Provou 1000 vinhos num mês e reuniu tudo no novo guia imperdível do Douro
Pensado para meios entendedores, para “zeros à esquerda” e para experts em vinhos, o livro “Vinhos do Douro” compila a apreciação de mil vinhos por parte do jornalista e enófilo João Paulo Martins.
Há 31 anos que é jornalista na área dos vinhos, e há outros tantos que João Paulo Martins realiza provas, mas nem por isso deixou de ser desafiante provar 1000 vinhos num mês, metade do tempo num quarto de hotel no Porto, a outra metade em Lisboa.
Em média, conta à MUST, provou 30 vinhos por dia, começava quase sempre às 9h, a seguir ao pequeno-almoço. "É uma profissão como qualquer outra" afirma, o que não deixa de ser peculiar porque existe sempre um fascínio inerente ao universo dos vinhos. O objeto de estudo desta missão? Os vinhos Doc Douro, dos pequenos aos grandes produtores, daqueles que se encontram facilmente aos que é preciso ir ao confins da região para se conseguir uma das escassas garrafas que podem ainda existir.
Organizado por produtor e por ordem alfabética, mas também por preço médio, o "Vinhos do Douro" é uma viagem ao melhor desta região incrível, ou devemos dizer do Portugal incrível? É uma descoberta constante ao virar de cada página, cada nota de prova foi ponderada ao máximo para ser de fácil interpretação para o leitor, seja ou não enólogo, seja ou não apreciador ou entendedor de vinhos. Tal como João Paulo Martins fazia com o guia Vinhos de Portugal, que publicou durante 23 anos.
Organizou de forma interessante e eficaz as notas de prova, fazendo-o por ordem alfabética, e produtor. Alguma razão para tal?
Não quis começar pelos mais caros, nem pelos mais importante, está organizado por ordem alfabética. A ideia foi juntar alguma informação relativa ao produtor, por exemplo sobre a área da vinha ou para onde exporta. Depois incluí as notas de prova dos vinhos que enviaram, e também fiz uma secção com vinhos que são pouco comerciais no sentido em que são coisas que as pessoas fazem porque é oportuno. Pedi o PVP aos produtores, para poder organizar os melhores vinhos do ano por preço. É evidente que não se pode meter no mesmo saco um vinho que custa €5 e outro €50, são dois conceitos diferentes.
Foi uma forma de dar resposta ao que os consumidores e leitores procuram mais?
Sim, no caso do Douro tornou-se numa região muito famosa quer a nível nacional como internacional. Porque tem vinhas muito velhas, tem possibilidade de fazer vinhos muito particulares e originais. Isso atraiu nomeadamente a imprensa estrangeira na sequência do interesse no vinho do Porto. O Douro ganhou pelo facto de ter atrás um vinho ultrafamoso e com 200 anos de história que é o vinho do Porto. E nesse aspeto não há mais nenhuma região no país que possa ter esse mérito. O Douro cresceu muito na produção de Doc Douro, é um mundo que há 20 anos era completamente diferente. Quando antigamente era só uma região de tintos, a produção de brancos aumentou. Se quisermos fazer uma listagem dos melhores vinhos brancos do país, vários deles são do Douro. A região é tão diversa, tem tantas localizações possíveis em termos de altitude, exposição solar, solo ou microclima, que dá para fazer coisas muito diferenciadas.
Foi essa grande mudança que testemunhou ao longo das últimas décadas?
Quando eu comecei a escrever sobre vinhos não havia praticamente vinhos brancos no Douro. Vinhos tintos havia três ou quartos, e de referência havia dois ou três. Quando eu comecei, em finais dos anos oitenta, o Douro era vinho do Porto. Foi uma mudança que começou nos anos noventa, e isso aconteceu porque existiam boas uvas, e nem todas podiam ser usadas para o vinho do Porto, logo, com as que sobravam fizeram-se bons vinhos.
Como é que o Douro é hoje visto lá fora?
O Douro ganhou um prestígio muito grande. Enquanto antigamente era normal um jornalista ou um wine writer, como dizem os ingleses, ter essa profissão e não conhecer os vinhos do Douro ou nunca ter vindo ao Douro, hoje é gravíssimo. Se não conhece o Douro, se nunca cá veio e se não conhece os vinhos do Douro deixou de ser normal e passou a ser grave. É uma diferença substancial. O Douro tornou-se obrigatório quando se fala de vinhos a nível mundial.
Quanto tempo demoraram as 1000 provas?
Foi um mês. Eu sei que é assustador… Eu estive metido dentro de um hotel durante 15 dias, de manhã à noite, a olhar para as paredes, sem ver ninguém. É um trabalho. A pessoa acorda de manhã, toma o pequeno-almoço e depois vai começar a provar vinhos. Não há hipótese de dizer: "Ah, hoje apetece-me levantar e ir ver o mar." Essa questão não se coloca! É um trabalho.
Sempre fez assim as provas?
Quando há esta avalanche de amostras não sei como se faz de outra maneira, sinceramente. Não sendo assim não se consegue dar conta do recado. Eu provei quase trinta vinhos por dia durante um mês. Se a pessoa não consegue abstrair-se do mundo exterior e estar ali tranquilamente a provar, não se consegue dar conta do recado.
Quem corre por gosto não se cansa… Mas ao longo do dia ia ficando mais cansativo?
Eu gosto de começar logo às 9h da manhã, por mais estranho que possa parecer levantava-me por volta das oito, tomava o pequeno-almoço e às 9h estava a provar vinho. A parte da manhã rende sempre mais do que a parte da tarde. Estive 15 dias num hotel no Porto, pensei que ia conseguir provar todos os vinhos lá só que os vinhos atrasados foram aumentando. Levei o resto que me faltava provar para Lisboa, estive mais 15 dias a provar a partir dai.
Captar a essência do vinho em cada nota de prova é desafiante?
Nesse caso há várias formas de abordar a questão. Duas pessoas diferentes podem escrever notas de prova diferentes, embora a classificação final em princípio não se afaste muito uma da outra. Se eu dou 17 em 20 e outro dá 12 em 20 (ao mesmo vinho) um de nós não tem razão. Ou se calhar os dois. Se calhar não é tão bom para merecer 17 nem tão mau para merecer 12. Ou seja, os valores andam quase sempre próximos. A prova de vinhos muitas vezes atrai um certo tipo de terminologia muito poética. Eu não tenho jeito para fazer isso… O vinho passa a cheirar a coisas estranhíssimas que nunca ninguém cheirou e bagas de frutos numa árvore em Madagáscar… é uma coisa que não sei fazer nem quero fazer.
Ao deixar as descrições claras quis mostrar aos apreciadores que não é preciso ser-se especialista para apreciar um bom vinho?
Eu acho que para além de algumas indicações básicas que mostrem ao leitor que vinho é que ele tem à frente – se é encorpado, se é ligeiro, se tem mais ou menos acidez – é aquilo que faço. É dar uma panorâmica do vinho e dar uma sugestão daquilo que pode fazer com ele. ‘Guarde-o porque ele não está em condições de beber agora’ ou, ‘beba mas guarde um pouco só para ver como evolui’ É esse tipo de relação com o consumidor que eu procuro ter e que tenho tido ao longo dos anos. Já não vou mudar. Eu quero-me colocar ao nível das pessoas que não tendo experiência nenhuma de provas de vinho, possam provar e dizer se gostam ou não gostam.
Essa questão de abrir ou guardar um vinho é muito comentada. Quis dar esse bónus, por assim dizer?
Isso é uma questão técnica que se aprende na prova, quando a pessoa prova muito percebe que há vinhos que ainda não estão no ponto certo de equilíbrio entre as várias componentes e que vão precisar de algum tempo de cave para "polir as arestas". E se descobrirmos muitas arestas no vinho, percebemos que ele precisa de tempo para que tudo se unifique. Agora, isso não é coisa que aconteça com 95% dos vinhos, porque esses são os vinhos que as pessoas compram nos supermercados, e que estão mais do que prontos a serem consumidos.
Houve de algum vinho que deu mais luta na interpretação?
Não me lembro de nenhum em particular. Mas num livro destes aparecem-me sempre marcas sobre as quais nunca tinha ouvido falar. Todos os anos há produtores e marcas novos. Nunca se pode perder a noção que, no caso do Douro, muitas vezes os vinhos Doc Douro são feitos com as uvas que sobram e isto significa muitas vezes 1000 e tal garrafas. Portanto, os vinhos são bons porque as uvas são boas, mas as quantidades são demasiado pequenas para que o projeto seja muito divulgado. Depois, esses pequenos produtores não conseguem arranjar distribuidor, porque a maioria dos distribuidores já tem os portfólios cheios, e essa gente vê-se aflita para vender o vinho. Eu às vezes provo vinhos que nunca vão aparecer numa prateleira. É telefonar para casa do produtor e encomendar para casa.
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