O macho alfa dos machos alfa
O estilo de vida extremo de Ben Greenfield conquistou CEOs e príncipes em busca da juventude eterna e de testosterona extra. Stefanie Marsh encontrou-se com ele em casa – para um banho de gelo.
No meio da natureza, no ambiente masculino de uma região habitada por pumas e lobos, numa acolhedora casa de família em madeira, um homem americano vestido com uma camisola de alças e calções balança-se energicamente, para cima e para baixo, num baloiço de yoga pendurado no corrimão do primeiro piso. Está a contar-me a história do seu sucesso e fá-lo de uma forma tão calma e íntima que, se só ouvisse a sua voz incorpórea, não faria ideia de que ele está pendurado de cabeça para baixo a fazer sit-ups invertidos. Ele acaba de fazer 40 anos e diz que a sua idade biológica é nove. É afetuosamente apelidado de muitas coisas por muitos dos seus admiradores, dependendo do problema específico que estão à espera que ele lhes resolva: "super-homem", "biohacker de elite" e, para seu ligeiro embaraço, "o tipo do pénis".
Ben Greenfield é uma pessoa tão focada e tão ultra-lógica em tudo aquilo que faz que é muitas vezes considerado louco. Ele é a prova viva do poder da auto-otimização extrema entre corpo e mente. E aqui, trabalhando a partir da sua casa, situada na periferia da encantadora cidade ribeirinha de Spokane, no estado de Washington, 160 quilómetros a sul da fronteira canadiana, a oeste das Montanhas Rochosas e 450 quilómetros a leste da costa de Seattle, parte do seu trabalho é transmitir a sua sabedoria às massas ou, seguramente, às massas masculinas.
Cá em baixo, na cozinha/zona de refeições, com um olho no kefir caseiro que está a tentar fazer, ele toca breve e amorosamente no tambor handpan de aço que lhe foi oferecido por um amigo de Los Angeles por ocasião do seu aniversário, na passada sexta-feira ("adoro música"). Greenfield diz que está determinado a saber tocar o handpan como deve ser, faz um à parte para dizer que lê um livro por dia, partilha, alegremente, a sua opinião sobre as vantagens de ter sido recentemente diagnosticado com TDAH [Transtorno de déficit de atenção e hiperactividade] acabando por dizer, em seguida, aquilo que faz na vida. "As pessoas vêem-me nas redes sociais", diz, com a seriedade e a frontalidade com que aborda todos os temas, "e querem ser eu. Algumas daquelas coisas masoquistas hardcore. Os homens que têm um estilo de vida pós-industrial, em particular, querem mesmo algumas daquelas coisas hardcore. Construir alguma coisa. Sofrer. Ficar com uma cicatriz. Chegar ao escritório com um olho negro."
Nesta belíssima casa em madeira vive também a mulher de Greenfield, Jessa, e os seus filhos gémeos, River e Terran – os quais, com 11 anos, me parecem demasiado novos para terem o seu próprio podcast de avaliação de restaurantes (gogreenfields.com) e poderão, contudo, ser biologicamente mais velhos do que o pai. Talvez uma análise celular revele que têm apenas três anos e três quartos, mas a verdade permanecerá envolta em mistério até os gémeos, Jessa, a mãe e o pai de Ben e outros membros da família Greenfield se prestarem ao nível fanático de autoavaliação (ou autoquantificação) que Ben pratica e do qual o seu sustento depende. À exceção de um pequeno triunfo no ano passado, quando reparou que Jessa estava a sentir-se um pouco mais cansada à noite do que era habitual e aproveitou a oportunidade para a convencer a fazer análises ao sangue, consigo perceber como eu poderia resistir ao questionável encanto de fazer constantes exames à urina, ao sangue, à função respiratória e ao coração, num ambiente cheio de dispositivos de imagiologia e monitores.
É graças a Greenfield que pessoas como o produtor musical Rick Rubin levam os seus próprios ovos para os restaurantes. Ou Jack Dorsey, o multimilionário que desistiu da universidade e fundou o Twitter, acaba de gravar um podcast (com Greenfield) no qual partilha os seus "treinos exigentes que poupam imenso tempo" e "táticas avançadas de mitigação do stress". De uma forma ligeiramente anticlimática, a conclusão de Dorsey é: água quente e fria. "Nada me deu tanta confiança mental como sair de uma sala aquecida para o frio".
Se nunca ouviu a expressão "biohacking, então não deve ser uma pessoa (homem) famosa ou um CEO (homem) de uma empresa da lista Fortune 500. Estes homens compõem 90 porcento da clientela de Greenfield: pessoas que querem ficar atraentes e em forma rapidamente, mas não querem receber instruções de uma autoridade de medicina séria e internacional – ou seja, um médico – que passa o dia inteiro sentado no escritório ou publica investigação científica em vez de testar todos os tratamentos que prega e escrever um blogue sobre eles.
Por outro lado, o gosto de Greenfield em ser a sua própria cobaia é uma odisseia experimental para os novos tratamentos e truques de saúde e fitness mais eficazes – embora, por vezes, questionáveis ou até assustadores – do mundo, representa uma aventura excitante no reino do desconhecido para os seus admiradores, por mais que ele não possua quaisquer habilitações clínicas. Os seus clientes não se importam de gastar 500 dólares numa sessão de Skype de meia hora, durante a qual Greenfield lhes ensina como alcançar uma masculinidade plena e ideal enquanto toma banhos de luz infravermelha ou corre sobre a passadeira rolante toda artilhada que tem no seu escritório em casa, onde está, simultaneamente, a treinar para obter o seu certificado russo de kettlebell com um sistema de corrente transcraniana direta colocado na cabeça. Homens menos abastados podem preferir a opção mais barata de comprar um exemplar de um dos livros de Greenfield que constam da lista de bestsellers do New York Times e investir num esquema que converta a sua arca frigorífica num banho de gelo.
Os biohackers gostam de se apresentar como tipos que desafiam os limites e acrescentam ingredientes nojentos, daqueles mesmo à macho, como vermes, às suas dietas de atleta de elite e estarão sempre na vanguarda de qualquer nova tendência mente/corpo que surja em cena.
Greenfield e os seus companheiros do Top 10 – pessoas como Tim Ferriss, "Quantified Bob" e alguém simplesmente conhecido como Gwern – estavam a tentar estabelecer uma microdose de LSD para melhorar a produtividade pelo menos cinco anos antes de a prática se tornar generalizada em Silicon Valley. A auto-otimização passou a significar muito mais do que definição muscular, como sugere o título do próximo livro de Greenfield, Boundless: Upgrade Your Brain, Optimize Your Body & Defy Aging. Nos dias que correm, o objetivo do biohacker de elite é mais do que ter o melhor corpo, a melhor dieta e, se tudo correr bem, viver para sempre. É também ter o melhor cérebro, o método de trabalho mais produtivo, o tempo de lazer mais intenso e a mais profunda prática de meditação, o ginásio mais artilhado, os dispositivos de fitness mais estranhos e a carteira mais recheada.
Greenfield, porém, está a levar o biohacking ainda mais longe – e parece estar a fazê-lo inadvertidamente. A sua abordagem, como dizem os cabeçalhos a apelar aos cliques do seu blogue, inclui o cérebro – "Upgrade Your Head" – e os órgãos genitais – "How To Make Your Penis Stronger With A ‘Private Gym’". Pode comprar uma coisa chamada um anel peniano com peso e terá de usar um íman para fortalecer o soalho pélvico. Greenfield testou o Penis Gym durante um mês no ano passado. A sua publicação sobre o tema no blogue atraiu toneladas de atenção. No entanto, também originou um fenómeno estranho: uma coisa para a qual ele não estava preparado; uma coisa que está a fazê-lo sentir-se desconfortável e também a obrigá-lo a repensar o seu futuro. Os homens começaram a falar com ele sobre sentimentos.
Como é óbvio, Jessa é a sua musa de pedra e cal. Ela e Greenfield viviam na mesma zona e conheceram-se na catequese quando eram pequenos. Desde que se juntaram, quando tinham vinte e poucos anos, que ela tem assistido de perto à evolução de Greenfield, de bodybuilder e fanático da boa forma até se tornar o Melhor Treinador Pessoal dos E.U.A., em 2008. Ele é uma espécie de deus entre os homens desesperados por se melhorarem a si mesmos.
Compreendo o entusiasmo de Jessa por ter outra mulher por perto para testemunhar a loucura do seu marido, por mais tolerante que ela seja relativamente a ser arrastada para as suas experiências. Uma mulher precisa de ter muita confiança para não se importar de participar nos treinos de Penis Gym do marido, descritos numa das publicações no seu blogue da seguinte forma: "Primeiro ficamos todos excitados, depois paramos para pôr o elástico de resistência. Depois começo a primeira série do meu treino: contrair e relaxar, contrair e relaxar; cinco vezes. Vinte flexões rápidas do músculo. Manter durante vinte segundos. Feito. O meu pénis estremece (oh não, eu escrevi mesmo isto?) sob o peso quando o tempo está quase a terminar, mas na boa. Curtimos enquanto estou a fazer o treino. Depois dedicamo-nos a novamente a preliminares intensos durante a minha pausa de um minuto para descansar. Fazemos outra série e depois uma última. Isto até é divertido, de uma forma ‘estou a treinar enquanto fazemos sexo’."
Pergunto a Greenfield se é estranho para ele ser, de repente, esta grande estrela do biohacking? "Sim, é super estranho", diz-me, ainda com a sua camisola Sugar Ray Robinson vestida e prestes a fazer-me uma visitada guiada ao frigorífico da família. "Fazemos um exercício familiar de gratidão todas as manhãs, no qual nos sentimos completamente maravilhados e gratos pelas nossas oportunidades. Eu trabalho arduamente, mas não me sinto especial."
Alguns dos conteúdos do frigorífico são bastante normais. Existem alguns frascos de pickles de legumes porque a família cultiva os seus próprios alimentos e é inverno, mas também há as prateleiras da porta direita, cheia de garrafas semi-opacas. Uma delas tem um líquido e uma etiqueta a dizer "Não Beber". Para que serve então, se não é para beber? Jessa ri-se e revira os olhos.
"Oh", diz Greenfield. "É uma espécie de garrafa de LSD e eu não quero que os miúdos bebam. Porque às vezes eu misturo microdoses de LSD com psilocibina."
Não é nada que muitos dos seus fãs não soubessem. "Não lhes chamaria ‘fãs’. Chamaria ‘seguidores’. Jack Dorsey é um exemplo. Rick Rubin. Mike dos Beastie Boys. O príncipe do Dubai."
Qual deles? "Não faço ideia, mas ele adora biohacking."
Não consigo deixar de pensar que a sua relevância prolongada se deve, em parte, a uma combinação perfeita entre uma população de homens idosos muito ricos que querem viver para sempre e a suposta "crise da masculinidade". É muito comovente pensar num príncipe do Dubai a chorar enquanto lê, com o coração partido, a publicação "the Unfrozen Caveman Runner" no blogue de Greenfield.
Jessa conseguiu convencer Greenfield a manter o seu equipamento no piso inferior, na sua "sala de jogos", e eu sento-me para comer na mesa de refeições da família. Jessa preparou uma belíssima refeição de frango grelhado. A família segue uma dieta simples, biológica e sem glúten, desde que não saiam para comer fora: nesse caso, se comerem pão, por exemplo, rebatem-no com um suplemento chamado Gluten Guardian.
"E temos um suplemento para tomar se comermos num restaurante onde não sabemos se os alimentos foram pulverizados com pesticidas para regenerar o intestino. Por vezes, estamos com pressa e a viajar. Se não soubermos se o peixe é de aquicultura, tomamos carvão para absorver os metais. Ou algas." Quando estão fora de casa, os Greenfield são uma ervanária ambulante.
"Outro bom exemplo é o tempo de exposição a ecrãs. Os rapazes sabem o que a exposição aos ecrãs faz ao sono. Sabem que, se estiverem com o telemóvel do pai ligado e com o wi-fi ligado, isso influencia o esperma e o tipo de bebé que vão ter mais tarde."
Greenfield quer saber qual o tema sobre o qual eu gostaria de conversar. "Vou dar-lhe algum LSD e atirá-la para o banho gelado", diz, a brincar. Conto-lhe que o meu editor me pediu para lhe perguntar sobre o Penis Gym.
"Oh", diz, com um gemido. "Men’s Health. Cinco meses a viajar e a fazer tudo o que um homem pode fazer para melhorar o seu desempenho sexual ou mudar o seu pénis. Foi publicado em Janeiro de 2018. A reportagem chamava-se ‘New Year, New Dick’."
"És o doutor do pénis agora", diz Jessa, rindo-se.
Greenfield abana a cabeça. "Ainda não consegui que se esquecessem disso. ‘És o Ben Greenfield. És o tipo que injetou células estaminais no pénis!’ E eu penso: não é por isto que quero ser conhecido."
Talvez não, mas isso granjeou-lhe bastante atenção e também parece ter-lhe dado vantagens pessoais, uma vez que ele repetiu o "tratamento do pénis" mais duas vezes.
Pergunto a Jessa se ela não se preocupa com as experiências penianas do seu marido. Alguma coisa pode correr mal. O futuro da sua relação não está constantemente em jogo? Reformulo: "Quer dizer, pode acontecer alguma coisa".
Greenfield responde. "Às vezes gostava que acontecesse, para ter uma história sexy para contar", diz. "Quando injetei as células estaminais no pénis, fiquei um bocado preocupado porque fiquei com nódoas negras durante alguns dias. Parecia que os meus genitais tinham sido atropelados por um camião. Mas até isso… quer dizer, umas nódoas negras depois de levar uma injeção…" Isso quer dizer que nunca nada lhe corre mal? Bem, uma vez ele foi ao Harry Potter World em Los Angeles, numa escapadela romântica com Jessa, tomou um Viagra e ficou vermelho como um tomate.
Alguns dos biohackers mais radicais gostam de seguir pela via ilegal. Os que experimentaram a CRISPR (uma técnica de edição de genes) admitem suicidar-se se as suas experiências DIY com o corpo correrem mal. Greenfield joga relativamente pelo seguro, mas à semelhança da maior parte dos membros da sua tribo, tende a fugir de médicos e cientistas. Quando se associou a um canal desportivo canadiano para transmitir pela televisão as suas injeções de células estaminais, os cientistas do desporto descreveram a sua experiência como "nojenta" e "perigosa". O segmento foi cortado.
Greenfield também se mostra um pouco cético em relação às vacinas e aos antidepressivos e vende suplementos e a sua própria marca de café no seu website.
"Já fiz muita coisa com células estaminais", diz, ainda sobre as injeções no pénis. "Servem para aumentar o tamanho, a qualidade da ereção e a libido, entre outras coisas… melhora a circulação sanguínea. Produzimos mais testosterona. Muitas das coisas que experimento – não é por achar que preciso delas, mas para perceber como funcionam e poder falar sobre isso. Eu não preciso de ter uma máquina de treino de 40.000 dólares no ginásio. Sei como me manter em forma, mas muitas pessoas querem ver-me treinar. Algumas destas coisas fazem quase parte do meu trabalho."
"Eu vi-os fazê-lo", diz Jessa.
A imagem do marido com agulhas espetadas no pénis impressionou-a indelevelmente. "Eles estavam, literalmente, a martelar-te com uma espécie de tubo na anca."
"Há alguns vídeos disso no YouTube." (Pesquise: shooting up stem cells with Ben Greenfield.) Fui submetido a um tratamento de células estaminais completo. Injetaram todas as articulações do meu corpo, a minha coluna, os meus joelhos e os meus tornozelos. Chama-se makeover total de células estaminais."
Parece preocupante, digo-lhe. "Um bocadinho. É um pouco como criar um super-humano. ‘Super-humano’ é provavelmente um exagero. É como os soldados que se tornam super-soldados aperfeiçoados. É muito fixe. Em segundo lugar, é uma boa história para escrever e contar num podcast."
"A única altura em que fiquei apreensiva foi quando o coração dele começou a bater mesmo muito devagar", diz Jessa.
"Pois", concorda Greenfield, que estava inconsciente na altura.
"Eu estava mais preocupada com a anestesia do que com a intervenção", diz Jessa. "A maior parte das pessoas morre devido à anestesia."
Os rapazes não ligam nenhuma à conversa sobre os genitais do pai. Preferem falar sobre o seu trabalho de casa de matemática. No início da minha visita, Greenfield deu-me a conhecer a sua propriedade arborizada com 2 hectares. Havia galinhas e cabras a passear junto aos trilhos da floresta em redor. Parámos para admirar aquilo que parecia uma casinha de férias empoleirada num par de árvores. Na verdade, é uma casa na árvore construída por Terran e River. À semelhança do seu pai, estão a estudar em casa. "É unschooling. É um ensino mais baseado na vida. Identificar as suas paixões e interesses. Aquilo que os faz vibrar", disse-me Greenfield.
"Durante as suas aulas de matemática neste verão aprenderam a construir este forte na árvore. Isto implicou conhecimentos como arquitetura e geometria, carpintaria e construção civil. Prefiro mil vezes que eles façam isso a estarem sentados numa sala de aula a calcular a área de uma cama."
Todos os verões, os gémeos vão passar um fim-de-semana de sobrevivência sozinhos na natureza – não juntos, mas sozinhos. "Um tipo vai ver como eles estão todos os dias", mas de resto os rapazes tratam de si próprios, procurando alimentos, acendendo as suas fogueiras e construindo os seus abrigos. Há quanto tempo fazem estre treino de sobrevivência? "Desde que têm seis anos." Os rapazes queriam pôr eletricidade na casa, mas o pai teve de traçar um limite.
O tema da conversa desvia-se para a infância de Greenfield. Ele toma antibióticos para problemas digestivos desde sempre – isso poderá explicar o seu fascínio pela saúde. Quando o seu pai, um antigo bombeiro e paramédico transformado em empreendedor em série, teve uma crise de meia, abandonou a família para ir para um mosteiro. Greenfield racionalizou o sucedido da seguinte forma: "Acho que a maioria dos homens jovens deveriam ter um rito de passagem – algo que os seres humanos têm há milhares de anos. Para se tornarem homens, têm de superar uma prova difícil. Como ir viver para a natureza durante uma semana. Por vezes, é uma espécie de missão ou de batalha. As mulheres têm um momento nas suas vidas em que passam por uma experiência biológica muito singular – ‘agora sou uma mulher’. Os homens não têm, necessariamente, esse momento."
O pai de Jessa é agricultor no Idaho. "Acho que o seu primeiro [rito de passagem] foi quando – porque ele cresceu em quintas – trouxe uma manada de bezerros sozinho das montanhas, aos 14 anos", diz ela.
"De repente, somos alguém na sociedade de quem todos podem depender em termos de conhecimento", acrescenta Greenfield. "Em termos de proteção. A questão é que, se não passarmos por isso quando somos novos, acho que muitos homens passam metade das suas vidas a serem aquilo que o mundo quer que eles sejam ou a sentirem que não alcançaram nada enquanto homens e depois têm uma crise de meia idade." À medida que Greenfield fala, apercebo-me de que ele está a citar os seus clientes:
"‘Tenho 40 anos e ainda não me descobri a mim próprio ou quem realmente sou.’ E a questão é que, por essa altura, muitos homens têm uma família e uma carreira e vemos muitos afundarem-se. Por vezes, é um caso extraconjugal ou despesas absurdas. Para o meu pai, foi encontrar uma nova religião. Mas acho que parte disso se deve ao facto de muitos homens ainda serem rapazes a tentarem descobrir o que querem ser quando crescerem."
Na manhã seguinte, sou acordada por Greenfield a bater à porta da cabana onde estou instalada. Tem na mão um grande recipiente com café da sua própria marca. São 8 horas da manhã. Ele está a pé desde as 6h30, a escrever no blogue, fazer exercício, tomar suplementos, vigiar o kefir. Jessa está na igreja, por isso não conto com o seu apoio, mas ela emprestou-me o seu minúsculo equipamento de yoga para o caso de eu querer experimentar alguma das máquinas de Greenfield.
Há qualquer coisa na sua extrema boa forma e total incapacidade para sentir vergonha seja do que for que me faz sentir suficientemente motivada e inapropriada para dizer sim ao banho gelado. Deve haver qualquer coisa obviamente masculina em água fria, tendo em conta a importância que os homens que entrevistam Greenfield dão a mergulhar no seu banho gelado – como se estivessem a mergulhar num buraco aberto no gelo na Antártida. Para minha grande desilusão, porém, a água é tolerável. Até consigo mergulhar a cabeça. É então que me ocorre – talvez, para os homens, entrar num banho gelado e viver para contar a história seja o tipo de rito de passagem a que Greenfield se referia ontem à noite.
Vemos o "ginásio geek" de Greenfield que, a olhos não treinados como os meus parece uma câmara de BDSM [Bondage, Disciplina, Dominação e Submissão e Sadomasoquismo] desgastada. Pedalo durante cinco minutos numa bicicleta estacionária com elásticos insufláveis apertados à volta das coxas. Greenfield diz-me que os elásticos fazem com que os meus cinco minutos equivalham a vinte minutos de exercício. Se eu fosse CEO de uma empresa tecnológica, talvez apreciasse mais os equipamentos – tal como o facto de Greenfield me ter ensinado o suficiente sobre o manuseio de arco e flecha para eu conseguir caçar a minha própria comida. Ser proficiente com arco e flecha é algo muito importante para os CEOs nos dias que correm.
O objetivo autodeclarado de Greenfield é chegar aos 90 anos com uma idade biológica de 25 e passamos o resto da manhã a experimentar os seus equipamentos no valor de 500.000 dólares. Alguns dos seus clientes compram o pacote completo. Há uma máquina de 40.000 dólares originalmente usada pela indústria de corridas de cavalos. "Regenera, literalmente, as células. É muito bom quando estivemos a voar ou a viajar muito. Eleva-nos ao nível seguinte. É fabuloso.". Há outra máquina que, em 20 minutos nos dá a mesma sensação de "termos saído e dormido ao ar livre a noite inteira". (Ou ser um sem-abrigo, digo eu.) Há uma ferramenta de massagem que parece um para-choques elétrico glorificado. Há um tanque de flutuação cheio de água salgada com um gravador ativado por voz anexado para o caso de termos ideias que queiramos gravar enquanto estamos deitados a meditar na escuridão.
Greenfield tornou-se um biohacker a sério quando participou no Iron Man do Hawai, em 2011. Foi depois de ter criado um programa de fitness online – o Triathlon Dominator – sobre como treinar para um triatlo com o mínimo de exercício. O programa custava 97 dólares e, para sua grande surpresa, rendeu-lhe 45.000 dólares em dois dias. Enquanto bloguer, Greenfield descobriu que tem um talento natural para a escrita. "E isso deu lugar aos suplementos, às barras energéticas e ao café."
Acho que há qualquer coisa muito para além da sensação de "relato das trincheiras" por detrás do encanto de Greenfield. Creio que seja o facto de ser tão evidente que ele tem uma boa vida afetiva com a família, enquanto é capaz de falar de forma tão aberta de coisas como levantamentos de pesos com o pénis. E quando um homem começa a falar abertamente sobre o seu pénis…
"O difícil é entrarmos em conversas como: ‘Como é a tua relação com a tua mulher? Como são os teus hábitos com a pornografia? Tens outras mulheres?’ Por vezes, sinto-me desconfortável em relação a isso. Não sou um terapeuta certificado. Ou fico com síndrome de impostor. Estou a falar com estes tipos sobre sangue, suor e lágrimas, músculos e hormonas – por isso, é estranho entrarmos naqueles territórios."
No entanto, as portas abrem-se. E depois acontece algo inesperado a Greenfield e ele começa a pensar: para que serve estar em tão boa forma? "Acho que dou mais importância às disciplinas espirituais", diz. "E o facto de as avozinhas que bebem gin e fumam 120 cigarros por dia da Sardenha viverem tanto como os entusiastas anti-idade dos E.U.A. é um excelente exemplo de como as relações, o amor, a fé num poder superior, o pensamento positivo e o sentido de missão terem tanto impacto na nossa saúde e longevidade, se não mais, do que estes biohacks malucos."
Os seus clientes querem, cada vez mais, falar sobre outros assuntos. "É do género: ‘como é que se reza? ou ‘como é que faço amigos?’ ou ‘como é que janto com a minha família à noite?’ Essa não tem sido a minha área. Acho que esses assuntos são muito mais interessantes do que como ter um six-pack ou competir num triatlo."
Greenfield faz uma pausa antes de fazer uma declaração incrível. "Há uma crescente mudança e consciencialização na comunidade do fitness de que a boa forma não é assim tão importante a longo prazo. Os músculos não conduzem à felicidade. Ou coisas como: ‘a minha boa forma era um escape da falta de significado da minha vida.’" Deve ser intimidante para ele, sabendo quão emocionalmente carentes todos estes homens são, quão vazias as suas vidas podem ser e, o mais assustador, quão secretamente esperam que ele resolva todo.
Por isso, a questão é, diz Greenfield, nervosamente: "Como é que eu, um ícone do fitness que dança Zumba, começo, de repente, a falar com as pessoas sobre coisas mais importantes do que os últimos 10, 20 anos, porque acredito que posso ter um impacto muito maior nas suas vidas? Cada vez mais me apercebo de que o fitness é quase como uma droga que permite às pessoas descobrirem coisas que as possam fazer sentirem-se mais felizes e realizadas. E sim, esse será o meu próximo passo. Estou satisfeito com isso, mas também bastante apreensivo porque terei de aprender coisas novas."
Muitas coisas novas e assustadoras. Como… sentimentos? "Sim", diz Greenfield com um grande sorriso. "Sentimentos."
Isso é muito mais assustador para Greenfield do que um programa de treino de 30 dias a levantar pesos com o pénis.
Exclusivo The Times Magazine/Atlântico Press
Tradução: Erica Cunha Alves
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