Isto Lembra-me Uma História: Taylor Swift não é uma princesa
É a própria que o diz, numa canção sua já antiga. Mas Swift é muito mais do que isso. Para a hotelaria lisboeta, por exemplo, é a sucessora do Papa Francisco. Uma papisa, portanto.

Há uns dias, havia um meme a circular por aí, que apanhei no Instagram, e que consistia mais ou menos no seguinte - vou citar de memória, porque o meu elevado grau de azelhice nas redes não me permite recuperar a publicação que, num momento de sorte, veio ter ao meu feed. Nesse meme, um homem, que imagino que seja um músico americano daqueles que nós não conhecemos por cá, diz "gostava de te ver fazer isso, mas numa cidadezinha pequena" ("in a small town"), isto no primeiro momento do meme; no segundo momento, uma Taylor Swift imperial, fotografada em palco durante uma atuação luminosa e iluminada, respondia "os meus concertos não cabem em cidadezinhas pequenas".
É possível que o meme evoque uma passagem de alguma letra de Swift. Pode repescar, por exemplo, White Horse, em que a artista canta, cheia de sofrência, frases como "I’m not a princess" para chegar à conclusão que "this is not Hollywood, this is a small town", e podemos presumir que se refira à tal cidadezinha pequena nessa passagem. Goste-se ou não da estrela country-pop-pastilha-elástica (nota-se muito que não sou grande fã?), a verdade é que o meme parece constatar exatamente o óbvio: Taylor Swift não cabe numa small town, longe, muito longe disso. É, pelo contrário e cada vez mais a cada ano que passa, a mais cobiçada, seguida, desejada, admirada, idolatrada, ouvida e rentável artista - cada concerto rende em média entre 8 e 12 milhões de euros - à face da Terra. Se ainda estivéssemos na era das super, das mega e das giga estrelas, não tenho dúvidas de que Taylor Swift seria, a par de Michael Jackson, uma das duas giga estrelas do planeta. Para quem não sabe, o polémico e defunto músico auto-intitulou-se "giga estrela" para se demarcar e diferenciar de outras duas mega-estrelas suas contemporâneas, Madonna e Tom Cruise, que, por sua vez, já eram descritos com esse título para se distinguirem das demais super-estrelas do showbiz. Sim, já houve um tempo em que isto era assunto, tema de debate, motivo de discórdias. E sim, Tom Cruise era realmente muitíssimo influente e venerado antes de se ter feito resumir (mas não reduzir) a protagonista perpétuo de Missão Impossível.
Por outro lado, se o meme acerta em cheio naquilo que Taylor Swift é, já a letra de White Horse, escrita pela própria a meias com Liz Rose, peca pelo excesso de modéstia. Só essa enfermidade de espírito pode justificar que a cantora tenha acerca de si mesma uma ideia tão singela, chegando ao ponto de dizer que não é uma princesa e que nada disto é um conto de fadas. Se alguém no reino da pop pode legitimamente reclamar para si o título de princesa é precisamente Swift, que só não é para já rainha porque Madonna ainda caminha entre os vivos e, que se saiba, não meteu os papéis para a reforma.
Tanto quanto sei, Taylor Swift podia até auto-designar-se papisa, tal como a lendária Joana de Ingelheim, sucessora de Leão IV, fez há mais de um milénio. Em Lisboa, pelo menos, Swift será a legítima sucessora do Papa Francisco, recordista de audiências e apregoado como grande motor turístico e salvador das unidades hoteleiras, além de cabeça-de-cartaz das Jornadas Mundiais da Juventude, que tiveram lugar na capital portuguesa no início de agosto de 2023. Já a popular cantora americana, certamente não menos popular do que Francisco, é anunciada mais ou menos da mesma forma para os concertos de 24 e 25 de maio próximo, no Estádio da Luz. A ocupação hoteleira da cidade - e esta não é uma "cidadezinha pequena", até porque Swift não caberia numa povoação de dimensões reduzidas - está quase nos 100% para essa altura, o que representa um aumento de mais de 20% de taxa de ocupação em relação ao período anterior. Mais: o fenómeno repete-se por onde quer que passe a papisa, como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro, onde as unidades hoteleiras ficaram, em termos práticos, esgotadas aquando da passagem da cantora pela "cidade maravilhosa".
Se, no caso da Papisa Joana, tudo pode não passar de lenda e fantasia - as crónicas que dão conta de uma mulher ter ocupado, indevida e disfarçadamente, o lugar do Papa entre os pontificados de Leão IV e Bento III, entre os anos de 850 e 858, só surgiram cerca de dois séculos depois do suposto sucedido -, já a história da papisa Taylor é tudo menos um conto de fadas ou mesmo uma ficção de Hollywood. Swift não é uma princesa porque é muito mais do que isso. Que o digam os milhares e milhares de fãs que avidamente esgotaram os bilhetes para os dois concertos de Lisboa - e os muitos outros milhares que não conseguiram comprar ingressos. No meio de tudo isto, agradece a hotelaria lisboeta e de todas as grandes cidades onde couberem as atuações da papisa.
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