Robert De Niro: “Trump é um pateta, não tem noção alguma”
De Niro está de volta. Esta frase poderá soar um pouco estranha para alguns. De volta de onde? Até porque ele nunca se foi embora. Tem participado constantemente em filmes e em séries televisivas nas últimas décadas. Na verdade, é um homem extremamente ativo, tendo em conta que está na casa dos 70 anos.
De certa forma, com o seu último filme, O Irlandês, realizado por Scorsese, Robert De Niro regressou a casa. Ocupa novamente a mesma posição num filme de topo, como aconteceu com Taxi Driver, O Touro Enraivecido e O Rei da Comédia, entre outros. De Niro juntou-se ao seu realizador preferido e amigo Martin Scorsese e a Joe Pesci e a Al Pacino. É também um reencontro com o cinema clássico americano. No entanto, isso não significa que De Niro tenha esquecido as suas raízes italianas. Ele continua a ser um dos poucos atores de Hollywood que desempenharam personagens de expressão italiana em filmes italianos, tendo trabalhado com diretores aclamados como Bertolucci e Veronese. E quem pode esquecer a sua participação em Era Uma Vez na América, realizado por Sergio Leone? Durante esta longa entrevista, que se estendeu por duas sessões em Nova Iorque, é evidente que Bob, como pede para ser tratado, é uma pessoa muito calma na vida real. O oposto de uma diva mal-humorada.
Estamos a tomar o pequeno-almoço juntos num restaurante elegante da zona alta da cidade, enquanto conversamos sobre o fantástico trabalho deste ator vencedor de dois Óscares. A calma desaparece quando um nome é mencionado: Donald Trump. O atual presidente tornou-se arqui-inimigo de Bob, gerando um nível de irritação e de raiva que nos faz lembrar como os vilões no cinema têm encarnado tudo o que existe de mau na natureza humana. De Niro é atualmente conhecido por todos os EUA como um dos principais inimigos do presidente. Contudo, o seu star power não o impediu, minimamente, de fazer aquilo que quer, seja no cinema ou seja nos negócios. Ele anunciou, recentemente, o lançamento de mais um Hotel Nobu, a cadeia da qual é coproprietário, juntamente com o chefe Nobu Matsuhisa, e desta vez em Varsóvia. Uma vez uma lenda, sempre uma lenda. Nesta entrevista, Robert De Niro, que vemos em O Irlandês, fala intensivamente sobre a sua infância, as diferenças entre o cinema europeu e o americano, Donald Trump, os seus restaurantes Nobu e muito mais...
Você é meio italiano. Eu gostaria de saber se ouvia pessoas falar italiano em sua casa quando era pequeno?
Não, nada disso acontecia. Eu aprendi italiano sozinho quando fiz filmes em Itália. Quando era novo viajei até Itália. Aprendi italiano porque adoro a língua. Gostaria de saber mais. Eu apercebo-me disso agora que estou a ficar mais velho. Fiz um filme com Giovanni Veronese, em Roma, As Idades do Amor [Manuale d’amore 3].
Monica Belluci entrou nesse filme.
Sim. Ele escreveu-o mesmo em italiano. Sendo um homem inteligente, Giovanni escreveu de forma inteligente. Eu estava a aprender todas as subtilezas do idioma. Eu falava italiano à minha maneira, um tipo de italiano diferente, da maneira como um americano falaria italiano. Pronunciamos mal as coisas, dizemos as coisas de acordo com o nosso idioma nativo. Consigo safar-me. Mas quando estava a trabalhar com o guião, tinha mesmo de treiná-lo, praticamente ao ponto de o conhecer foneticamente. A minha pronúncia era boa, mas é diferente quando sentimos realmente a língua e cada palavra – da mesma maneira que sinto o inglês. Adoro italiano e francês. Conheço pessoas bilíngues e trilíngues. Os meus netos estão a aprender mandarim na escola. Estão imersos no idioma. As escolas americanas são menos propensas a fazê-lo, mas as escolas europeias fazem-no, sobretudo na Escandinávia. Eles asseguram-se que as pessoas aprendem inglês e o falam da maneira correta.
Foi exposto à gastronomia italiana?
Sim, em casa dos meus avós, os pais do meu pai. Adoro comida italiana.
Pode falar-nos sobre os seus filmes italianos preferidos? Quais são os atores e os realizadores famosos por quem sente admiração?
Quando era um jovem ator e ganhei consciência de que existia outro tipo de filmes, interessei-me por Fellini, Antonioni e Pasolini. Mas talvez Fellini. E o realizador de Rocco e Seus Irmãos.
Visconti...
É um excelente filme. Eu gosto de Mastroianni, evidentemente. Havia um ator de Rocco e Seus Irmãos, Renato Salvatori... Uma vez encontrei-o em Roma. Ele estava no carro, preso no trânsito, e eu fui ter com ele e disse-lhe olá. Ele foi muito simpático.
Já participou em filmes de Bertolucci, de Sergio Leone e, mais recentemente, de Giovani Veronesi (As Idades do Amor). Como é trabalhar com realizadores italianos em comparação com os americanos?
Segundo a minha experiência, Bertolucci era diferente de Sergio. Ambos têm um certo lirismo, mas quando estávamos a filmar 1900, nós tivemos uma sequência de um "velho", na qual eu interpretava uma versão muito velha de mim próprio. Filmámo-la no início do filme, no primeiro dia ou no segundo dia de filmagens. Eu fiz a sequência, mas foi muito desconcertante porque deveria ter sido feita no fim das filmagens. Depois refizemos a sequência no final, eu e o Gérard [Depardieu]. Não conseguimos fazer uma coisa dessas até estarmos familiarizados com a personagem. Logicamente, não faz sentido. Hoje já conseguiria fazê-lo, se houvesse uma boa razão para tal. Na altura, porém, era um ator mais jovem e foi difícil. Lembro-me de conversar com Bernardo e de ele me explicar como os europeus trabalham, com ênfase "no sentimento, no momento" e essas coisas. Por outras palavras, a maneira como nos sentimos hoje vai influenciar a forma como fazemos as coisas. Nós não sabemos como vamos interpretar a cena porque podemos sentir-nos de uma maneira hoje e de outra maneira diferente amanhã. Ele tinha razão. Mas, por outro lado, há certas coisas que precisamos de manter, independentemente de como estivermos a sentir-nos. Na verdade, eu lembro-me de fazer uma cena não muito longe daqui, em Nova Iorque, no Museu Whitney, num filme antigo chamado Olá, América, com um ator chamado Allen Garfield. Eu não o conhecia e fizemos uma cena inteira improvisada. Ele era ótimo. Eu estava a sentir-me estranho e não estava a sentir-me bem. Esperava que a cena corresse bem, mas não tinha a certeza... Mas a cena ficou ótima. Podemos não nos sentir bem, mas a cena pode correr bem. Como nós, agora, enquanto estamos aqui a falar. Você pode ter outras coisas na cabeça e eu também, além daquilo de que estamos a falar, mas isso não afeta a entrevista. O mesmo acontece quando estamos a filmar uma cena de um filme. Não há dúvida de que os filmes europeus são diferentes dos americanos, mas os europeus também adoram filmes americanos. Talvez seja por causa da sua simplicidade. Eu estou a generalizar, é claro. Eu tinha cerca de 24 anos, mas percebi que nem sempre precisamos de estar bem, internamente, para uma cena correr bem. Basta fazermos aquilo que devemos com as nossas intenções sociais e interativas. Não devemos deixar-nos confundir por outras coisas. Todos temos problemas na vida, coisas na nossa cabeça.
Então os filmes europeus são mais espontâneos, uma espécie de "impulso do momento"...
Sim. Talvez os europeus tenham uma atitude um pouco mais "natural", pelo menos em determinados filmes.
Pode falar especificamente sobre 1900? O filme foi apresentado no Festival de Veneza de 2017 numa versão restaurada, mas a versão de cinco horas nunca chegou às salas de cinema dos Estados Unidos da América.
Talvez tenha sido projetado num fórum de cinema, mas a versão original nunca chegou às salas de cinema.
Ainda visita Itália com regularidade?
Eu gosto de lá ir sempre que posso.
De certa forma, a situação italiana espelha a nossa situação: a América tem Trump, a Itália tem Salvini...
Vivemos tempos estranhos. Mas este idiota que temos aqui na América não ajuda nada... Eu nem sequer gosto de lhe chamar "presidente" porque ele não é o presidente. Ele nem sequer é capaz de ser presidente. Não tem qualificações. É um pateta. Quanto mais depressa ele abandonar o cargo, mais depressa poderemos voltar a ter alguma estabilidade. Ele é um pateta perigoso. Será muito perigoso se ele for reeleito porque, então, ele não se preocupará minimamente. Perdoará quem quiser, perdoar-se-á a si mesmo. Eu costumava pensar que talvez ele tivesse algum senso comum, algum tipo de decência moral, mas ele é completamente amoral e não tem nenhum equilíbrio ético.
Eu tenho pensado em Nova Iorque, nos últimos meses, porque venho cá quase uma vez por mês. É uma cidade maravilhosa, talvez a melhor cidade do mundo. Eu sei que também gosta muito dela. No entanto, também é a cidade de Trump, de Bernine, de Madoff e de Bugsy Siegel. Como explica essa contradição? Haverá duas faces desta cidade?
É uma grande cidade e produz pessoas muito empreendedoras e com muita autoconfiança, de certa forma, mas no caso de Trump e de Madoff, são pessoas muito iludidas. Eles são parecidos em muitos aspetos. São uma vergonha para qualquer nova-iorquino de gema. Representam o lado escuro e sombrio da cidade. Têm a sorte de serem nova-iorquinos e isso é, provavelmente, a única coisa boa que têm! Ambos são horríveis, mas Trump é o presidente. Trump tornou-se presidente por causa daquele estúpido programa de televisão [The Apprentice]. Provavelmente, teve muito a ver com isso. As pessoas não queriam pensar muito sobre quem ele seria na verdade. É tudo uma questão de aparências. São tudo disparates, manchetes de tabloides e coisas superficiais. As pessoas da região do Midwest olham para ele e dizem: "Ah, ele é fixe." Mas ele é um idiota! Para qualquer pessoa com bom senso ele é uma vergonha.
Eu lembro-me de vir para Nova Iorque, na década de 1980, e de ele ser tão piroso que as pessoas faziam troça dele. Ele não era realmente levado a sério...
Eu nunca tive interesse em conhecê-lo. Ele é um estúpido. Ele é irreal. É um tipo que telefona para os tabloides, que telefona para a revista Forbes e que diz que vale imenso dinheiro. É uma loucura! As pessoas votaram em alguém que telefona para as revistas como se fosse o seu próprio representante de Relações Públicas. É uma loucura! Ele venceu por uma pequena margem, este pateta! É só com isso que ele se importa: ganhar. Mas será pelas razões certas, para o bem das pessoas neste país, para melhorar a vida das pessoas de Nova Iorque, para fazer o que está certo? Ele não tem a menor ideia do que isso é.
Falando em Madoff, eu fiquei muito impressionado com o seu desempenho no filme da HBO, Madoff Wizard of Lies. Para mim, esse filme foi muito assustador porque eu percebi como uma mentira pode conduzir a outra e depois desencadear consequências terríveis. Como abordou essa questão? O seu desempenho foi subtil, mas você conseguiu exprimir a essência da personagem.
Para mim, o aspeto mais interessante é ele ter criado aquela ideia de estar a fazer uma coisa muito especial e que, para a compreender, também tínhamos de ser especiais. Tínhamos de conseguir a oportunidade de nos aproximarmos dele para, em seguida, podermos dar-lhe o nosso dinheiro para ele o investir. Se ele se dignasse a aceitar o nosso dinheiro e permitir que entrássemos no seu mundo, era porque tínhamos sorte. Aquela reputação, aquela aura mística, o prestígio e a credibilidade – isso é o derradeiro golpe. E ele safou-se com isso. As pessoas acreditaram que ele era genuíno. O que me preocupa em alguém como Trump é que, daqui a duas ou três gerações, vamos ter alguém como ele, mas muito mais esperto do que Trump. Alguém que vai conseguir fazer as duas coisas – enganar e criar empatia com o público – e isso será mesmo assustador. Essa pessoa irá muito mais longe do que Trump. Este tipo é um pateta, não tem noção alguma. No dia a seguir a ele ser eleito, eu disse na televisão: "Vamos dar-lhe o benefício da dúvida." Ele revelou-se pior do que eu esperava.
Como é que se preparou para o papel de Madoff?
Eu li alguns livros e conheci alguns familiares dele. Barry Levinson [o realizador] e o seu filho [que escreveu o argumento] fizeram um trabalho magnífico. Eu parecia-me com ele, de certa forma, por causa do cabelo. Ele estava a aproveitar uma reputação que tinha criado. Criou-a mantendo-se em silêncio, não falando muito, deixando as pessoas irem até ele, permitindo-lhe criarem as suas próprias opiniões e inferências. Não havia pressa. Ao contrário de Trump, Madoff não precisou de mentir descaradamente o tempo todo. Manteve-se calmo e deixou que as pessoas fossem até ele. Havia algumas pessoas desconfiadas por causa dos números – viam que a taxa de retorno era maior do que o que deveria e era muito constante. Não havia altos e baixos. Li o livro escrito por Diana Henriques, Wizard of Lies, que serviu de base para o argumento. É um grande livro.
De certa forma, a coisa mais assustadora é ele ter sacrificado os dois filhos...
Eu não consigo perceber. Na verdade, eu acho que a única coisa que ele fez foi nunca ter deixado que a família soubesse o que ele estava a fazer. Ele sabia que eles ficariam arrasados. Ele não era bom para eles, era um pouco rígido – foi o que me disseram na altura. Isso é estranho para mim porque eu nunca sou assim com os meus filhos. Eu não sei como será, para dizer a verdade. Enquanto ator, limito-me a fazê-lo. Sei que ele não contou aos filhos, nem à mulher, e que eles pagaram um preço elevado por isso. Os rapazes ficaram tão devastados que morreram. Um deles tinha cancro e sofreu uma recaída e o outro enforcou-se, alguns anos mais tarde. Parece uma tragédia shakespeariana.
Quando eu soube que o filme iria chamar-se O Irlandês, pensei: "Faz imenso sentido porque o Bob é irlandês." Mas há muita gente que não sabe que você é meio irlandês. Qual a sua opinião sobre o título do filme?
Eu adorava o título original, I Heard You Paint Houses, mas O Irlandês é ótimo.
É mais curto…
Sim. Eu e o Marty gostaríamos de ter mantido Paint Houses, mas [O Irlandês] até é um bom título. Marty inseriu a frase "Eu ouvi dizer que pintas casas" no trailer. É como se estivesse entre parênteses ou aparecesse nos créditos. A personagem que eu interpreto, Frank Sheeran, não fazia parte daquele mundo, mas entrou nele quando era jovem e quando saiu do exército, depois da guerra. Ele tinha uma certa esperteza de rua, mas não a esperteza de rua italiana. Quando os conheceu foi puxado para o mundo de Russell Bufalino [um chefe da máfia interpretado por Joe Pesci].
Sei que estava, há muito tempo, à espera para trabalhar com Marty novamente. Reparou nalgumas diferenças nele a nível pessoal ou profissional, desde a última vez que trabalharam juntos?
Eu creio que não. Talvez ele esteja mais descontraído. Está a lidar com as coisas com mais calma. Chegamos onde precisamos de chegar. Está tudo bem. Sempre foi fácil trabalhar com ele – não só para mim, mas para todos os atores com quem ele trabalha.
A sua relação com ele baseia-se numa química profissional e na facilidade de trabalharem juntos ou há também uma componente pessoal incluída?
É profissional, mas há alguns pormenores: por mais diferentes que sejamos, estamos em sintonia em certas coisas. Somos diferentes, mas temos muitas semelhanças. Eu gostaria de conseguir ser mais específico. Às vezes penso nisso. Somos de mundos diferentes, mas encontrámo-nos de uma maneira estranha quando éramos pequenos e depois de uma maneira ainda mais fortuita enquanto adultos, e tivemos a sorte de trabalhar juntos muitas vezes. Temos alcançado ótimos resultados. É uma colaboração muito satisfatória e isso é invulgar.
Eu nunca conheci Martin Scorsese, mas ele parece ser mais nervoso, enquanto você parece ser mais descontraído...
O Marty tem muita energia e entusiasmo! Umas vezes, eu também tenho e outras vezes não. Encontramo-nos algures no meio.
No filme, você contracena com Al Pacino. Talvez seja por causa de O Padrinho, mas eu sempre reparei que as pessoas, por vezes, mencionam os vossos nomes juntos, tipo "De Niro e Al Pacino". Eu não conheço Al Pacino, mas ele parece-me muito diferente de si na vida real. Essa associação não o espanta, uma vez que não fizeram muitos filmes juntos quando eram mais novos?
Se pensou em algumas partes, então pensou no Al ou em mim, ou em mim ou no Al. Sobretudo num determinado momento das nossas carreiras. Nós trabalhámos juntos em Cidade Sob Pressão e depois noutro filme chamado A Dupla Face da Lei. Na verdade, fiquei muito feliz por termos, finalmente, tido a oportunidade de trabalhar juntos em O Irlandês. Há 10 anos, estávamos numa estreia daquele filme [A Dupla Face da Lei], algures na Europa, e estava lá imensa gente e foi tudo agradável, mas eu disse-lhe: "Al, um dia vamos trabalhar juntos em algo que realmente nos faça sentir orgulho." No último dia de filmagens de O Irlandês, eu disse-lhe: "É este. Lembras-te do que te disse na Europa quando estávamos naquela estreia?" E Al respondeu-me: "Também me sinto assim em relação a este filme."
Pode dizer-nos como a sua personagem e a de Al interagem no filme?
Eu conheço-o através da personagem do Joe Pesci. Estou em dívida e sinto uma grande lealdade em relação à personagem do Joe Pesci, o Russel Buffalino, e ao Jimmy Hoffa [interpretada por Al Pacino], e tudo aconteceu por acaso. São as relações mais importantes na vida da minha personagem. E o que acontece a seguir é muito dramático.
Qual foi a sua reação quando viu o filme pela primeira vez?
Eu sinto-me tão envolvido que nem consigo dizer-lhe... Eu estou demasiado envolvido. Sinto mais curiosidade por aquilo que as outras pessoas vão dizer sobre ele. Eu não sei o que dizer. É impossível emitir um juízo porque faz parte de mim. O que devo dizer? Ninguém quer saber! É uma coisa muito especial porque foi feita pelo Marty e todos fizemos parte dela. Estou feliz por o termos feito, finalmente, após todos estes anos. É tudo o que posso dizer. Divertimo-nos muito a fazer o filme.
Há alguma polémica em torno do "desenvelhecimento" a que se assiste no filme. O pensa sobre isso? Sei que alguns atores mais velhos não são, necessariamente, contra a tecnologia. Michael Douglas disse-me que adorou trabalhar com o ecrã verde [de fundo], pela primeira vez, quando fez o Homem Formiga. Há um limite para o que aceitaria fazer em CGI?
No início falámos sobre ter outros atores a interpretarem os nossos papéis quando éramos mais novos. A dada altura, o "desenvelhecimento" veio à baila, juntamente com a ideia de fazer com que fosse o melhor que se viu até hoje. Era esse o objetivo. É uma parte importante do filme: ver-nos mais jovens e depois mais velhos.
Eu creio que o "desenvelhecimento" foi muito bem feito. É muito bom. Mas não sei se é bom ou mau ser tão bom.
[Risos] É mais fácil parecermos mais velhos quando somos mais novos do que parecermos mais novos quando somos mais velhos! Por isso, a tecnologia ajuda mesmo muito. Mas foi tudo feito da maneira certa. Está bem feito.
Mas será possível ir longe demais. Há coisas que não aceitaria fazer?
Eu acho que está tudo bem. A tecnologia é usada de uma maneira aceitável no processo criativo global. Estamos a criar uma ilusão dentro da história. Enquanto a ilusão for credível e enquanto funcionar, eu creio que está tudo bem.
De certa forma, o "faz de conta" faz parte da essência do cinema. Nunca foi real.
Exatamente. Desde que sejamos honestos connosco próprios e toda a gente souber isso, está tudo bem. Faz parte da arte. A tecnologia está a evoluir e tudo faz parte da evolução do cinema.
Você participa noutro filme que estreou este ano, Joker. É um filme do universo DC Comics (Batman, Superman), mas eu acho que não tem grandes efeitos especiais. Algumas pessoas repararam em semelhanças com O Rei da Comédia. Pode falar sobre o seu papel no filme?
Há algumas semelhanças com O Rei da Comédia e com Taxi Driver. É escuro, irónico... Eu penso que também tem partes engraçadas. O realizador considerou que havia sentimentos dos meus filmes antigos que eu poderia introduzir neste. É uma participação minha, não é um papel grande. Filmei durante cerca de uma semana.
Eu penso que o filme aborda o tema da doença mental, algo que já abordou em Guia para um Final Feliz.
Sim, mas Joker fá-lo de uma maneira diferente, muito mais sombria.
Vai trabalhar novamente com Marty em Killers of the Flower Moon?
Sim, andamos a falar nisso. Está confirmado. Estou feliz por trabalhar com o Leo [DiCaprio]. Tínhamos conversado sobre isso. É claro que a melhor maneira de o fazer é com o Marty.
Temos estado a falar sobre interpretações dramáticas, mas você também fez comédia nos últimos meses, como Bob Muller, uma personagem recorrente no Saturday Night Live [SNL]. Ficou surpreendido por lhe terem pedido para o fazer? Sempre foi fã desse programa?
Eu sempre adorei o SNL. Lembro-me de quando o programa começou, há mais de 40 anos. Ao longo dos anos eu fiz algumas participações. O Bob Muller surgiu no seguimento de um telefonema que eu fiz ao [criador do SNL] Lorne Michaels, a perguntar-lhe: "Isto tudo do Trump... Há alguma coisa que eu possa fazer?" Então conversámos e a minha futura ex-mulher sugeriu "Que tal o Bob Muller?" Eu falei nisso ao Lorne e foi assim que aconteceu.
O Bob Muller não fala muito. Não há muito material com que trabalhar. Como fez para se aproximar da personagem? Tinha de interpretar uma versão cómica de uma pessoa real que é algo que não faz com frequência.
As coisas podem ser reais e serem engraçadas na mesma. Como Muller era tão taciturno e calado, foi mais fácil para mim interpretá-lo de uma forma simples. Bastava estar lá e dizer: "Eu sou o Bob Muller." Ele era muito conciso em algumas cenas. Quando ele se dirigia ao Congresso, eu tentava assistir ao máximo de sessões possíveis, mesmo estando a filmar naquela altura. Se eu o tivesse interpretado mais extensivamente, ter-me-ia concentrado mais na maneira como ele falava, nas inflexões, mas não me preocupei muito com isso porque era um sketch e a maquilhagem fez grande parte do trabalho. Ele é muito convencional, tal como deveria ser.
Falando em comédia, viu aquela cena do filme Má Vizinhança em que eles dão uma festa com o tema "De Niro" e toda a gente tem de ir vestida como uma das suas personagens?
Ouvi falar nisso, mas não vi. Alguém ia mostrar-me. Sei que o Zac [Efron] entra no filme.
Pode falar um pouco sobre os seus próximos projetos?
Fiz um filme chamado The Comeback Trail, com George Gallo, que escreveu Fuga à Meia-Noite, com Zach Braff e Tommy Lee Jones. O Morgan [Freeman] também entra.
Parece que os Hotéis Nobu têm crescido mesmo depressa desde a última vez que falámos. Há hotéis novos em Londres, em Espanha, etc. Como é que tudo começou?
Há alguns anos, 10 ou 12, estavam sempre a pedir-nos para abrir um restaurante Nobu num hotel. Lembrei-me disso quando fomos a uma inauguração de um restaurante Nobu no Hard Rock Hotel, em San Diego. As pessoas perguntavam-me sobre o Hard Rock Hotel e eu dizia-lhes: "Bem, eu não estou aqui pelo Hard Rock Hotel. Eu estou aqui pelo restaurante Nobu." Mais tarde, contratámos as pessoas que trabalhavam para o Hard Rock, naquela altura. O Trevor Horn e o Stuart McKenzie trabalham para nós agora. Aquilo não fazia sentido e pensei para mim mesmo: "Por que não tentamos fazer hotéis Nobu? Não temos nada a perder." As pessoas queriam ter um restaurante Nobu para ganhar um certo prestígio, uma certa credibilidade. Então começámos a dizer aos nossos parceiros de negócios: "Queremos fazer um hotel e não apenas um restaurante."
Qual é o futuro dos hotéis Nobu?
Ainda não sabemos. Há sítios onde sabemos que vai funcionar, temos parceiros lá e, por isso, dizemos: "Vamos fazer este aqui e aquele acolá." Vai evoluindo. Não sabemos como será o futuro. Não podemos simplesmente começar a espalhá-los por aí. Quero fazer um nas Caraíbas, numa zona insular de Antígua. Eles vão aparecer quando aparecerem. Onde houver interesse em fazê-los. É um negócio que evolui lentamente.
Tem sido muito franco na sua oposição a Trump. Algumas pessoas ficaram surpreendidas com isso, mas, conhecendo-o como conheço, eu não fiquei.
Você sabia! [Risos] Como é possível alguém gostar dele?!
Crê que algumas pessoas ainda o confundem com as suas personagens, algumas das quais poderiam, hipoteticamente, ter sido apoiantes de Trump, como Jack Byrnes, de Uns Compadres do Pior?
Eu penso que não. Jack era um ex-agente da CIA. São tipos espertos. Ele [Trump] é um palhaço. Já viu o que Trump fez à CIA! Quando foi eleito, ele foi a Langley [sede da CIA] e disse algumas coisas mesmo estúpidas. Eu não vejo como alguém com consciência poderia pensar que este tipo é capaz de fazer alguma coisa bem feita. Quando ele foi eleito, eu disse "Vou ter de lhe dar o benefício da dúvida", mas ele foi ainda pior do que eu poderia ter imaginado. Ele é um perigo para este país e para o mundo. Ele prova isso todos os dias. É uma afronta a qualquer pessoa com bom senso.
Haverá eleições no próximo ano. Na sua opinião, qual é a melhor forma de vencê-lo? No passado, os anúncios políticos transmitidos pela televisão foram decisivos na promoção dos candidatos. Uma vez que isto está relacionado com o seu trabalho, já pensou no tipo de curta-metragem que poderia derrubá-lo?
Ele precisa de ser humilhado. Precisa de ser abatido por alguém que tenha poder. As pessoas que ele parece respeitar têm de opor-se a ele, chamar-lhe a atenção e dizer-lhe que ele é um pateta. Quer dizer, eles sabem isso, veem-no todos os dias, mas têm de vê-lo com os seus próprios olhos durante os debates. Não podemos acreditar em nada do que ele diz. Ele é um provocador e não cumpre regras. As pessoas têm de pensar por um instante "O que estou eu a ouvir?" e pô-lo no seu devido lugar. Ele não fez nada para ajudar o país e muito menos o mundo. É um vigarista da pior espécie.
Exclusivo Cool Hunt Inc./The Interview People
Tradução: Érica Cunha Alves
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