Ficaria em casa com os filhos enquanto a sua mulher vai trabalhar?
Reza a história da humanidade que sempre que é preciso alguma coisa há uma mãe por quem se chama. O pai, por sua vez, seria aquela personagem a quem a sociedade delegaria outras tarefas, que não as de tomar conta dos filhos. Atualmente, as coisas parecem estar a mudar e os stay-at-home dads são cada vez mais uma realidade. Tem dúvidas? Não pergunte à sua mãe.
No filme Capitão Fantástico (2016), Ben é um pai que decide criar os seus seis filhos numa floresta, com um estilo de vida rigoroso e muito "nature friendly", no noroeste da América do Norte. Pelos meandros da natureza, este daddy demasiado cool ensina aos seus filhos as leis da vida, desde como sobreviver na selva até ao mais erudito da literatura e da música. Com uma educação dita fora da caixa, estas crianças alimentam-se à base de comida orgânica, só lêem livros em papel (I-Phone-quê?) e vestem-se da forma mais invulgar possível. Nada demais. E, em simultâneo, tudo demais se considerarmos a sociedade em que vivemos. Acontece que a vida não é um filme. E continuam a não existir assim tantos capitães fantásticos na atual sociedade. Ou seja, homens que tomem as rédeas da paternidade e que, doa o que doer, arregacem as mangas para serem eles a dar conta do recado quando o assunto são os filhos e tudo o que estes acarretam.
"A masculinidade tradicional, aquela que muitos rapazes aprendem desde tenra idade, é composta por dois ingredientes: força física e o status de breadwinner (ganha-pão) enquanto marido e pai". Esta é a conclusão de Scott Melzer, sociólogo do Albion College e autor do livro Manhood Impossible (2018). Em entrevista ao site da The Atlantic, Melzer elucida: "Criar filhos, no geral, pode ser uma experiência muito isolada. E os homens com quem conversei sentem que é precisamente esse o caso, já que o número de stay-at-home dads (SAHD - pais que ficam em casa) é mínimo e muitos deles ainda se sentem marginalizados, ou até temidos pelas mães". A realidade é que os estigmas antiquados determinam que o valor de um homem não é medido pelo quão bem ele pode cuidar de uma criança ao longo do dia, mas antes pela quantidade de dinheiro que ele pode trazer para casa para sustentar a sua família. "Um stay-at-home dad é algo muito pouco frequente em Portugal e na Europa toda, em geral. O modelo quotidiano que vigora, atualmente, é o do double earner — ou seja, já não é apenas o pai que trabalha, mas ambos os progenitores", esclarece Bernardo Coelho, sociólogo, investigador e membro fundador do CIEG-ISCSP (Centro Interdisciplinar de Estudos de Género). E adianta: "Pesquisas efetuadas mostraram que os homens demonstravam vontade em participar mais [nas tarefas da paternidade]. O problema é que, muitas vezes, esta falta de participação prende-se com as dificuldades destes homens em afirmar que querem ter tempo para estarem mais com os seus filhos. Comunicarem: ‘Eu quero estar em casa a tomar conta do meu filho’ era, nas suas opiniões, algo que ficava mal visto". Este sociólogo refere-se à vergonha que, tantas vezes, toma conta de todas as situações que vão contra aquilo que é estereotipado. Então, espera-se o expectável, passe a redundância: que o homem se foque na carreira e que deixe essas tarefas "de mãe" para… a mulher, claro está. Mais do que o cuidador, o homem lá veste o seu papel de provedor. Apesar de tudo, factos indicam que ser-se um stay-at-home dad começa a tornar-se cada vez menos numa piada e cada vez mais numa realidade para inúmeras famílias. De acordo com a National At-Home Dad Network, uma organização norte-americana sem fins lucrativos, são já cerca de 1,4 milhões os pais que ficam em casa com os seus filhos, assumindo o papel de principais cuidadores diurnos. Uma pesquisa levada a cabo pela Pew Research concluiu que o número de stay-at-home dads nos Estados Unidos está a aumentar consideravelmente: 7% dos pais norte-americanos optam por ficar em casa, o que representa 17% de todos os pais (mulheres inclusive) que ficam em casa (acima dos 10% que era o número em 1989).
Como referido acima, um dos dilemas com que muitos homens se deparam na hora de expressarem a sua vontade de ficar em casa com os seus filhos prende-se com a questão da vergonha. Vergonha que surge, obviamente, atrelada a um chorrilho de estereótipos comandados pela sociedade e pelo sistema dos estereótipos de género. Para o sociólogo Bernardo Coelho, este embaraço masculino poderá ter ficado, em parte, resolvido com as novas leis da paternidade. Estas ditam que passa a ser obrigatório o gozo, por parte do pai, de uma licença parental de 20 dias úteis e não de 15, seguidos ou interpolados, nas seis semanas seguintes ao nascimento da criança, cinco dos quais gozados de modo consecutivo imediatamente a seguir a este. "Um homem dizer que vai ser pai e afirmar que vai estar fora, era uma situação que poderia provocar alguns constrangimentos, ou mesmo episódios de penalização por parte da empresa. A partir do momento em que passa a ser obrigatório já não é necessário haver uma justificação. Esta é uma lei que facilita a construção da igualdade. Ou seja, é, finalmente, conquistada a igualdade daqueles homens que apresentavam resistências", explana o sociólogo. E soma: "Este é um excelente exemplo de uma lei que tem pouco impacto orçamental versus um enorme efeito na construção da igualdade. Torna mais fácil a estes homens afirmarem que querem ser pais presentes e cuidadores. Para trás fica o vexame que significava dizer-se que se queria assumir essas responsabilidades para si".
Há casos e casos, e em alguns deles, esta tomada de decisão não é sequer uma opção. Vasco tem 40 anos e é casado com Carla, de 38 anos, que é diplomata. Traduzido por miúdos, tal significa que Vasco, ao casar-se com uma diplomata, terá de abdicar da sua carreira. "Houve uma mudança de paradigmas… Antigamente, os diplomatas eram homens, na sua grande maioria. Logo, seria normal e expectável que as suas mulheres ficassem em casa a tomar conta dos filhos. Hoje, já há muitas mulheres diplomatas, portanto muitos homens nesta situação de terem de renegar as suas vidas profissionais". Explica-me que o conjugue de um diplomata não pode trabalhar quando está no estrangeiro por uma questão de imunidade diplomática (que se estende à família do diplomata). "Começámos a namorar em janeiro de 2011 e em janeiro de 2012 a Carla foi destacada para a Indonésia. Conhecíamo-nos há um ano. Larguei tudo: a minha casa, o meu trabalho, os meus cavalos e parti com ela. Na minha nova realidade não tinha nada para fazer. Como não podia exercer uma profissão, arranjei uns projetos amadores e estive ligado a um programa de surf, na televisão, entre outras atividades". A viver atualmente em Bogotá, na Colômbia, onde a sua mulher exerce as mesmas funções de diplomata, foi neste país que decidiram ter um filho: o Rodrigo, hoje com dois anos. E foi igualmente em Bogotá que Vasco se tornou numa espécie de stay-at-home dad: "Os colégios, em Bogotá, são muito caros. Então, uma vez que eu não podia trabalhar, decidimos que eu ficaria em casa com o Rodrigo". E vai descrevendo, com a descontração de um pai que adora o que faz, as suas rotinas: "Nós temos muita sorte pois o Rodrigo dorme 12 horas por noite. Das oito da noite às oito da manhã. De manhã, eu trato dele enquanto a Carla toma o pequeno-almoço. Mudo as fraldas, dou-lhe o biberon. E o nosso dia — meu e do Rodrigo — começa com as idas aos parques. É uma coisa muito típica, as idas ao parque, nesta zona de Bogotá — um bairro nobre, conforme me elucida — já que Bogotá é a eterna primavera".
Nos parques não há pais como ele: "De todo. No parque encontro as niñeras todas (nome para babysitter) com os seus bebés". Explica-me que, uma vez que a mão de obra é tão barata por lá, as mães (e pais) optam por entregar os seus filhos às tais niñeras em vez de os porem nas creches. Então, "o Rodrigo tem muitos playdates. Depois, há uma grande cultura de clubes, onde há todo o tipo de atividades — desde natação a festinhas de anos que acontecem praticamente todos os dias. E a maioria dos pais fazem parte desses clubes sociais. É um hábito muito sul-americano", remata. Naquele clube, o Rodrigo fica no parque de brincadeiras que tem sempre uma assistente, enquanto o pai vai fazer alguma atividade. Questiono se há outros pais naquele papel de stay-at-home dad. Ri-se: "Nem por isso. 90% das pessoas com quem ‘partilho’ estes dias são niñeras. Mesmo as mães que não trabalham preferem fazer uma vida de ‘dondoca’ — vão ao salão, ao ginásio, às compras… Os pais, homens, não se vêem de todo. Não com os filhos. Além da mão de obra barata, em Bogotá tornou-se numa questão de status ter-se niñeras a tomar conta dos filhos,". O seu discurso é desenvolto, capaz de transportar qualquer recém-pai para uma realidade parental muito pouco comum já que, por norma, filhos pequenos equivalem a stress. "No início desta minha vida de stay-at-home dad estávamos os dois aos papéis. Ela [Carla] ligava-me 20 vezes por dia a querer saber se estava tudo bem. Pedia-me que lhe enviasse fotografias e ainda passava o dia a espreitar o miúdo através de uma câmara — uma aplicação que é fruto da insegurança da América Latina e com a qual uma data de casas se encontram equipadas. As colombianas apelidam as mães com este tipo de comportamento de ‘mamás primerizas’, ou seja, mulheres que foram mães pela primeira vez. Com o tempo foi relaxando e hoje não stressa minimamente", deslinda. A experiência está a ser de tal maneira gratificante que já se encontram a caminho do segundo filho: "A Carla nunca quis ter filhos. Em Bogotá sentiu-se tão bem que decidimos avançar com uma segunda gravidez. Estando eu em casa as coisas tornam-se bem mais fáceis e tranquilizantes", conclui. Habituados a ouvir que "com três letrinhas apenas se escreve a palavra mãe", muitas vezes nos esquecemos que também a palavra pai se compõe dessa mesma configuração. E, apesar do lado trépido deste trilho para a igualdade, tudo indica que estamos no bom caminho. Porque um pai e uma mãe satisfeitos são irremediavelmente pais melhores.
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