Quatro dias a atravessar o Gerês em bicicleta, uma aventura diferente para este verão
Percorremos a Grande Rota Peneda-Geres de ponta a ponta, a pedalar durante quase 200 km em bicicletas elétricas de montanha, num passeio com passagem pelos mais emblemáticos locais do único Parque Nacional português, mas também com muitas descobertas pelo meio.
É uma proposta no mínimo desafiante, a da empresa Tobogã, que criou um roteiro alternativo, em bicicleta, à recém-inaugurada GR 50, uma grande rota pedestre, com cerca de 200 km de extensão, ao longo do Parque Nacional Peneda-Gerês. "O objetivo é dar a conhecer o Parque Nacional na sua totalidade, de uma forma autêntica e personalizada", explicou à MUST Manuel Costa, um dos responsáveis desta empresa sediada em Entre-Ambos-os-Rios, no concelho de Ponte da Barca, que além da travessia do PNPG, disponibiliza também passeios de um dia, bem como atividades de canyoning e stand up paddle nos rios e albufeiras da região. A travessia de bicicleta demora normalmente cinco dias, mas no entanto é possível faze-la em menos tempo, ajustando o percurso aos desejos dos clientes, como no nosso caso, em que necessitámos apenas de quatro etapas para percorrer o único Parque Nacional de ponta a ponta em registo autoguiado, ou seja, com recurso a um road-book em GPS fornecido pela empresa, mas quem o desejar também pode ser acompanhado por um guia.
O preço é de 800 euros por pessoa e inclui o alojamento, em unidades de turismo rural, bem como todo o equipamento necessário (capacetes, luvas, mochilas, óculos). Quanto à bicicleta, é uma KTM Macina Kapoho elétrica com suspensão total. Ou como sublinha Manuel Costa, "um verdadeiro topo de gama, que permite percorrer grandes distâncias e troços mais técnicos sempre com bastante conforto e uma ótima gestão de esforço", sempre de acordo com a forma física de cada um.
1ª ETAPA
Tourém a São Lourenço
É mesmo junto a Espanha, na aldeia de Tourém, concelho de Montalegre, no extremo leste do Parque Nacional, que a aventura tem início. Sempre monte acima, seguimos em direção ao Alto do Pisco, numa primeira amostra das vistas panorâmicas que nos esperam ao longo dos próximos dias. O estradão percorre a linha de fronteira, como se percebe pela presença do marco fronteiriço nº 67, junto ao qual é possível ter um pé em Portugal e outro em Espanha. O objetivo seguinte é a histórica aldeia de Pitões das Júnias, onde é obrigatória uma paragem, não só para apreciar o típico casario em pedra, como para repor energias na padaria da aldeia, famosa na região pelos brioches e pelas bolas de Berlim.
O trajeto continua agora por uma estrada de terra, ao longo do planalto da Mourela, com passagem pela bonita paisagem da Turfeira do Poço das Rãs, em direção a Paredes do Rio, uma das mais bem preservadas aldeias das Terras de Barroso. Já depois de ultrapassada a Barragem da Paradela, inicia-se outro dos troços mais bonitos desta etapa, onde se impõem um pequeno desvio à cascata de Cela do Cavalo, para um retemperador mergulho antes de seguir caminho até à aldeia São Lourenço, o local de pernoita deste primeiro dia.
2ª ETAPA
São Lourenço a Campo do Gerês
O dia tem início a descer, num emocionante downhill entre São Lourenço e Cabril. Cruzada a ponte sobre o rio Cávado, começa-se novamente a subir, num troço que a sombra das árvores torna bem mais fresco. Chegados a Fafião, é feito um novo desvio à rota, para subir até ao miradouro, um dos mais impressionantes de todo o Parque Nacional, por ficar situado no topo de um gigantesco bloco de granito, ligado a outro rochedo por uma pequena ponte de ferro, pouco aconselhável a quem sofra de vertigens. Feita a fotografia da ordem, é tempo de seguir, primeiro a descer, até à ponte junto à cascata, para depois voltar a subir, através de um inclinado caminho de terra, naquele que é um dos troços mais técnicos desta segunda etapa, onde pedalar uma bicicleta elétrica se revela, de facto, uma importante ajuda. Após a travessia de um troço tão isolado, não deixa de ser um choque a chegada a uma das zonas mais concorridas do Parque Nacional, como é a envolvente da Vila do Gerês, onde locais como a cascata do Arado ou o Miradouro da Pedra Bela atraem verdadeiras multidões. Bem diferente é o cenário encontrado no Mirante Velho, um dos muitos miradouros situados no bonito caminho entre a Vila do Gerês e a aldeia de Campo do Gerês, também ele de paragem obrigatória, para apreciar a vista panorâmica sobre a Albufeira da Caniçada. Já falta pouco, agora, para chegar a Campo de Gerês, a famosa e bem preservada aldeia onde concluímos a etapa.
ETAPA 3
Campo de Gerês a Soajo
A mais exigente das etapas tem início numa dos mais idílicos locais do Parque nacional, a Mata de Albergaria, constituída por um dos mais bem preservados exemplos de bosque de carvalhos galaico-portugueses. O acesso de carro é pago (custa um €1,5), mas a travessia a pé ou de bicicleta é gratuita e vale bem a pena. Ao longo do caminho subsistem ainda alguns marcos miliários da Geira Romana ou via XVIII, que ligava Bracara Augusta à Asturica Augusta, ao longo de pouco mais de 300 km e ainda hoje uma das estradas romanas melhor conservadas do noroeste da Península Ibérica.
Com a temperatura a aumentar à medida que a manhã avança, as cascatas e poços de São Miguel, no rio Homem, apresentam-se como uma tentação à qual é necessário resistir, porque ainda há muito para pedalar. Na Portela do Homem, entramos em território Espanhol, para subir, subir e subir, até ao miradouro de Santa Eufémia, ainda em território galego, para apreciar a vista a 360 graus, onde se destaca o Rio Lima e a albufeira da barragem do Alto-Lindoso. Segue-se aquele que porventura será o troço mais técnico de toda a travessia, para depois, já na suavidade do alcatrão, continuarmos até à histórica aldeia de Lindoso, famosa pelo castelo e pelos espigueiros. E daí, depois de cruzado o paredão da barragem, seguimos até à não menos monumental vila do Soajo, conhecida pelo monumental conjunto de espigueiros centenários, onde terminamos mais uma etapa.
ETAPA 4
Soajo a Ameijoeira
Apesar de ser em alcatrão, as constantes curvas da subida até ao Mezio revelam-se um desafio que os modos elétricos da bicicleta tornam mais fácil de superar. Não deixa portanto de ser um alívio, a chegada ao imponente miradouro do Tibo, que a cerca de 800 metros de altitude se revela uma das mais belas varandas para a serra e vale da Peneda. Lá ao longe, encaixado no topo do vale, vislumbra-se também o secular santuário da Senhora da Peneda, um dos objetivos desta etapa, onde chegaremos apenas algumas horas mais tarde, após outra exigente subida e que vale por si só uma visita a esta região. Bem mais descansada, é a descida para Lamas de Mouro, onde o frondoso bosque e o som da água corrente convidam a uma breve paragem. Não faltam aliás, nesta última etapa, locais assim, como é o caso da área de lazer das Veigas, que nos "obriga" a novo intervalo na jornada, antes da subida para Castro Laboreiro.
Já falta agora pouco para o final, mas mesmo assim ainda há tempo para um último desvio, neste caso a pé, para visitar a pitoresca Ponte Nova ou da Cava Velha, de origem romana, que, ali, no meio de nenhures, mais parece saída de um qualquer episódio da Guerra dos Tronos. Dali até à aldeia da Ameijoeira, a meta final desta travessia, já só falta um punhado de quilómetros, mas até poderiam ser muitos mais, que não nos importávamos de continuar...
Travessia de Bicicleta do PNPG
Extensão: 200 km
Duração: 5 dias
Desnível acumulado: 6500 m
Dificuldade Média/Alta
Preço: €800
Mais informações em portal.toboga.pt
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