Roteiro. Da comida às atrações, o que fazer no Pico?
Percorremos, em ritmo de corrida, os mais bonitos trilhos das chamadas ilhas do Triângulo, bastantes próximas umas das outras, mas todas com encantos diferentes. Com tempo e vontade para percorrer longas distâncias, subimos e descemos por onde nenhum carro passa, apenas pelo prazer de lá chegar. Na terceira leva, vamos até ao Pico.
Tudo o que se possa dizer ou escrever sobre os Açores peca por defeito, como depressa se percebe mal se chega a este território, moldado pela força do fogo no meio do Oceano Atlântico e, portanto, muito mais que um mero cenário fotogénico para selfies. Afinal, cada uma destas nove ilhas encerra sobre si todo um mundo de paisagens, histórias e tradições, que não se deixa revelar na efemeridade de uma simples publicação nas rede sociais. Para isso acontecer é preciso tempo e vontade para partir à descoberta destas ilhas, de preferência a pé, como antigamente, pelos inúmeros e imensos trilhos que as cruzam de cima a baixo. A caminhar, mas também a correr, tal como nos propusemos fazer, durante alguns dias pelas chamadas ilhas do Triângulo, compostas por São Jorge, Faial e Pico, talvez o local dos Açores onde melhor se sente o conceito de arquipélago, pela proximidade, mas também e especialmente, pelas muitas diferenças entre cada uma delas.
PICO
Do mar à montanha
Do cais da Madalena ao Lagido da Criação velha são pouco mais de três quilómetros, quase sempre junto ao mar e com vista para o Faial, num passeio agradável que é interrompido, de forma inesperada, por uma sucessão de muros de pedras negras, empilhadas à mão, umas sobre as outras, ao longo de séculos. É aqui que são cultivadas as uvas das castas Verdelho, Arinto e Terrantez com as quais é feito o famoso vinho do Pico, cuja primeira referência data de 1591, numa crónica de Gaspar Frutuoso. Os currais, como são conhecidas estas pitorescas vinhas, são um verdadeiro monumento ao engenho do homem e à sua capacidade de adaptação aos ambientes mais adversos. Classificado, em 2004, como Património Mundial pela UNESCO, o Lajido da Criação Velha é um dos locais obrigatórios para quem deseja conhecer melhor esta tradição.
Mais ou menos a meio das vinhas, aconselha-se uma subida ao topo do Moinho do Frade, de onde se pode apreciar uma vista panorâmica sobre todo este imenso labirinto de currais, mas onde o olhar, por momentos, se desvia no sentido oposto, em direção à montanha, o nosso destino final, ainda a cerca de 20 quilómetros de distância e sempre a subir. Apesar de não haver nenhum percurso oficial, existem vários caminhos agrícolas e trilhos pelas pastagens que cumprem bem esse fim, por onde passa a primeira etapa do Azores Triangle Adventure, uma prova de trail running disputada em três dias nestas mesmas três ilhas (ver informação abaixo). Aliás, nem são necessários grandes azimutes quando o objetivo é atingir aquela imensa montanha, a maior de Portugal, com 2 351 metros. Ao contrário do que seria de esperar, a subida revela-se suave, pois em vez de trepar monte a cima, os caminhos serpenteiam à volta do mesmo, tornando a corrida, a passo de trote, muito mais agradável, especialmente quando se atinge a zona de pastagens do planalto, onde apesar da vista estar constantemente colocada na montanha, se impõe uma paragem para olhar em sentido contrário e apreciar desde o alto, no outro alto lado do canal, a ilha do Faial.
Já falta agora pouco para chegar à Casa da Montanha, local de paragem obrigatório para quem quiser subir ao Pico, onde é feito o registo de controlo das subidas à montanha. Desta vez, porém, o tempo – estamos nos Açores, é bom não esquecer – não permite subir ao Piquinho, o ponto mais alto, onde algumas pedras quentes e um ou outro jato de fumo, lembram as origens vulcânicas da ilha, impondo ao visitante o devido respeito à montanha. Apesar de não ser uma subida muito técnica, é considerada de grau de dificuldade "médio a elevado", pelo que é necessário tomar algumas cautelas básicas e "quando o tempo está mau, pode tornar-se muito complicado", avisam-nos.
COMER
Ancoradouro
Rua Rodrigo Guerra, 7, Areia Larga, Madalena. T.: 292623490. Preço médio por refeição: 20 euros. Facebook: Ancoradouro
O Petisca
A. Padre Nunes da Rosa, Madalena. T. 292 622 35. Facebook: Tasca "O Petisca"
DORMIR
Calma do Mar
Avenida Padre Nunes da Rosa, Lote 6, Madalena. T. 914443408
Caminha da Cancela, Rua da Igreja, Bandeiras, Madalena. T.: 292622133. Alojamento a partir de 100 euros.
Cem quilómetros a correr pelo Triângulo
Teve a primeira edição em 2015 e, desde então, sempre em outubro, o Azores Triangle Adventure atrai até estas ilhas cerca de uma centena de atletas de trail running, uma modalidade de corrida na natureza, para percorrerem, em apenas três dias, 87 quilómetros pelos trilhos de Pico, São Jorge e Faial, por esta ordem. Este ano realiza-se no último fim de semana de outubro, a 25, 26 e 27. "O objetivo principal desta prova é exatamente o de promover os trilhos dos Açores como um produto turístico de excelência", diz o diretor da prova, Mário Leal, que tem conseguido inserir o arquipélago no mapa internacional desta modalidade. Além do Azores Triangle Adventure, Mário já organizou também provas nas Flores, Corvo, Graciosa, Santa Maria e no Faial, a sua ilha natal, onde tudo começou em 2014, com a realização do primeiro Azores Trail Run, que desde então acontece sempre em maio. Na última edição estiveram presentes quase mil atletas de três dezenas de nacionalidades, para participar em provas que vão dos 10 aos 125 quilómetros. "O objetivo é termos distâncias para todo o tipo de praticantes, para que cada um, à sua maneira e ao seu ritmo, possa usufruir destes trilhos únicos", explica.
Passear a correr
Para quem pretender percorrer estes mesmos trilhos a correr, mas sem ser num registo de competição, a empresa Caminhos d'Alma tem um programa de nove dias pelas ilhas do triângulo, a lançar no próximo ano, que alia a corrida com outras atividades como a observação de cetáceos ou provas de vinhos.
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