Champanhe ganha aura de seriedade e vendas disparam
Os anos de 2021, 2022 e 2023 foram os melhores de sempre em termos de volume e valor de venda de champanhe. E, por estranho que possa parecer, o confinamento teve muito a ver com isso.
À primeira vista, ninguém diria que o champanhe pudesse subir a um pedestal ainda mais alto do que aquele em que vive normalmente. Afinal, é a bebida da alegria, das celebrações e dos momentos especiais. Isto, claro, para os leigos. Porque para os entendidos, para os verdadeiros enófilos, o champanhe sempre foi visto como aquela prima rica, muito bem arranjada e cheia de joias, mas que não tem nada de interessante para dizer. Justin Gibbs, da plataforma de compra de vinhos Liv-ex, resumiu a questão ao jornal britânico The Economist da seguinte forma: "O champanhe era considerado uma coisa fina, mas não necessariamente um vinho fino." Que é como quem diz, uma bebida de grande popularidade, mas baixa reputação entre os conhecedores de vinho. E, no entanto, parece que essa tendência está a mudar. Os enófilos começaram a levar esta bebida a sério e parece que a culpa é dos períodos de confinamento. Champanhe e covid? Quem diria?…
De acordo com o jornal The Economist, em 2023 venderam-se 6,4 mil milhões de euros de champanhe, com os anos 2021 a 2023 a demonstrarem ser os melhores de sempre. Prova disso é que, em 2022 e 2023, o volume e valor de champanhe vendido pela Sotheby’s quase triplicou. No ano passado, um produtor de champanhe, Krug, ficou pela primeira vez entre os dez principais produtores de vinho vendidos pela casa de leilões. Para este novo estado de coisas, contribuiu o facto de em vez de ser considerado apenas um aperitivo, para ser saboreado antes de passar para algo mais sério, o champanhe começa a agora a ser apreciado com mais seriedade e combinado com comida – o famoso food pairing.
E o que tem o covid a ver com isso? Simples, deu tempo às pessoas para se interessarem, pesquisarem e fazerem experiências com champanhe como, aparentemente, nunca antes haviam feito. Afinal, se o mundo vai pelo cano, há piores maneiras de acompanhar a queda do que com uma flute na mão. Mais, as proibições de sair para almoçar e jantar fizeram com que muita gente endinheirada tenha criado os seus próprios momentos especiais em casa, e as encomendas de champanhe dispararam.
Por outro lado, essa nova onda de interesse e conhecimento fez com que os apreciadores de vinhos – e agora também de champanhe – tenham alargado os seus interesses para fora das marcas conhecidas, como a Moët & Chandon, a Dom Pérrignon, a Veuve Clicquot, entre outras, e tenham começado a seguir os pequenos produtores com uma religiosidade digna de novos discípulos. Selosse, por um exemplo, um produtor de champanhe de que talvez nunca tenha ouvido falar, vende cada garrafa a cerca de 650 euros e é adorado por investidores, colecionadores, e, claro, bebedores.
Aproveitando o crescimento recente, as principais marcas de champanhe decidiram aumentar os preços, o que se revelou um tiro no pé – ou na garrafa –, levando a procura a diminuir. A inflação também não tem ajudado pelo que será preciso equilíbrio e cabeça fresca para surfar, de forma bem sucedida, esta nova onda de interesse.
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