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Meloni e Stellantis: Uma batalha pelo futuro automóvel italiano

Com a produção automóvel em Itália a declinar e as tensões entre governo e indústria a aumentar, o resultado desta batalha pode muito bem redefinir a paisagem económica do país nos próximos anos.

Foto: Getty Images
20 de agosto de 2024 | Safiya Ayoob / Com Rita Silva Avelar

Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana, tem mostrado nos últimos meses uma determinação férrea em defender o que considera serem os interesses económicos do seu país. E, no centro dessa cruzada, está a Stellantis, o conglomerado automóvel que herdou a histórica Fiat, orgulho industrial de Itália.

Desde que assumiu o cargo, Meloni não escondeu o seu descontentamento com a forma como a Stellantis tem gerido a produção automóvel em solo italiano. A sua preocupação principal: a drástica diminuição de veículos fabricados em Itália e a transferência da produção para outras partes da Europa e além. Este facto tornou-se mais evidente quando Meloni, enquanto líder da oposição, se opôs veementemente à fusão entre a Fiat-Chrysler e a francesa PSA, que deu origem à Stellantis em 2021, avança o Politico ("organização global apartidária de notícias sobre política e política"). Na altura, alertou para a possível perda de controlo italiano sobre a emblemática marca Fiat, denunciando o que via como uma "aquisição francesa" disfarçada.

Agora no poder, Meloni intensificou a sua retórica nacionalista, apelando a um "patriotismo económico" e desafiando abertamente as decisões da Stellantis. Num claro gesto de contestação, o seu governo tem travado batalhas legais para impedir a empresa de associar símbolos italianos a modelos fabricados no estrangeiro. A apreensão de 134 Fiat Topolinos, fabricados em Marrocos, que ostentavam a bandeira italiana, é um exemplo recente desta estratégia. O governo argumentou que tais práticas poderiam enganar os consumidores sobre a verdadeira origem dos veículos. Além disso, Meloni impôs restrições quanto à nomenclatura de novos modelos. Um exemplo claro foi a proibição do uso do nome "Milano" para um modelo Alfa Romeo produzido na Polónia, um movimento que sublinhou a insistência do governo em proteger o prestígio e a autenticidade das marcas italianas.

Enquanto o braço-de-ferro entre o governo italiano e a Stellantis se intensifica, Meloni tem procurado alternativas, olhando para oriente. A aproximação a fabricantes automóveis chineses é uma nova carta na manga do governo, que espera atrair investimento estrangeiro para revitalizar a indústria automóvel nacional, num claro sinal de que Itália não dependerá exclusivamente da Stellantis para manter viva a sua tradição automóvel. No entanto, a viabilidade destas novas parcerias, bem como o impacto das políticas de Meloni na economia italiana, permanecem questões em aberto. O que é certo é que o confronto entre Meloni e a Stellantis simboliza uma batalha maior sobre o futuro industrial de Itália e o papel que o nacionalismo económico deve desempenhar numa era de globalização e competitividade feroz.

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