Renault Austral. Será este o Carro do Ano em Portugal?
Sim, sim, cortesia de um júri de jornalistas portugueses que recentemente o elegeu como o melhor modelo a aparecer cá no burgo em 2022. Fomos ver porquê.
Carro do Ano?
Em Portugal, o prémio chama-se "Seguro Directo Carro do Ano / Troféu Volante de Cristal 2023" (uuufff, mais um bocadinho e passava-se a 2024). Este ano celebrou-se a sua 40ª edição. Não confundir com o Carro do Ano internacional, quer na vertente mundial, quer principalmente na europeia, que este ano elegeu o Jeep Avenger, o primeiro elétrico da marca americana e a sua estreia na conquista do galardão. A ele iremos num futuro muito próximo. Obviamente que, entregue no início do ano civil, o prémio nacional refere-se a modelos lançados no nosso mercado no ano transacto e que as marcas decidem inscrever à votação.
Austral, o que é isto?
O nome vem do latim australis e significa "do Sul". Trata-de de um SUV compacto pertencente ao que o mercado convencionou chamar de segmento C, uma nomenclatura que provavelmente tenderá a cair em desuso, tal a evolução que o automóvel vem registando nos últimos tempos. SUV porque, evidentemente, é a arquitectura da moda. Em termos práticos, na gama Renault o Austral substitui o Kadjar, um modelo que nasceu torto e nunca se endireitou – aqui em Portugal, claro, onde foi vítima, imagine-se, das portagens de auto-estrada. Peculiaridades do mercado cá do retângulo.
Decididamente desportivo e dinâmico, o Renault Austral faz outra concessão às modas, neste caso a dos veículos elétricos e (como no caso patente) eletrificados. Baseado na plataforma CMF-CD, que partilha com o Arkana e com o Mégane E-TECH (mais o "primo" japonês Qashqai), e ainda com o recém-apresentado novo Espace, o Austral apresenta uma gama de motorizações híbridas ditas mild e full, sem no entanto recorrer à opção plug-in. É uma decisão do construtor do losango (agora redesenhado para parecer... retro), que até poderia indiciar não estar muito à vontade com a tecnologia de ligar à corrente para recarregar a bateria. Nada disso, já que a Renault tem essa tecnologia presente no Captur e no Mégane, e no degrau tecnológico imediatamente seguinte – o dos EV, o "tudo elétrico" – o fabricante francês pede meças a qualquer um dos seus concorrentes e dispõe de um know-how atestado pelos milhares de EV que tem em circulação (vd o Mégane E-TECH que, já aqui dissemos, é uma das melhores ofertas de que o mercado dispõe em relação aos 100% elétricos).
Design exterior
"Sensual tech" é a terminologia utilizada pela Renault para identificar os princípios do design do Austral e, bem assim, de toda a sua mais recente gama de crossovers e SUVs. Linhas curvas, uma silhueta sensual e dinâmica, rematadas à frente e atrás com novas assinaturas luminosas: na dianteira, o "C" em LED domina o "rosto", a "face" do Austral, enquanto na traseira uma fina linha, também em LED, percorre quase toda a largura da carroçaria, encontrando a meio o dito losango retro. Um design exterior atlético, sofisticado e elegante, diz a marca, e não há como negar. De tamanho compacto (4.51 m de comprimento por 1.83 m de largura), o Renault Austral é vistoso e não passa despercebido.
Ao volante
Antes disso: logo que se abre a porta e se entra lá para dentro, dá ideia que Mr. Sulu estacionou a USS Enterprise em segunda fila – ambiência high-tech até mais não, eletrónica em cada recanto do habitáculo, o interior apresenta-se como um verdadeiro casulo tecnológico (de novo palavras da marca e de novo irrefutáveis). O piloto da nave, perdão, o condutor do Austral vê-se envolvido num "L" digital e torna-se ele também um elemento da eletromania que está por todo o lado no cockpit. A única coisa mais, digamos, analógica é uma manete que se encontra onde se esperaria ver o seletor da caixa de velocidades, e que permite empurrar a cobertura da consola central para trás e para a frente, de novo voltando a fazer lembrar Mr. Sulu a obedecer à ordem de "Warp 2" e "full speed ahead". Espaço, bastante espaço interior, é outra imagem com que se fica, cortesia dos 2.67 m de distância entre eixos, que permitem, por exemplo, fixar o espaço para as pernas dos ocupantes dos bancos traseiros nuns generosos 27.4 cm. Abrindo-se o portão traseiro, depara-se com 575 litros de espaço de bagageira (até um máximo de 1525 litros com os bancos traseiros rebatidos).
Por falar em caixa de velocidades, ela é automática e o seu seletor encontra-se na coluna da direção, à direita do volante – também ele de desenho fora do comum, como que um retângulo de pontas arredondadas. O dito seletor em D, acelerador, e os 200 cavalos do conjunto híbrido (motor 1200 cm3 de três cilindros + elétrico) projetam-nos à aceleração e velocidade q.b., ou seja, não é um foguete mas também não é um caracol. Aliás, toda a condução deste Austral, não permitindo muitos quilómetros em modo 100% elétrico, se centra à volta do equilíbrio, do compromisso entre utilizar o motor de combustão interna de tal forma que se possa desfrutar o máximo possível do silêncio do motor elétrico. Parece paradoxal, mas a verdade é que funciona.
O consumo de gasolina acaba por ser bastante aceitável: fizemos 6 litros aos 100, só porque acelerámos mais fortemente aqui e ali, porque... porque sim, mas os 4.7 litros indicados pela marca são perfeitamente atingíveis mediante um pé mais ligeiro. As emissões de CO2 ficam-se pelos 105 g/km, o que é, enfim, se não muito ecológico, pelo menos amigo q.b. do ambiente. O comportamento em estrada é bastante são e, apesar do 1.64 m de altura, nunca se sente aquele efeito de rolamento da carroçaria em curva, quase como um barco à vela a inclinar o mastro. Destaque para o sistema 4CONTROL – o das quatro rodas direccionais – que faz maravilhas nas curvas mais apertadas e de menor velocidade, sentindo-se também uma suavidade e um comportamento neutro dignos de registo nas curvas longas de auto-estrada, percorridas a (bastante) maior velocidade.
É mesmo o melhor carro do ano?
Calma, já lá iremos. Com os preços a começarem nos €34207 da versão mild de 140 cavalos e a irem por aí acima até aos €46850 do full hybrid de 200 cv que testámos, não se pode dizer que o Renault Austral seja, vá lá, barato. Talvez nem o possa ser, tal a tecnologia embarcada logo desde a versão-base. Mas quando comparado com a concorrência, chega-se à conclusão que sim, é suficientemente competitivo ou, pelo menos, fica na média da oferta atual do mercado. Dito isto, a pergunta repete-se: o Renault Austral é o melhor carro do ano? A impressão que deixa é largamente positiva, e tudo indica que sim. Mas sem ter experimentado todos os outros concorrentes ao galardão nacional, torna-se difícil dar uma resposta cabal. É que isto das respostas é como as cervejas: provavelmente.
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