Nuno Nolasco: “Nós, atores, dominamos 10% do que nos acontece”
Entre Bem Bom, de Patrícia Sequeira, e a Mar Infinito, de Carlos Amaral, Nuno Nolasco está a internacionalizar-se à medida que brilha nos palcos nacionais. Vamos “agarrá-lo” uns momentos, à medida do seu estrelato.
Estudou Arquitetura, mas foi numa rodagem que descobriu que um dos seus hobbies – representar - poderia ser, na verdade, um caminho profissional. Tem 34 anos, mais de 50 projetos ligados ao Teatro, ao Cinema e à Televisão no currículo, dança, e nada profissionalmente. É ator, encenador e modelo, com representação na agência Elite Lisbon. No Teatro da Garagem fez palco 7 anos, e foi A Escritora Italiana de André Badalo, que lhe aguçou a curiosidade nas curtas e longas metragens, em 2009. Entre os seus mais recentes trabalhos estão as curtas-metragens Os Abismos da Alma, de Guilherme Daniel,e Príncipe, de João Monteiro. Mas é Mar Infinito, um filme de ficção científica que estreia nas salas de cinema nacionais a 26 de maio, a razão desta conversa, no qual é protagonista ao lado de Maria Leite.
Estamos à beira da estreia do filme Mar Infinito, que filmaste em 2018. Como é vê-lo ser mostrado agora, depois de uma pandemia?
Era suposto estrear em 2019 mas, com a pandemia, foi adiado. Esteve na mostra de São Paulo, e noutros festivais internacionais, no ano passado rodou em Santa Maria da Feira. Vai agora finalmente para as salas. É um filme muito querido, é a primeira longa-metragem do Carlos Amaral, e é um projeto muito querido para mim e para a Maria [Leite].
Como foi a preparação para este personagem?
Na verdade, se falarmos do ponto de vista da personagem, não sei dizer como me preparei. Porque ela, na verdade, tem um lugar assimilado a mim. Há um estar na maneira como foi filmado que se calhar é um tipo de filme que não necessita desse lugar de preparação. A nível de rodagem, foi uma rodagem super dura, porque o filme passa-se todo de noite. Vivia de noite. Logo aí foi um desafio. Filmámos na ria de Aveiro, cenas fisicamente duras dentro de água. Há muitos planos dentro de água, que fizemos num tanque na Faculdade de Engenharia do Porto.
Como foi viver a pandemia, à margem destes trabalhos?
Eu nunca deixei bem de trabalhar, fui sempre fazendo coisas, felizmente. Mas pôs tudo em perspectiva. Começa-se a seleccionar melhor os projetos, não estás a perder tempo com um certo tipo de coisas, fez com que olhasse para os projetos artísticos de outra maneira. Comecei a dar mais valor, e a não ter por garantido. Essa foi a grande mais-valia da pandemia, aceito os projetos, hoje, quando quero mesmo fazê-los.
Estás em palco como peixe na água. A ressaca do palco é uma coisa real?
É a ressaca do palco e das rodagens. Qualquer projeto artístico tem sempre um envolvimento. É quase como quando vamos de férias com os amigos e de repente voltas a casa. Qualquer projeto deixa essa sensação, pelo menos aqueles a quem nos damos de verdade. Eu até sinto mais "ressaca" nas rodagens de cinema. Usufruis do dia ainda de uma maneira mais intensa, ainda que no teatro se partilhem mais coisas. De repente fazem-te falta as pessoas.
Os tempos do Cinema e do Teatro são diferentes. O que te fascina nisso?
Eu não trabalho só como intérprete, também faço criação minha, e por isso acabo por saltar entre funções. A mais-valia de ser intérprete ou criador nesta área é precisamente o poder saltitar de umas áreas para as outras. E para mim, elas são super importantes. Eu adoro estar em cena com um espectáculo de teatro porque é uma coisa do "aqui e agora", está-se em cena durante não sei quanto tempo, é em tempo real, tens de lidar com o teu mood nesse dia, para fazeres o espectáculo da maneira mais justa, mesmo quando o dia é pessoalmente difícil ou hiper feliz. Canalizar as energias e moldarmo-nos - é esse o desafio. As gravações em Cinema são uma coisa mais dilatada no tempo. É quase como estar, naquele tempo das rodagens, sempre na mesma bolha, tentando manter tudo intacto. É muito intenso. Tem menos adrenalina, por outro lado, sinto mais adrenalina em palco.
Que papéis exigiram mais de ti, ao longo destes anos?
Já tive uns quantos em Teatro, na altura dos 7 anos no Teatro da Garagem. Mais do que personagens tive cenas que exigiram muitas emoções, que me fizeram olhar para o meu trabalho de forma diferente. Em Cinema, o Bem Bom e no Mar Infinito foram muito importantes para mim; o primeiro por representar uma personagem que já viveu e há a responsabilidade de representar uma pessoa que já existiu; o segundo, pela endurance. Não há uma única cena onde eu não esteja. Como protagonista, leva-se o filme às costas.
Tens um perfil de redes sociais muito artístico. A Arte, em todas as suas formas, é uma paixão antiga?
Se for fotografar profissionalmente, para vender, fico muito constrangido. Eu gosto muito de trabalhar com fotógrafos que têm um pensamento ou conceito qualquer, com que me identifique.
Em que projetos gostavas de trabalhar, num futuro próximo?
Tenho muitos realizadores com quem gostava de trabalhar. Adorava trabalhar com o Richard Linklater, há uma dilatação do tempo de trabalho, os atores crescem, e os próprios atores escrevem os guiões. Adorava trabalhar com ele, ou com o Xavier Dolan. Há uma série de pessoas, na verdade. Mais do que tudo, acho que aquilo que mais almejo é ter uma coisa minimamente consistente. Tenho feito trabalhos cá, mas também em Itália ou em França. Tenho esse privilégio. Acho que as coisas têm o seu tempo para acontecer, e o seu ritmo, e eu não tenho pressa. O meu trabalho de internacionalização tem sido feito à margem de algumas plataformas e iniciativas nacionais como o Passaporte. Mas é o meu caminho, e ele está muito justo. Felizmente, consigo olhar para vida dessa maneira tranquila.
Isso acontecia-te muito, olhar de forma mais instável?
Nós dominamos 10% do que nos acontece. Dominamos os nossos skills, e isso é que temos de garantir que "entregamos". De resto, são pessoas que escolhem por nós. Depois é a genética que entra em campo, depois há não sei quantas mais coisas que estão por detrás da produção. Pelo menos a mim, tento que não me afete, porque são coisas que não podemos mudar. Hoje em dia, faço um casting e esqueço que o fiz. Mas eu tive de criar esse hábito, esquecer. O não é sempre garantido. Aquilo que eu posso garantir é que no casting e na audição eu vou dar o meu melhor e preparo-me para isso.
Sempre quiseste ser ator?
Sempre quis ser arquiteto. Desde os 11 ou 12 anos. Fiz Artes no Secundário, e na faculdade segui Arquitetura. Mas comecei a pensar que não me imaginava nada atrás de um estirador o resto da vida, enfiado num atelier. Nunca tinha contemplado mais nada para mim, mas em Aveiro, onde cresci, sempre fiz teatro. Havia essa ligação. Nessa altura, que via a representação como um hobbie, fiz A Escritora Italiana de André Badalo, mas era uma personagem pequena. Na altura quis fazer a rodagem inteira, a ver a Lúcia Moniz, o Nicolau Breyner e a Simone de Oliveira. Foi nessa altura que pensei que aquilo me fazia feliz.
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