Conversas

Um dia na vida de… de João Afonso, o autor que compõe bailados sobre vinhas velhas

O produtor, enólogo e professor João Afonso publicou recentemente o livro “As castas do vinho”. Uma narrativa que desvenda os segredos das centenas de variedades que fazem parte do património vinícola português.

Foto: DR
09 de fevereiro de 2024 | Augusto Freitas de Sousa

O antigo bailarino da Gulbenkian mudou-se para Cabeças do Reguengo em 2009, na Serra de São Mamede, no Alentejo, onde recuperou vinhas centenárias e passou a fazer o seu próprio vinho. O seu lema é "vinhos lentos para uma experiência de sabores".

A que horas se costuma levantar?

Depende muito do que tenho para fazer. Mas regra geral, quando o trabalho pode esperar, tento levantar-me o mais tarde possível, mas quase nunca consigo. Por volta das 8:00/8:30 estou a tomar o pequeno-almoço. Em época de vindimas uma hora mais cedo.

O que costuma refletir/ponderar/pensar nos primeiros minutos acordado?

O que é que aí vem? Ou seja, vai correr bem, mal ou assim assim?

Qual é a sua rotina quando se levanta?

Como tomo banho antes de dormir, de manhã sou rápido na casa de banho. A rotina é sempre a mesma: dentes, cara e mãos, vestir e baixar para tomar o pequeno-almoço.

Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?

Simples. Cereais com frutos secos.

Costuma haver algum tipo de atividade antes do trabalho?

Nenhuma. Vou fazer 67 anos este mês e há que poupar o material.

Qual é o seu trajeto diário? Como o faz? A pé, automóvel, transportes…

Vivo numa quinta e num parque natural. Raramente uso o automóvel no dia-a-dia.

Tem algum tipo de preparação prévia para o trabalho?

Não.

"Tento, contudo, ser cada vez mais positivo, mesmo nos momentos mais negativos, ainda que nem sempre consiga." Foto: DR

A que horas começa a trabalhar?

Depende. Nas vindimas à primeira luz de sol, no resto do ano por volta das 9:30.

Quais são as suas principais tarefas e responsabilidades no trabalho?

Gerir o nosso pequeno hotel e a produção de vinho da casa com as marcas Equinócio, Solstício, Quartzo, Seiva, Vira Cabeças, Respiro e Luar.

Como gere o seu tempo?

Tenho muito tempo. Sou um verdadeiro "homem rico". Normalmente não tenho de gerir o meu tempo. Tenho tempo de sobra para tudo.

Como lida com a pressão e o stress?

Só na vindima sinto algum stress e pressão. Fora disso tenho uma vida muito calma. Também já percebi que até nas vindimas temos de ter em mente que a calma é o nosso maior aliado. Há alguns anos queria "despachar a coisa", mas percebi que sofro muito menos quando deixo a vindima fluir com suficiente tempo livre para todos.

Qual é a parte favorita e menos agradável do trabalho e porquê?

A menos agradável são as vindimas, pela quantidade e intensidade de trabalho que representa e a manutenção do hotel – detesto bricolage. O mais agradável é conviver com os hóspedes simpáticos (felizmente tenho muitos) e seguir os vinhos ao longo do ano.

Tem uma equipa a trabalhar consigo? Como gere a comunicação com eles?

Sim, tenho seis colaboradores que procuro gerir como prolongamento familiar.

Costuma fazer pausas no trabalho? Para?

Não necessito de pausas. Tenho um trabalho já por si muito pausado. Vindimas, como já referi, é um pouco pior. Nesta privilegiada fase de vida que atravesso o que gosto mesmo é de "pausar".

Interrompe o trabalho para almoçar? O que costuma comer e onde?

Almoço muito tarde, 14:00/15:00 ou ainda mais tarde. Tudo o que há para fazer é até ao almoço que será em princípio uma boa refeição. E o dia está feito. Como normalmente em casa porque os restaurantes, na sua esmagadora maioria, abusam do alho e com a idade tornei-me intolerante. Ou em restaurantes e tascas escolhidos à lupa com boa comida, sem alho. Ultimamente sou preferencialmente vegetariano, ou seja, sigo mais à risca a dieta mediterrânea.

Como lida com eventuais críticas e elogios ao seu trabalho?

Críticas pesam imenso, elogios por vezes nem os ouço. Complicado para o amor próprio. Mas é assim.

O que diria sobre a ideia de que as pessoas com quem se relaciona profissionalmente têm de si?

Diria que têm a ideia de que sou "minimamente" competente.

Ao longo do dia dá importância às redes sociais?

Feliz ou infelizmente, importância zero.

Tem hobbies ou atividades que faz regularmente?

Presentemente, como já não consigo correr nem jogar ténis, toco viola e passeio a pé.

A que horas costuma terminar a atividade profissional?

Como referi pelas 14:00 ou 15:00.

"Leva" trabalho para casa?

O meu trabalho está em casa. Mas normalmente a partir desta hora só emergências.

Costuma conversar com alguém sobre a sua atividade no final do dia?

Com a minha mulher, bastante. Às vezes com a minha filha e genro.

Costuma viajar com frequência nas suas atividades profissionais?

Sim, com alguma (pouca) frequência. Já viajei muito e aprecio cada vez mais alguma rotina com sossego.

Há muita diferença entre os dias da semana e os fins de semana?

Nenhuma. Às vezes é um problema, porque estou sozinho.

Quais são os seus hábitos de jantar? Horário e exemplo de menu?

Não janto. Ou melhor, como fruta ou um pouco de queijo.

O que faz antes de dormir?

Leio um pouco, até a pestana pesar.

A que horas se costuma deitar e quantas horas dedica ao sono?

Entre as 23:00 e a meia-noite. Não tenho horas fixas para dormir, mas procuro quando estou na cama pensar só em cama. E esta prerrogativa tem sido um sucesso alcançado nos últimos tempos.

Como mantém o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional?

Ambas as vidas se misturam imenso, portanto acho que não podia desejar melhor equilíbrio que aquele que tenho.

Vê-se a ter outra profissão?

Totalmente. Gostava de conseguir, quem sabe acontece…

O que mais gosta e menos gosta na sua profissão?

Há sempre dias bons e maus em qualquer vida ou profissão. O negativo e o positivo estão sempre presentes. Tento, contudo, ser cada vez mais positivo, mesmo nos momentos mais negativos, ainda que nem sempre consiga. Mas para responder diretamente à pergunta, um problema num qualquer vinho é o que menos gosto e um bom vinho feito por mim no meu copo é o que mais gosto.

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