Segredo 6: a vinha, o enólogo, o produtor e o futebolista
A Costa Boal e Francisco Costa acabam de lançar uma nova edição do Segredo 6, colheita de 2019. Um dos melhores tintos nacionais. Provavelmente até de Trás-os-Montes…
Há uma boa razão para parafrasearmos o grande Gabriel Alves e a sua memorável tirada sobre "o melhor guarda-redes do mundo, provavelmente até da Europa". Isto porque Francisco Costa é o eterno Costinha, e 6 o número que usava na camisola. "Um número que me acompanhou nas maiores conquistas" diz, do FêQuêPê à Seleção Nacional e, agora, ao vinho - um sonho antigo do qual é um reconhecido entendedor e confesso apaixonado. Foi, aliás, à mesa que se forjou a amizade com o produtor António Costa Boal.
O Segredo é que o é cada vez menos, há medida que vai sendo conhecido e apreciado por cá e lá fora, especialmente no Brasil, vencendo prémios e conquistando medalhas.
Trata-se de um vinho enraizado numa vinha muito especial - com 70 anos já - mas garante de grandes alegrias futuras. É um fiel retrato do seu terroir, pleno de contrastes, no nariz e na boca. Surpreendente e de estilo moderno, possui uma elegância que raramente associamos à região transmontana.
A 2 CC, nome da empresa que junta o produtor Costa Boal (Douro, Trás-os-Montes e Alentejo) e Costinha, aposta também em grandes formatos com este vinho – uma raridade em Portugal, sendo vendido quase exclusivamente em garrafas Magnum de litro e meio e com opções até aos 15 litros. Muito exclusivo, conta apenas com 475 garrafas nesta colheita, 400 de 1,5 litros e 50 de 5 litros, mais 25 de 15 litros, pelos valores de 600, 1.800 e 8.000 euros, respetivamente. Destas últimas já se venderam mais de uma dezena. 20% da produção, entretanto, foi já adquirida pelos membros do Clube Gold antes do lançamento oficial. Um clube de apreciadores e colecionadores montado precisamente para estes vinhos.
Um Segredo revelado à mesa de Salazar
O Segredo 6 foi apresentado no Maria Rita, restaurante num antigo solar da aldeia de Romeu, perto de Mirandela, numa mesa enorme e, ao que parece, predileta de António Oliveira Salazar sempre que visitava Trás-os-Montes. Se vinha pelo Bacalhau à Romeu e pela Mousse de Chocolate, não o podemos censurar.
Quanto ao vinho, 2021 foi "a colheita que nos colocou mais à prova" explica Paulo Nunes, o enólogo. Não pelo trabalho que deu, nisso, admite, "a vinha velha faz boa parte do trabalho por nós", mas por ser um ano importante para a consolidação da marca e da sua consistência. Com apenas três edições – 2019, 2020 e 2021 – era fundamental confirmar a qualidade dos anos anteriores.
Ao fim de três anos, também conhecem melhor a vinha e o seu comportamento, o que permitiu evitar alguns excessos: "na primeira vinificação extraímos mais do que precisávamos, talvez por receio, mas agora percebemos que não é preciso ir tão longe, e este último vinho tem mais frescura e elegância. A vinha ensinou-nos isso".
A Vinha do Professor - porque em tempos pertenceu a um professor de Mirandela – tem agora 70 anos, e cerca de 4,5 hectares em solos de xisto e de quartzo. As cepas, sem aramação "caem" naturalmente com o peso da idade. Situada muito perto das outras vinhas que a Costa Boal tem na região, conta com mais de 30 castas diferentes, com destaque para a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Alicante Bouschet ou Bastardo, entre outras, incluindo algumas castas brancas como Fernão Pires.
Nessa amálgama, temos diferenças de 2 e 3 semanas nos pontos de maturação, como é o caso do Bastardo e da Tinta Amarela, por isso, apesar de "não ter dado muito trabalho", como admitiu com humildade Paulo Nunes, foram forçados a tomar algumas decisões difíceis: "O grande desafio foi encontrar o momento em que toda a vinha está equilibrada" explica o enólogo, por duas vezes considerado o melhor do ano em Portugal. "É flagrante que este vinho vive de desequilíbrios. De sentirmos o lado quente das uvas colhidas alguns dias depois do ponto ideal, com mais açúcar e álcool e, por outro lado, a frescura e riqueza ácida da uva ainda precoce. É nesse desequilíbrio entre uva maturada e uva mais verde que está a beleza deste vinho. Se preferirem, é no equilíbrio desses desequilíbrios que está a harmonia deste vinho".
Paulo Nunes não é adepto de fazer diferentes passagens na vinha para tentar apanhar as uvas em pontos mais perto do ideal. "Fazer vinhos tipo monocasta numa vinha destas é um erro total", diz. "Esta diversidade é tão rica que tenho de ir à sua procura, de a manter na garrafa. Os vinhos têm de ter alguma incoerência, para que possam causar surpresa. Vinhos muito perfeitinhos são monocórdicos, e a perfeição é uma coisa muito aborrecida."
Ao longo de todo o processo houve uma preocupação grande em arredondar os taninos, com uma rusticidade muito vincada no início, como é próprio da região. Foi por isso que se decidiu estagiar o vinho por 16 meses em barricas novas de carvalho francês. Madeira nova, porque tem um efeito mais imediato sobre o vinho, e em barricas em vez de tonéis maiores, porque se temia que assim os taninos pudessem "secar" em vez de suavizar, fruto de um estágio mais prolongado. Optaram também por pedir às tanoarias que entregassem barricas desenhadas especificamente para este vinho, numa original opção de barrica por medida.
Dizem que três cabeças pensam melhor do que uma, e o Segredo 6 parece confirmar a máxima, com António Boal salientando ainda o elevado potencial de envelhecimento destes vinhos, com "margens de progressão de 30, 40, 50 anos seguramente".
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