Prazeres / Drive

Velhas lendas do mundo automóvel

Os modelos que se seguem são mais do que simples carros, são mesmo modos de vida. Para começar a sonhar com o calor...

04 de março de 2020 | Pedro Serra

O automóvel, apesar de toda a evolução, mantém-se um símbolo de liberdade, de autonomia e de estilo. Nos primórdios, ou seja, no final do século XIX, os modelos estavam apenas ao alcance dos ricos. O primeiro modelo acessível a muitos a nível mundial foi o Ford Model T, eleito em 1999 como o carro mais influente do século XX.

À medida que se tornou mais popular, o automóvel passou a ser também um objecto de estilo. Os modelos que se seguem são uma espécie de biquíni do mundo automóvel. Têm pouco material – são mesmo descapotáveis –, a pensar no calor estival, e são fabricados para se aproveitar ao máximo o céu limpo e o sol. E não lhes falta um estilo único que os tornou ícones e desejados muitas décadas depois da sua estreia nas estradas do mundo. E o que é que o milionário grego Aristóteles Onassis, a princesa Grace do Mónaco e o "rei" dos anos dourados da Fiat, Gianni Agnelli, têm em comum? Todos tornaram populares os carros pensados para a praia.

Citroën Méhari, o original e o novo

Os franceses da Citroën tornaram-se especialistas no conforto num automóvel. Mas há uma apetitosa excepção chamada Méhari – nome de um camelo muito rápido. O modelo produzido entre 1968 e 1988 tem por base o velhinho 2CV ("nascido" em 1948), mas tem uma carroçaria de plástico que assenta num chassis tubular. O resultado? Um carro muito leve, de 535 kg, pouco confortável, mas perfeito para ir de cabelos ao vento. Acima de tudo, é simples, muito divertido e um símbolo do bom tempo. Quando foi renovado, em 1979, já tinha versão em 4x4 pronta para "brincar" na areia ao ponto de ter sido o veículo de assistência médica do Rali Paris-Dakar de 1980. Foram produzidas 144 mil unidades (chegou a ser montado na fábrica portuguesa de Mangualde), mas, desde então, há várias firmas a produzir versões não oficiais. É um ícone desde que começou a ser o carro preferido pelos donos de iates na Riviera Francesa. Em Portugal, ainda se vêem muitos Méhari amarelos durante o tempo mais quente e este ano a Citroën lançou uma edição moderna do Méhari chamada E-Méhari e que é 100 por cento eléctrica.


Meyers Manx, o buggy de praia

É considerado o primeiro dos buggy e, por isso, um ícone. Já os vimos em praias do Brasil a encantar turistas portugueses, e não só, mas estão um pouco por todo o mundo. O Meyers Manx é um buggy a pensar nas dunas da praia e foi desenhado para corridas no deserto pelo designer, surfista, engenheiro e artista californiano Bruce F. Meyers. Foi produzido de 1964 a 1971 (a produção foi efémera por problemas relacionados com impostos do seu criador) e assumiu-se como um símbolo dos sentimentos de paz e de liberdade dos anos 60 norte-americanos. O modelo que adopta o chassis encurtado de um Volkswagen Carocha foi rei nas dunas, na sua época, batendo recordes mundiais, e também foi estrela de séries, de videoclips, de videojogos (como Grand Theft Auto) e de cinema, tendo sido guiado por Elvis Presley e também por Steve McQueen. Voltou a ser produzido depois do ano 2000. Os preços podem começar nos 10 mil euros, dependendo das versões, do ano de produção e do valor sentimental.

 

Meyers Manx
Meyers Manx Foto: D.R.

Fiat Jolly, o italiano das princesas

Estávamos nos anos de 1950, mais precisamente em 1955, e a Fiat substituiu o seu primeiro modelo 500, também conhecido por Topolino (que significa pequeno rato), pelo Fiat 600. Vivíamos tempos mais alegres, a II Guerra Mundial já tinha terminado há uma década e a marca italiana quis transformar o seu modelo com 3,22 metros de comprimento em algo especial. Daí que em 1958 enviou algumas unidades para a empresa italiana de design Ghia para o converter no Jolly, que, tal como o nome indica, é bem alegre. Bancos de palha ou de vime e um tecido ao estilo de toldo para tapar o sol, como opção, tornaram o modelo num bem necessário para quem queria ter estilo no Mediterrâneo. Aristóteles Onassis teve vários, até porque foram feitas diversas adaptações do modelo original com vários nomes curiosos e muitas hipóteses, incluindo o modelo sem vidro da frente. Foi na versão Fiat 600 Spiaggina (Savio-Boano) que Onassis transportou o primeiro-ministro britânico Winston Churchill pelas ilhas gregas, numa imagem peculiar que percorreu o mundo. A princesa Grace do Mónaco era uma fã deste carro. O modelo é tão popular que pode custar, hoje em dia, entre 50 e 150 mil euros. Do Fiat 600, em geral, foram produzidas 4,9 milhões de unidades.

 

Mini Moke, o carro das ilhas paradisíacas

A Mini não podia faltar neste mural dos ícones de praia. O Moke é baseado no Mini original, desenhado pelos responsáveis pelo sucesso do modelo britânico. Moke significa burro, num dialecto arcaico por terras de Sua Majestade britânica. Mas não fique confuso. É que este modelo peculiar também foi vendido com outros nomes: Austin Mini Moke, Morris Mini Moke e Leyland Moke. O design inicial foi pensado para ser um protótipo para um pequeno e leve veículo militar, ao estilo do Jeep americano – que depois deu origem ao Wrangler, também ele um belo veículo de praia –, e, nesse caso, figurou em séries como Beverly Hills 90210. Só que as suas rodas pequenas e a proximidade ao chão – ou não fosse o Mini a sua base – tornaram-no impraticável como veículo para todo-o-terreno. Foi como veículo civil, ou melhor, como buggy de praia, barato e fácil de manter, que atingiu um sucesso global e que se tornou mesmo objecto de culto em locais com praias paradisíacas como o Algarve ou as Seicheles, boa parte da Austrália, dos Estados Unidos e dos resorts nas Caraíbas. Só foram produzidos 14 mil no Reino Unido, de 1964 a 1968, mas depois a sua produção disseminou-se por vários locais do mundo, especialmente a Austrália (produziu 30 mil) e Portugal, onde se fizeram 10 mil entre as unidades de Vendas Novas e de Setúbal. Desde então têm surgido muitas imitações pelo mundo fora (algumas em versões eléctricas) e o modelo foi relançado em 2016, a partir da Austrália, mantendo o imaginário das praias e das ilhas paradisíacas bem vivo.

Mini Moke
Mini Moke Foto: D.R.
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