48 horas no Douro, entre paisagens de cortar a respiração
Em linhas paralelas e outras em diferentes posições, as vinhas moldaram o cenário idílico do Douro, que se tornou um destino muito apetecível para os turistas. Conheça algumas das paragens obrigatórias para um fim de semana a norte do país.
Há uma década, o Douro estava mais isolado do que nos dias de hoje. Contudo, desde maio de 2016 que o Túnel do Marão veio encurtar distâncias, facilitando o transporte de mercadorias para os hotéis, restaurantes e quintas aí instalados e atraindo mais empresas e trabalhadores.
Com cerca de seis quilómetros de extensão, esta passagem inserida na A4, entre Amarante e Vila Real, tem sido o percurso escolhido por Paulo Santos, atual diretor do The Vintage House Hotel, no Pinhão. "Abriu poucas semanas depois de cá estar", lembra, acrescentando: "Ainda fiz algumas viagens pela IP4, mas, entretanto, o túnel abriu".
O homem do leme deste hotel de cinco estrelas, que mantém ainda muitas das características do edifício original - uma cave de vinho do Porto - pertencente a uma distinta família desde o século XIX, viu o espaço evoluir ao longo dos anos e apercebeu-se do boom de turismo na zona.
Quando chegou ao The Vintage House, dizia-se que os meses posteriores ao verão eram bastante calmos. Nos primeiros dois meses do ano, chegavam mesmo a fechar, aproveitando a época baixa para manutenção. Porém, este cenário não reflete, de todo, a realidade atual.
"Foi interessante ver, de 2018 para 2019, a grande volta que o Douro levou", comenta e adiciona: "Se a pandemia não tivesse chegado, acredito que 2020 teria sido um dos melhores anos de turismo", continuando, posteriormente, em sentido "crescente".
Paulo Santos garante que os valores pré-pandemia já foram, nestes primeiros meses de 2023, ultrapassados. Os turistas procuram as margens do rio Douro, com paisagens que parecem tiradas de um filme, para as férias. E é, assim, que o hotel vai ficando repleto, essencialmente de americanos, ingleses e portugueses. E entende-se porquê.
Ao abrir as janelas, nos quartos, os hóspedes têm uma panorâmica de cortar a respiração sobre uma imensidão de água, onde pequenas embarcações navegam, de quando a quando, e várias montanhas verdejantes, ziguezagueadas por vinhas e outras plantas.
Há também uma piscina, à qual os hóspedes têm acesso, em alguns casos, diretamente por uma das portas do quarto. No verão, quem aí pensar refrescar-se, poderá pedir as várias propostas inseridas no menu exclusivo para essa área. Pode também subir até à zona do bar "library" para desfrutar de uma tábua de queijos tradicionais ou de uma tosta em pão rústico, enquanto lê um livro junto à lareira ou aprecia a paisagem na esplanada.
Por uma passagem (quase) secreta, tem acesso à icónica estação ferroviária do Pinhão. Conhecida pelos seus azulejos representativos de todo o processo de produção do vinho - desde as vindimas ao transporte em barcos rabelo até às caves em Vila Nova de Gaia -, é um ponto de paragem obrigatório. Especialmente, dada a sua proximidade. Afinal, tem apenas de subir umas escadas, passar um portão e atravessar as linhas já inutilizadas para o lado do edifício histórico.
Um novo ciclo
Recentemente, o hotel virou mais uma página da história. Depois do antigo chef do seu restaurante, o Rabelo, ter saído para outro projeto, chegou o chef Carlos Marques para assumir a cozinha. Esta mudança aconteceu há cerca de três meses, altura em que a carta sofreu também alterações.
Aberto ao almoço e jantar, o espaço recebe quer quem está aqui hospedado ou não. Todos podem provar a nova ementa do chef de Espinho, com um conceito mais formal à noite e, a meio do dia, com um menu diário.
Da carta, que reflete "muitas nuances do que é o Douro Superior", faz parte uma sopa da vindima, um creme de feijão com enchidos e couves (€9), um frango assado com batata e salada (€22), um dos pratos preferidos de Carlos Marques ou ainda um polvo cozinhado numa redução de Vale Bragão (€28).
À mesa, chegam também, num primeiro momento, diferentes tipos de pão, acompanhados por um azeite vindo ora da Quinta do Vallado ora da Quinta da Roêda. Esta última, a menos de dois quilómetros do hotel, também merece uma visita.
Visitas e piqueniques por entre vinhas
Entre vinhas de diferentes castas e sempre com o rio Douro no olhar, é possível conhecer melhor o universo vínico, na visita "À Descoberta da Quinta da Roêda". Com a ajuda de uma aplicação criada propositadamente para o percurso, os turistas conseguem, de forma autónoma, aprender mais sobre toda a produção de vinho do Porto.
Disponível em português, espanhol, francês e inglês, a aplicação é descarregada antes de iniciar o trilho por 11 paragens, durante cerca de 1h30 - tempo que varia de pessoa para pessoa, claro. É aconselhável que inicie o passeio da parte da manhã, para evitar o calor habitual da hora de almoço. (A visita tem um custo de €8 e as reservas podem ser realizadas no site da Quinta da Roêda ou através do contacto 220 133 102).
No final, pode aproveitar para degustar diversos vinhos, na Sala de Provas, ou por fazer um piquenique numa das mesas disponíveis junto às vinhas. Quem prepara a refeição ao ar livre é a própria quinta, consoante reserva prévia, na mesma plataforma online, com pelo menos 48 horas de antecedência. Dentro de uma clássica cesta de piquenique surge uma seleção de pão, queijos e enchidos, azeitonas, doces tradicionais, uma garrafa de vinho e outras opções. Existem duas alternativas à escolha - o clássico e o premium -, que custam €38 (para uma pessoa) e €60 (para duas), respetivamente.
Mais tradicional, com sabor a casa
Também detida pela The Fladgate Partnership, tal como o The Vintage House e a Quinta da Roêda, existe uma outra quinta mais caseira e familiar, a do Panascal. Contudo, esta fica mais afastada destes dois pontos.
Em Valença do Douro, a cerca de 15 minutos de carro desde a Roêda, encontra a principal propriedade da Fonseca, que tem sido um "importante contributo para os lotes dos vinhos do Porto vintage". Daí, têm-se uma vista magnífica para um dos afluentes mais importantes do Douro, assim como para as árvores de fruto que depois se traduzem em pratos que chegam ao prato.
Há uma procura por levar para as várias salas onde é possível almoçar (por norma, grupos de mais de dez pessoas) os produtos mais frescos e locais.
É assim que, pelas mãos de duas mulheres da região, Mila e Lúcia, são levados para a mesa um creme de abóbora, muito aromático, com um toque de hortelã, o cabrito assado, que se desfaz ao cortar, com cenoura, feijão verde e batatas, e, para terminar, o leite de creme caseiro, extremamente suave.
Além disso, existem visitas ao espaço, todos os dias, entre as 10h e as 18h30 (a última entrada ocorre, idealmente, às 17h30), que terminam nos lagares. Aí, Miguel Campos, responsável de enoturismo das quintas da Roêda e do Panascal, conta que fazem a pisa das uvas, sem recurso a máquinas.
Os trabalhadores, descalços, são guiados por um marcador, como é designado, que marca o ritmo. "Um, dois, esquerdo, direito, um, dois,…", diz, enquanto os restantes permanecem em silêncio, sempre a marchar sincronizados.
Durante a vindima é possível ver não só este processo, como a própria apanha da uva.
As visitas, que começam num miradouro onde é possível conhecer as principais castas do vinho do Porto, demoram cerca de 40 minutos, consoante o passo e tempo durante as paragens, e devem ser marcadas com antecedência, através do email visit.panascal@fonseca.pt ou do contacto 220 133 102.
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