Termanthia, o vinho espanhol que os portugueses gostavam de fazer
O título é propositadamente provocador, mas há vinhos que nós, portugueses, devíamos mesmo conhecer. É o caso deste Termanthia, um Duero sobre o qual já disseram que “valia pena vender a alma ao diabo por umas garrafas”.
Em Portugal fazem-se grandes vinhos, sim, e ainda bem que damos valor à produção nacional, mas que isso não nos faça cair na ignorância e deixar de lado os grandes vinhos que os outros países fazem − e que, de vez em quando, não nos fazia mal nenhum provar.
Vem esta conversa a propósito do Termanthia, das Bodegas Numanthia, um Tinta de Toro produzido bem perto da fronteira, sobre o rio Douro, precisamente na pequena região vitivinícola de Toro. Trata-se de um vinho feito a partir de uma única parcela de 4,8 hectares de vinhas velhas, se ainda assim as podemos chamar, porque na realidade estamos perante cepas com uma idade mais comum de encontrar entre as oliveiras, entre os 140 e os quase 200 anos (!). Uma vinha que sobreviveu a tudo, até à filoxera, para agora nos fazer chegar este testemunho do passado, levando um crítico da Robert Parker a exclamar a frase que citámos na entrada deste texto: "se tiverem alma, vendam-na ao Diabo por umas garrafas deste vinho". Como elogio, não está mal…
Tordesilhas não fica muito longe desta propriedade de que fazem parte as ruínas de uma igreja (atualmente em recuperação) desenhada pela pena do arquiteto dos Reis Católicos, no entanto, a sua joia da coroa são mesmo as vinhas centenárias que se espalham pelas duas margens do Douro, com especial destaque para a antiquíssima parcela Teso de los Carriles, usada para fazer o Numanthia.
Não se trata de uma Bodega antiga, pois foi fundada apenas em 1998, mas herdou todo este passado riquíssimo e depressa entrou no radar do império Louis Vuitton. É que o grupo LVMH – de Louis Vuitton Möet Henessy – tem, para além das célebres casas de moda, relojoaria e joalharia, uma forte presença no setor das bebidas onde possuí pérolas como o Château d’Yquem, a Don Pérignon, a Ruinart, o Krug ou o Château Cheval Blanc, que fazem agora companhia a Numanthia, em Toro.
Situada entre a nossa fronteira e a Ribera del Duero, a região é sem dúvida a casa da Tinta de Toro, a casta ibérica excelência, e uma das mais antigas de que existe registo. Se nunca tinha ouvido falar não se preocupe, pois no resto da Espanha esta casta é mais conhecida por Tempranillo, e em Portugal preferimos chamar-lhe Tinta Roriz ou Aragonez, consoante estivermos no Douro e no Dão ou mais para sul. É uma casta de características bem vincadas, muito escura, com aromas intensos e complexos, muita fruta preta e especiarias. Produz tradicionalmente vinhos robustos e poderosos, mas também cada vez mais elegantes e frescos. E neste Numanthia estamos perante uma das máximas expressões de todas estas características.
Esperemos, sinceramente, que este artigo tenha servido para despertar a curiosidade sobre o Numanthia. Ao ponto de gastarem os 245 euros que custa, porque quando abrirem uma garrafa garantimos que o vinho falará com uma eloquência muito superior à deste artigo. Goste-se ou não (porque gostos não se discutem…) uma coisa é certa: a experiência será marcante.
Termanthia 2014
O ano foi favorável, o que proporcionou uvas de elevada qualidade e completamente amadurecidas. Traduziu-se em aromas muito ricos, com notas de fruta silvestre (groselhas e amora) mais especiarias (pimenta e noz de moscada). Na boca assume-se elegante e aveludado, com taninos sedosos e bem equilibrados e um final bem comprido. Para beber já mas vai evoluir favoravelmente em garrafa por mais 15 anos, pelo menos. Está à venda em exclusivo no Club del Gourmet do El Corte Inglés (Lisboa e Gaia) por 245 euros.
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