Prazeres / Artes

"Blinds": A primeira escultura ao ar livre de Martin Margiela

Conhecido por redefinir o conceito de moda, o designer surpreende com a sua primeira escultura ao ar livre. A peça monumental ocupa um lugar de destaque na renovada Schuttershofstraat, em Antuérpia, e desperta a curiosidade de quem por lá passa.

Foto: Tom Cornille
30 de outubro de 2024 | Safiya Ayoob

Martin Margiela, o enigmático e visionário designer belga que revolucionou o mundo da Moda, deu um novo passo na sua carreira artística com a criação de "Blinds" (2024), uma escultura ao ar livre que se apresenta como um marco na renovada Schuttershofstraat, uma das principais ruas comerciais de Antuérpia. A obra, realizada em colaboração com o projeto Kunst in de Stad (Arte na Cidade) do Museu Middleheim, marca a transição de Margiela para o universo da arte pública, deixando uma impressão profunda e intrigante sobre o público.

A estrutura circular e o acabamento refletor criam uma peça envolvente, que se integra no ambiente urbano de forma instigante.
A estrutura circular e o acabamento refletor criam uma peça envolvente, que se integra no ambiente urbano de forma instigante. Foto: Tom Cornille

"Blinds", que em português significa "persianas", representa uma interpretação artística das tradicionais cortinas de janela, utilizadas para ocultar o que se encontra por trás de uma fachada, mas aqui sem um "lado oculto". A estrutura circular e o acabamento refletor criam uma peça envolvente, que se integra no ambiente urbano de forma instigante. A escultura parece estar em constante diálogo com a cidade, oferecendo aos passantes o reflexo do que a rodeia, como também o seu próprio reflexo. Uma espécie de experiência de "ver e ser visto", uma dinâmica que Margiela tanto explorou na sua carreira de designer.

A peça torna-se ainda mais poderosa pela sua relação com o que rodeia: tal como as montras da rua exibem produtos ao público, "Blinds" exibe a própria cidade e quem por lá passa, mas mantendo uma dose de mistério. Ao contrário das vitrines comerciais, a escultura não revela o seu "conteúdo" — não há nada escondido, nem nada para ser revelado além do que está à vista. O resultado é uma reflexão sobre a dualidade do anonimato e da exposição.

A peça torna-se ainda mais poderosa pela sua relação com o entorno: tal como as montras da rua exibem produtos ao público,
A peça torna-se ainda mais poderosa pela sua relação com o entorno: tal como as montras da rua exibem produtos ao público, "Blinds" exibe a própria cidade e quem por lá passa. Foto: Tom Cornille

Margiela, que oficialmente se retirou do mundo da moda em 2009, começou a sua trajetória artística logo de seguida, e esta escultura marca um ponto significativo no seu percurso. Longe do universo das passerelles, investiga novas formas de expressão, continuando a subverter expectativas e a explorar os temas de identidade, camuflagem e transformação. A peça serve como um lembrete da sua abordagem: desconstrutiva, enigmática, mas sempre em sintonia com as mudanças da sociedade.

"Blinds" é, assim, mais do que uma obra de arte; é uma presença que desafia a percepção convencional da cidade, captando e devolvendo um fragmento da sua energia e ritmo. Em vez de ser um simples objeto de contemplação, a escultura de Margiela convida o espectador a questionar o que vê e como vê, refletindo sobre o espaço público como um palco de identidades em constante evolução.

"Blinds" é, assim, mais do que uma obra de arte; é uma presença que desafia a percepção convencional da cidade, captando e devolvendo um fragmento da sua energia e ritmo. Foto: Tom Cornille

Para aqueles que passam pela Schuttershofstraat, "Blinds" é uma experiência obrigatória. Mais do que uma homenagem à cidade de Antuérpia, a obra é um tributo à visão disruptiva de Martin Margiela, que, tanto na moda como na arte, continua a expandir as fronteiras do que consideramos visível e invisível, revelado e oculto, familiar e desconhecido.

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