piso, onde a (não) renovação mais se sente, em vez de incluir fotos de todos estes "famosos", mostra antes a quem entra a cara os empregados de mesa e cozinheiros, "a maior parte com mais de 20 anos de casa, que são uma das principais razões do sucesso do Café de São Bento". Haverá outras, igualmente importantes, é certo e elas já lá iremos, mas de facto o modo como qualquer iniciante é tratado, como se fosse um cliente habitual, faz qualquer um sentir-se em casa, com a certeza de que quando regresse, alguém se irá lembrar se o bife é bem, mal passado, se prefere o único prato de peixe ("um excelente bacalhau gratinado com vários queijos") ou antes um "wellington vegetariano".
Antes do pedido, porém, visitámos apreciámos a renovação, que no piso térreo é quase impercetível, com o latão, a madeira de mogno, os veludos e as luzes quentes a manterem o mesmo ambiente de sempre. "O objetivo era mesmo esse, respeitar a história e personalidade da casa", de modo a que quem entrasse no número 212 da Rua de São Bento não notasse qualquer diferença. Tal como acontece no primeiro andar, com a diferença que, este, originalmente, nada tinha a ver com o térreo. "Neste caso, a remodelação fez-se para ficar igual à sala original e, agora, já há cada vez mais gente a pedir para ficar no primeiro piso", sublinha Miguel Garcia, que comprou a quota dos outros sócios e ficou à frente do café de São Bento há cerca de dois anos. Na altura adquiriu também a totalidade do prédio, já com o plano de recuperar também o segundo piso, criando aí uma sala para eventos privados. Entretanto, expandiu a casa para novos públicos, abrindo um espaço mais informal no Time Out Market e até ao final do ano pretende abrir um segundo Café de São Bento, tal como já aconteceu no passado, no Estoril. "Não posso ainda revelar onde, mas será em Lisboa, o que implicará uma divisão da equipa pelos dois locais", adianta, revelando que no futuro quer fazer o mesmo no Estoril ou em Cascais e também no Porto.
Para já, as novidades são outras, como o vinho da casa, um tinto de reserva exclusivo, feito com as castas Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Touriga Franca, numa parceria com o Monte da Ravasqueira, com enologia liderada pelo Chief Winemaker David Baverstock e consultoria do escanção Rodolfo Tristão, que pode ser bebido ao copo ou à garrafa; Ou o "menu executivo", disponível apenas durante a semana, à hora de almoço, que por apenas 25€ inclui "entrada e prato ou prato e sobremesa", permitindo assim "ter toda a experiência do Café de São Bento por um preço mais em conta".
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Antigo gerente de hotéis, Miguel "era apenas um simples cliente", quando surgiu a possibilidade de ficar responsável por esta icónica casa lisboeta. "Trata-se de uma marca forte, com uma equipa fantástica e grande amor à casa. E como sempre gostei de clássicos atirei-me de cabeça com o único objetivo de manter a tradição. Como costumam dizer alguns clientes, "'há a missa ao domingo e o Café São Bento à segunda-feira'". E a verdade é que ambas as salas continuam cheias, "tanto ao almoço como ao jantar", aconselhando-se portanto fazer reserva. Percebe-se bem porquê, mal começam a chegar as entradas à mesa: camarões al ajillo, presunto pata negra ou bife tártaro – uma das poucas alterações em boa hora introduzidas pela nova gerência na carta. À medida que o almoço avança, Miguel vai revelando alguns dos segredos do sucesso, como o vinho do porto branco usado na confeção dos camarões ou "a carne cortada e não moída" do tártaro. O caso muda no entanto de figura quando é servido o prato estrela da casa, "O Tradicional Bife à Café de São Bento, Desde 1982", exatamente como é descrito na carta o também há muito chamado de "o melhor bife de Lisboa". Afinal, se "há segredos que não podem nem devem ser revelados", este é sem dúvida um deles – como se constata logo à primeira garfada.
Onde? Rua de São Bento 212, Lisboa. Quando? Todos os dias das 12h às 15h e das 19h às 02h. Reservas: 913 658 343
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