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Nuno Lopes: “Eu nunca tive o objetivo de ser um ator internacional”

Nuno Lopes é Boxer, na novíssima série White Lines, da Netflix. O premiado ator português revela à MUST como é trabalhar numa grande produção de Netflix, fala sobre o que o cativou neste policial descomprometido, e como vê a internacionalização cada vez maior dos atores portugueses.

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08 de maio de 2020 | Rita Silva Avelar

À semelhança de outros países, também os atores portugueses estão a migrar para grandes séries como as do gigante do streaming que é a Netflix. Há uma mescla de nacionalidades cada vez maior no ecrã, que chega hoje a mais pessoas do que muitos filmes pensados para as salas de cinema. Em White Lines, Nuno Lopes é Boxer, um dos personagens que entra na vida de Zoe Walker, a britânica que deixa a sua vida pacata em Manchester para rumar ao paraíso balnear que é Ibiza, com o propósito de descobrir o que aconteceu ao irmão Àxel, um DJ que foi assassinado em condições misteriosas há 20 anos. Entre o submundo do crime, as festas estrondosas dos clubes megalómanos desta ilha, este mistério parece adensar-se, e estar longe de ser resolvido. À MUST, Nuno Lopes revela como chegou ao papel de Boxer, um dos personagens mais próximos da protagonista. Estreia a 15 de maio na Netflix.

Nuno Lopes na série da Netflix White Lines.
Nuno Lopes na série da Netflix White Lines.

Como surgiu o convite para trabalhar com Aléx Pina nesta nova série da Netflix?

Começou tudo através de uma iniciativa que a Academia Portuguesa de Cinema e a Patrícia Vasconcelos organizam em Portugal que é o Passaporte, que mostra atores portugueses a diretores de casting estrangeiros e a agências. Foi aí que eu conheci o meu agente inglês, que tem um festival maior na Irlanda chamado Subtitle European Film Festival. Nele, o Subtitle Talents reúne 40 atores cujo idioma não é o inglês com 100 diretores de casting de todo o mundo. Numa dessas reuniões eu conheci as diretoras de casting do White Lines, que viram o São Jorge e outros filmes meus. Quando surgiu a personagem do Boxer, pensaram em mim e pediram-me fazer self tape para a série White Lines. Meses depois fui contactado para ter uma reunião via Skype com o Aléx Pina, e algumas pessoas da Netflix, e acabei por fazer uma espécie de casting live. Numa terceira fase, regravei a self tape com as indicações que me deram, e por fim – numa quarta fase – fiz um teste de química com a protagonista da série porque os nossos personagens andam muito juntos. Acabei por ficar.

O que sente que distingue as séries deste realizador?

Como todas as séries do Aléx Pina, há sempre um protagonista eleito, mas na verdade o que acontece é que há sempre quatro ou cinco protagonistas e eu tive a sorte de ser um deles.

Quais foram os maiores desafios deste personagem? E o que mais o cativou no guião?

Aquilo que mais me cativou mais é muito difícil de definir. Até mais do que a minha personagem, cativou-me eu nunca ter visto nenhuma série exatamente assim: no sentido em que a história parte de uma tragédia, é sobre um DJ que morre e sobre o que se passou com ele, ou seja parece um policial negro, mas depois se transforma numa série cómica, divertida e satírica, sobre o que é a chegada de uma pessoa que vem de Manchester, habituada a uma vida simples e cinzenta, de certa maneira. E de repente se vê em Ibiza, no mundo da noite e da música eletrónica, das drogas, das orgias, do mundo do crime. Acaba por ser uma série muito cómica sobre uma investigação policial de um assassinato. Nesse sentido é uma série muito nobre nesse sentido. É alegre, divertida, louca e caleidoscópica quase.

Nuno Lopes junto a Laura Haddock, a atriz que interpreta Zoe.
Nuno Lopes junto a Laura Haddock, a atriz que interpreta Zoe.

Como ator que já deu esse salto há algum tempo, como vê a internacionalização cada vez maior dos atores portugueses para grandes projetos em plataformas de streaming?

Eu nunca tive o objetivo de ser um ator internacional, mas gosto de filmar e quero filmar mais. E infelizmente em Portugal como temos pouco apoio – só podemos fazer 10 filmes por ano e as séries também são escassas – é muito difícil para um ator ter um percurso a filmar, seja séries ou filmes, em Portugal. Na verdade, eu comecei à procura de trabalho fora com o objetivo de filmar, e apetece-me fazer projetos que me desafiem. Acho que a Netflix é uma das grandes responsáveis por esta mudança de paradigma, porque o facto de ter constantemente produções nos próprios países, que são originais da Netflix, e depois levarem-nas para outros lados, faz com que de repente outras línguas sejam ouvidas. E sobretudo quando começam a ter sucesso, como Narcos, por exemplo, ou La Casa de Papel... Isso é uma grande mudança de paradigma.

White Lines estreia a 15 de maio.
White Lines estreia a 15 de maio.

Como ator, o que lhe trouxe de novo esta série?

A mim como ator não me interessa apenas mudar de personagem, mas também mudar de meios. E nesse sentido a série da Netflix caiu-me que nem uma luva. Uma série de 10 episódios em Portugal seria feita em dois meses, três meses, e esta série demorou cinco a seis meses a ser feita. É um desafio enorme, até por estar a representar outras línguas. Para além disso, estou habituado a fazer cinema de autor, em que há uma voz que comanda – a do realizador – e a voz que comanda aqui é a do escritor, que nem está presente nas filmagens, porque não gosta. E a produção está muito mais presente nas filmagens do que eu normalmente estou habituado. De repente é um meio diferente. É uma série de entretenimento puro. Foi um desafio que abracei com muita vontade.

Durante as filmagens da série White Lines, grande parte do elenco reunido.
Durante as filmagens da série White Lines, grande parte do elenco reunido.

O que irá acontecer à cultura – em tempos de confinamento – onde se insere o cinema?

Por um lado, as pessoas estão a consumir muito mais cultura, porque se estão a aperceber do impacto e da importância que ela tem nas suas vidas. Estão em casa, logo estão a consumir mais séries, filmes, livros… E nesse sentido, espero que as pessoas se apercebam da importância. Para os artistas é um momento absolutamente trágico. É uma classe que é precária há décadas, e quando acontece uma crise a uma classe que já é precária, os resultados são trágicos. Espero que este Governo, que diz ser apoiante da cultura ao contrário do outro, prove que está do nosso lado. É uma situação grave para os atores.

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