João Montez: "É urgente perceber qual o lugar ocupado pelo homem do século XXI na criação de um filho"
O primeiro livro de João Montez relata o seu trajeto no papel de "pai de primeira viagem", com todos os receios e expectativas que isso comporta. Conversa com o apresentador num mundo em que a informação sobre a gravidez e o nascimento de um filho ainda é maioritariamente direcionada à mãe.
A paternidade sempre esteve nos planos de João Montez - um rosto conhecido do público português, apresentador dos programas Somos Portugal, Sábado na TVI!, e Querido, Mudei a Casa! - se bem que nunca com data marcada, embora a sua posição perante o assunto estivesse há muito assumida, conta. Em conversa com a MUST, confessa até que, após receber a boa notícia, viu-se numa posição pouco à vontade enquanto futuro pai, pois grande parte da informação que encontrava sobre gestação e recém-nascidos era direcionada à mãe, a influenciadora e empresária Inês Gutierrez. De uma lacuna nasceu o podcast Querida, Mudei a Fralda! e, posteriormente, a obra com o mesmo nome: " apenas uma narrativa da minha experiência pessoal, (…) quase como um diário de bordo no qual os leitores acompanham todo o processo, as dúvidas existenciais, os receios", explica. "Espero que incentive outros homens a dar palco às suas vozes" e "que os ajude a perceber que não estão sozinhos."
Alerta no início de Querida, Mudei a Fralda! (Arena) que este não é um livro de ensinamentos nem conselhos sobre a paternidade, mas antes um relato. Enquanto pai (e homem), alguma vez se sentiu isolado ou com pouco apoio em algum momento da gravidez?
Penso que é inegável dizer que quando se recebe a notícia de que vamos ser pais pela primeira vez (até mesmo quando se quer muito sê-lo, como é o caso), há um choque inicial, quase inconsciente, que se faz seguir de uma série de perguntas que surgem, umas a seguir às outras. "Como assim?", "E agora?", "Como serei enquanto pai?", "A minha vida vai mudar por completo…certo?". Estas perguntas são válidas tanto para um pai como para uma mãe e é normal que ambos se sintam perdidos. Eu não fui exceção!
Tanto eu como a Inês chegámos a fazer cursos e eu queria saber mais acerca do tema e, por isso, procurei livros, entrevistas, conteúdos que me acrescentassem algo. No entanto, rapidamente cheguei à conclusão que o foco estava na mãe e em todo o processo que viria a desenvolver-se a partir dali. Por isso, sim, senti-me isolado em determinados aspetos. Constatei que não há grandes respostas às (talvez muitas) questões que os pais, homens, têm e, nesse sentido, penso que seja urgente identificar e perceber qual o lugar ocupado pelo homem do século XXI na criação de um filho.
Afirma que foi um pai um pouco intenso durante a gravidez. Todos à sua volta receberam bem o seu entusiasmo?
Já há algum tempo que esta minha vontade em ser pai era bastante assumida. Sem grandes planos ou pressões, manifestei várias vezes alguma curiosidade em saber como seria eu neste papel. Claro que quando a notícia me foi dada, apeteceu-me gritar aos sete ventos… (risos). E fi-lo, claro, na altura certa! Embora tenha conseguido guardar segredo ainda durante uns bons meses, para minha surpresa. Sei que quando pude partilhar a notícia, além da felicidade extrema sentida, foi a fase em que a coisa se tornou (muito) real e a ficha começou a cair, como se costuma dizer. Mas sinto que houve uma onda de amor por parte de todos os que me são próximos. Surfamos essa onda juntos, aliás… e é bonito quando isso acontece! Foi contagiante. Ficar feliz com a felicidade do outro é raro nos dias de hoje.
Também refere conselhos não solicitados no livro. Quais foram os piores (ou melhores) que receberam? Dão razão a algum agora?
Tenho alguns… mas vou partilhar um apenas, pode ser? Por muito que nos alertem nos meses anteriores ao nascimento para dormirmos, aproveitarmos o tempo da melhor forma e descansarmos, isto não acontece. É ponto assente, ok? E, talvez, até é um pouco inútil dizê-lo porque quando se é pai de primeira viagem vive-se numa excitação constante (pelo menos foi o que me aconteceu!). No entanto, posteriormente ao nascimento da Maria Luísa, veio a revelar-se algo muito importante… e com razão me avisaram! Ninguém está preparado para a fase da privação de sono. (Risos)
Um episódio engraçado sobre a gestação da sua filha, a Maria Luísa, que gostasse de partilhar.
Talvez possa contar concretamente a vez que a Maria Luísa veio ao mundo. Na altura, a enfermeira tentou entregar-ma e eu, num misto de excitação, choque e receio… esbracejei e ainda com as mãos no ar, respondi: "Calma, calma… dê-me só um bocadinho, espere só um bocado!". (Risos)
O que mudava se soubesse, no início desta aventura, o que sabe hoje?
Perspetivei bastante antes de ser pai, talvez até em demasia. Pensei como seria e de que forma queria ser e foquei-me bastante em tudo o que ainda não sabia e como é que iria lidar com tudo, depois, quando ela nascesse. Já mais tarde, com o nascimento da nossa filha, percebi que não há forma possível de planear ou tentar antecipar capítulos da aventura. E acho que tudo se tem desenvolvido de uma forma tão boa e tão natural que até mesmo os maiores desafios que se encontram pelo caminho acabam por ser muito enriquecedores.
Estão preparados para ter mais filhos?
Este, para já, tem sido um tema sensível (risos). Acho que ainda é muito cedo para pensarmos, ambos, em mais filhos. Estamos numa fase em que queremos aproveitar o máximo da nossa filha e estarmos presentes no momento. Voltem a perguntar daqui um ano, por favor!
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