O agente secreto que ajudou a salvar 7 mil judeus
Na década de 1980, uma estância de férias com aulas de windsurf e mergulho entre os recifes de coral, foi aberta na costa sudanesa do Mar Vermelho. A questão era que o local era inteiramente gerido pela Mossad e servia de fachada a um extraordinário esquema secreto – resgatar judeus da Etiópia. Pela primeira vez na história, o antigo agente secreto por detrás da missão conta o que aconteceu.
Está um dia escaldante na costa do Mar Vermelho. O sol brilha bem alto num céu sem nuvens e turistas vindos da Europa e do Médio Oriente relaxam numa praia de areias brancas. O ano é 1982 – pense em Speedos, biquínis e no cheiro de óleo bronzeador e cigarros varrido por uma brisa quente – e estes homens e mulheres estão a desfrutar da sua estadia num hotel localizado nas proximidades. O Arous Holiday Village fica no Sudão, cerca de 160 quilómetros a sul da fronteira com o Egipto e é um novo empreendimento. Composto por um grande edifício, a casa do clube, flanqueado por uma dezena de bungalows caiados de branco com telhados com telhas vermelhas, o hotel apresenta-se especificamente como destino vocacionado para os desportos aquáticos. A sua colorida brochura promove "Aventura à la carte", e mostra fotografias bem concebidas de modelos atraentes, praticando windsurf e posando com equipamento de mergulho, bem como fotografias da caleidoscópica variedade da vida marinha que é possível encontrar entre os recifes de coral. Segundo a brochura, é uma estância "única em todo o mundo".
Os hóspedes do Arous, que variam desde entusiastas do mergulho a diplomatas sediados em Cartum e funcionários sénior do governo sudanês, passam os dias na companhia descontraída da pequena equipa de funcionários do hotel e dos instrutores de mergulho. Estes funcionários são quase todos jovens e europeus, simpáticos e em boa forma, partilhando dicas e contando piadas no clube após o pôr do sol e até encenando um ocasional espetáculo amador. O hotel é a criação de um antropólogo francês magro de 37 anos chamado Dani, que estudava as tribos da região quando encontrou estas 12 casotas brancas, situadas cerca de 50 quilómetros a norte de Port Sudan. Ele descobriu que houvera uma tentativa de ali construir um hotel, mas que correra mal. Dani, contudo, acreditava que seria capaz de fazer alguma coisa. Com a ajuda de um investidor e a bênção do governo do Sudão, renovou o local e inaugurou-o como o Arous Holiday Village, que, em 1982, estava a correr lindamente. Agentes de viagens de toda a Europa marcavam férias de duas semanas para os seus clientes. Os livros de elogios tiniam com palavras bonitas de clientes satisfeitos.
Havia apenas um pequeno pormenor: nada daquilo era real. Todo o negócio era uma fachada. Dani não era um antropólogo francês. Os bem-dispostos instrutores de mergulho não eram mesmo instrutores de mergulho. Na verdade, eram agentes da Mossad, a agência de serviços secretos nacional de Israel. Na verdade, quase todas as pessoas que trabalhavam em Arous eram agentes israelita infiltrados, desde a atraente gerente do hotel que se encontrava na receção ao homem que tratava da cozinha. Havia equipamento de comunicações secreto escondido no armazém da escola de mergulho. O investidor que ajudou Dani a dar a volta ao hotel era o estado de Israel. Arous era mesmo um hotel "único no mundo" – só que não pelas razões que os seus hóspedes ou o governo do Sudão pensavam.
Porquê? Por que decidiu o governo de Israel, há quase 40 anos, autorizar a criação de um hotel falso, cheio de agentes secretos na costa de um país hostil? Enquanto membro da Liga Árabe, o Sudão tinha, pelo menos no papel, estado em guerra com Israel desde 1967. Por isso, levar a cabo uma operação destas, mesmo debaixo dos seus narizes, era uma gigantesca provocação – caso fossem descobertos. Os riscos eram enormes. No entanto, as vantagens pareciam valer a pena. Porque o hotel em si fazia parte de um subterfúgio ainda mais audacioso. Entre 1979 e 1984, num programa conhecido como Operation Brothers, a Mossad salvou a vida de milhares de judeus etíopes que fugiam da guerra, da fome e da perseguição, transportando-os clandestinamente para Israel através do Sudão.
À noite, agentes fingindo ser funcionários do Arous recolhiam dezenas de homens, mulheres e crianças em campos de refugiados a abarrotar de gente no sul do Sudão e levavam-nos para o hotel, onde, numa enseada situada nas proximidades, comandos israelitas os recebiam para, em seguida, os escoltarem em pequenos barcos a motor até um navio da marinha disfarçado de embarcação comercial. Mais tarde, na Operation Brothers, aviões de carga C-130 Hercules penetrariam cerca de 720 quilómetros no território sudanês, aterrando em zonas de mato isoladas, embarcando centenas de judeus etíopes para depois regressarem a Israel sem serem detetados. Quando a operação chegou ao fim, mais de 7000 pessoas tinham sido resgatadas no Sudão sem ninguém ter descoberto como ou porquê.
Ao longo dos anos da intervenção, os pormenores sobre a Operation Brothers tornaram-se conhecidos. No ano passado, a Netflix lançou The Red Sea Diving Resort, um thriller levemente baseado nos acontecimentos. A única pessoa que não falou sobre o seu envolvimento na operação foi o homem que a planeou: o agente da Mossad conhecido simplesmente "Dani".
No entanto, isso está prestes a mudar. No próximo livro de Raffi Berg, Red Sea Spies, um relato emocionante e meticuloso da operação, a história de Dani assume finalmente uma posição de destaque. E foi por isso que, certa tarde, me encontrei sentado em frente ao antigo agente da Mossad de 75 anos na redação do Times. Digo "antigo", mas não é bem assim. "Oficialmente, reformei-me há muitos anos", diz Dani. "Mas, mesmo quando nos reformamos, eles continuam a telefonar-nos. Por isso, na verdade, nunca nos reformamos."
O seu apelido não deve ser publicado nem divulgado. Quando ele chega e tenho de o identificar na receção, sinto-me um pouco frustrado e digo que ele se chama "Dani Smith". Mais tarde ele repreende-me pelas minhas fracas qualidades como espião, queixando-se de que não é o apelido mais credível do mundo. "Smith?", pergunta. "Deveria ter dito ‘Cohen’."
Ele é baixo, com o cabelo grisalho, tem as costas direitas e um aperto de mão firme. Tem um ar composto e profissional e, quando nos sentamos, pega na cadeira que está ao pé da única porta da sala – um hábito que diz nunca ter perdido – e examina a mesa com um olhar analítico. Se isto o faz parecer intimidante não é de todo o caso, porque ele é divertido e expressivo, apimentando a conversa com antigas expressões idiomáticas da KGB e piadas sobre a CIA.
Dani quer sublinhar que, embora exista a tentação de olharmos em retrospetiva para os acontecimentos ousados da Operation Brothers e nos maravilharmos com a fluidez com que tudo foi organizado, na verdade ele estava desesperadamente a preparar tudo em cima da hora, porque não havia nenhum protocolo previamente estabelecido para a missão. "Não havia ninguém a quem pedir conselhos porque nunca tínhamos feito aquilo antes."
Dani nasceu no Uruguai e mudou-se para Israel aos 16 anos. "Cheguei lá em 1961, data do bar mitzvah de Israel", afirma. "Eu era sionista. Queria viver ali. Queria fazer parte daquela aventura."
Juntou-se ao exército, tornou-se paraquedista, cumpriu serviço ativo na Guerra dos Seis Dias e depois na Guerra do Desgaste Israelita e na Guerra do Yom Kippur, tendo alcançado a patente de comandante antes de ser recrutado pela Mossad, aos vinte e muitos anos. Multilingue e com a reputação de pensar em boas alternativas e de ter uma boa capacidade de decisão, começou a tornar-se conhecido dentro da agência.
No entanto, a oportunidade de liderar a Operation Brothers nunca lhe teria ocorrido se não fosse a eleição de Menachem Begin para primeiro ministro de Israel em 1977. Desde o século XIX que se sabia da existência de tribos isoladas que afirmavam ser judias nas terras altas etíopes. As suas origens permanecem envoltas em mitos, mas as suas crenças e os seus antepassados eram israelitas expulsos das suas terras natais nos tempos bíblicos, que desejavam um dia regressar. Chamavam às suas terras "Beta Israel", mas afastados do mundo em geral, praticavam uma forma de judaísmo que não evoluíra em concordância com as práticas comuns. Por isso, embora o povo de Beta Israel fosse considerado uma curiosidade, não eram considerados judeus de verdade, não se qualificando para cidadania israelita.
Após a sua eleição, porém, Begin inverteu esta política. Em finais da década de 1970, o número estimado em 36.000 judeus etíopes enfrentou as ameaças combinadas da fome, das insurgências internas e de uma perseguição cada vez mais violenta. Aos olhos de Begin, isto tornava-os suficientemente judeus. "Tragam-me os judeus da Etiópia", anunciou.
Era mais fácil dizê-lo do que fazê-lo. As relações diplomáticas disfuncionais entre os dois países significavam que não era possível fazer uma viagem direta e a localização isolada e montanhosa de Beta Israel fazia com que qualquer tipo em extração em massa fosse impossível. Dani foi encarregue de arranjar maneiras de levar os judeus para Israel sem desencadear um conflito regional, embora nada parecesse realista.
Essa possibilidade surgiu em 1979. Um judeu etíope jovem e culto chamado Ferede Aklum fugira do seu país e empreendera a longa e traiçoeira viagem para a norte, até ao Sudão. Aklum estava a viver num campo de refugiados nos arredores de Cartum e vendeu a sua aliança de casamento para pagar um telegrama, que enviou para a Sociedade de Apoio ao Imigrante Hebreu, uma organização norte-americana que dá assistência à reinstalação de comunidades judaicas em perigo. "Estou em Cartum", dizia a mensagem. "Fugi da Etiópia. Vocês sabem porquê."
Dani viajou até Cartum com um passaporte falso, fazendo-se passar por antropólogo. Consegui arranjar maneira de localizar Aklum e assim nasceu uma parceria – uma amizade profunda – que iria salvar muitas vidas. "Tornámo-nos muito próximos", diz Dani. "Tratávamo-nos por ‘irmão’. E não era apenas uma expressão. Acho que ambos o sentíamos."
Tornou-se claro para ambos os homens que, se conseguissem convencer outros judeus etíopes a seguirem as pegadas de Aklum até ao Sudão, seria muito mais fácil arranjarem uma maneira de levá-los para Israel. Para começar, o Sudão tem uma orla costeira. Em segundo lugar, a crescente crise dos refugiados no Sudão significava que o movimento de grandes grupos de etíopes para norte não levantaria suspeitas. Foi enviada uma mensagem para Beta Israel e, iniciando um gotejar que viria a transformar-se num dilúvio, os judeus lançaram-se numa viagem que esperavam vir a conduzi-los à sua Terra Prometida.
Durante dois anos, Dani e Aklum seguiram um plano simples, mas ousado. Aklum procuraria o seu povo nos campos de refugiados e Dani levá-los-ia na parte de trás de um veículo 4x4, transportando-os para Cartum durante a noite, contornando ou simplesmente fugindo aos postos de controlo das forças armadas. Os judeus seriam mantidos em casas seguras até Dani, criando um pequeno subterfúgio, no qual se fazia passar por trabalhador humanitário, lhes arranjava passaportes junto do ministério do interior do Sudão. Munidos de documentos de viagem oficiais, os judeus etíopes eram transportados aereamente de Cartum para cidades europeias, nas quais eram recebidos por agentes da Mossad e embarcados no primeiro voo para Israel. Em 1980, cerca de 800 judeus etíopes tinham sido retirados do Sudão desta forma.
Ao longo deste tempo, Dani teve de manter o seu disfarce como antropólogo francês. "Temos de nos comportar como pessoas normais", diz. "Havia uma comunidade branca em Cartum e clubes noturnos onde as pessoas iam beber cerveja e conviver com aquilo a que podemos chamar a classe dirigente do país. Funcionários sénior das forças armadas. Funcionários sénior de diferentes ministérios. Empresários." Ele começou a mexer-se nesses círculos. Por vezes, jogava ténis com o irmão do presidente do Sudão. Numa festa, conheceu o reitor da Universidade de Cartum, que insistiu que ele desse uma palestra sobre antropologia africana. "E eu disse: ‘OK, por que não?’ Eu não podia dizer que não. Por isso, fui." Na verdade, ele fizera algum trabalho de campo antropológico e tirara apontamentos para manter melhor o disfarce, por isso continua convencido de que a sua palestra foi parcialmente um sucesso, embora tenha usado muito material da Encyclopedia Britannica.
Embora Dani tivesse uma mulher e duas filhas pequenas em casa, segundo o seu disfarce era solteiro. "E um solteiro normal tem, supostamente, algumas necessidades, certo? E se não tivermos namorada, as pessoas vão tentar arranjar-nos uma", diz, encolhendo timidamente os ombros.
Fazer-lhe um arranjinho? "Fazer-nos um arranjinho! Claro. Até os meus amigos sudaneses tentaram fazer-me isso com raparigas sudanesas." Dani teve, pelo menos, duas namoradas sérias durante esse período, incluindo a filha de um abastado empresário arménio e uma jovem italiana cujo irmão era caçador de crocodilos profissional, embora as coisas tenham azedado quando ele descobriu que ela era muito mais antissemita do que Dani conseguia tolerar.
Entretanto, Dani e Aklum – que fora nomeado agente oficial da Mossad – estavam a transportar clandestinamente judeus etíopes para fora de campos de refugiados a abarrotar, embarcando-os em voos comerciais. Dani insiste que temos de perceber que estes judeus não eram participantes passivos a serem "salvos", mas parceiros da operação. Todos tinham escolhido viajar para norte e enfrentar os perigos extraordinários da viagem. Sabe-se que morreram, pelo menos, 1.560 judeus de Beta Israel na viagem até ao Sudão.
"Tiveram de caminhar centenas de quilómetros, desde as suas aldeias até à fronteira com o Sudão, o que nem sempre era possível. Tanto os exércitos sudaneses como os etíopes tentavam travá-los. E, nos campos refugiados, a ameaça da morte pairava constantemente. Não havia comida, água ou condições sanitárias. E além dos riscos que todos os refugiados enfrentam, eles eram judeus. Por vezes, eram reconhecidos pelos seus antigos vizinhos, cristãos etíopes, que iam denunciá-los aos serviços secretos sudaneses: ‘Estes são judeus! Estes são judeus!’" Em 1981, tornara-se evidente que havia muito mais judeus etíopes nos campos de refugiados do que conseguiriam alguma vez ser levados furtivamente até aviões comerciais. Foi então que o plano do Arous Holiday Village ganhou vida, pois o hotel serviria de base para uma série de evacuações navais clandestinas. Dani – ou seja, a Mossad – comprou o local abandonado por 250.000 dólares, mas ele sabia que, para ser convincente, o hotel teria de parecer um sucesso. Para começar, o número de hóspedes foi inflacionado convidando agentes reformados da Mossad. "Ganharam uma bela estadia de uma semana no hotel", diz animadamente Dani. "Estavam a lutar entre si para verem quem ia."
Havia muita coisa em jogo. Não era apenas a presença de mais agentes da Mossad no Sudão: era a forma como a marinha israelita estava, clandestinamente, a navegar ao largo da costa do Sudão e as equipas de comandos israelitas desembarcavam na praia, caída a noite, para levarem consigo os etíopes. "Em termos políticos, teria sido catastrófico sermos apanhados", diz Dani.
E o problema era que, por esta altura, os sudaneses já sabiam que se passava alguma coisa. Refugiados a desaparecerem de campos? Boatos sobre homens brancos a conduzi-los durante a noite? Dani tornara-se amigo de um membro sénior dos serviços secretos sudaneses que começou a fazer-lhe perguntas certa noite, enquanto bebiam um conhaque.
"‘Tens amigos judeus?" E eu disse: ‘Sim, claro. Alguns estudaram comigo na universidade.’. ‘Estou a ver. E como são, esses judeus? E eu respondi: ‘Bem, são iguais a toda a gente. Podem ser maus. Podem ser bons.’" Depois o funcionário dos serviços secretos sudaneses inclinou-se para a frente. Conheceria Dani alguns judeus negros? "Eu disse: ‘O quê? Judeus negros? Nunca vi um na minha vida.’ E ele disse: ‘És antropólogo e não sabes que existem judeus negros! Eles vieram da Etiópia e foram para os campos e estão a ser raptados por sionistas!’" Dani conta que havia suspeitas de que Israel andava a capturar etíopes para usar como carne para canhão. "Eu limitei-me a dizer: ‘Uau, eu não sabia isso.’" Naquele instante, diz ter ficado à espera de que guardas armados invadissem a sala e o prendessem. Isso nunca aconteceu e os dois homens acabaram as suas bebidas como amigos. Dani ri-se quando se lembra do sucedido. "Se ele ler isto, vai ter um ataque cardíaco. Ele ainda está vivo."
Numa noite de 1982, a operação quase teve um final sangrento. Um pelotão de soldados sudaneses foi detetado a aproximar-se de uma enseada junto ao hotel onde, naquele instante, centenas de refugiados estavam a ser embarcados em barcos a motor por comandos israelitas. Dani, juntamente com alguns agentes infiltrados, correu ao encontro das forças sudaneses numa tentativa de as distrair. Os barcos já quase tinham desaparecido quando um dos soldados sudaneses viu o navio afastar-se. Ele disparou na direção da água. Dani derrubou-o e seguiu-se um combate corpo a corpo. A dada altura, ambos os homens perceberam que a espingarda estava encostada à barriga de Dani. "Tudo o que ele tinha de fazer era premir o gatilho. Achei que era o fim. Mas ele hesitou."
O oficial sudanês no comando separou os dois homens e exigiu saber o que Dani estava a fazer. Miraculosamente, Dani não só conseguiu convencê-lo que estava a levar hóspedes em mergulhos para apanhar lagostas à meia-noite, como que estava furioso por as vidas deles terem sido postas em risco e que iria queixar-se às autoridades. Afinal, o pelotão só estava à procura de contrabandistas e as coisas acabaram por acalmar.
Na última etapa da Operation Brothers, Dani e a sua equipa transportaram judeus etíopes até locais isolados onde, subitamente, enormes C-130 voando a baixa altitude desciam no meio da noite, sem luz visível, aterravam, recolhiam a sua carga e regressavam a Israel sem serem detetados. No entanto, Dani diz que usar a palavra "carga" está errado. "Para mim, não eram encomendadas. Conheci cada um deles, mesmo que fosse apenas durante cinco minutos. Segurei as crianças nos meus braços. Abracei os pais e os avós."
No final da Operation Brothers, Dani ajudara a transportar clandestinamente 7.054 etíopes para Israel. Ele regressou a casa em 1984. Entretanto, a mulher divorciara-se dele. "Fartou-se" – mas ele queria ver as duas filhas que mal vira durante anos. "Não é fácil. Durante quatro anos das suas vidas, as minhas filhas não tiveram fotografias com o pai. Nada. Mas as coisas melhoram com o passar do tempo."
Hoje em dia, há mais de 120.000 judeus etíopes a viver em Israel, um aumento considerável em relação à meia dúzia que lá vivia há 40 anos. "Isto é um milagre. Acho que nunca aconteceu nada assim." Dani é um membro ativo da sua comunidade e diz que a vida dos judeus etíopes em Israel ainda pode ser difícil, pois eles são vítimas de racismo por parte dos próprios israelitas. "Infelizmente, a sociedade israelita não é tolerante. É como qualquer outra. Não aprendemos as lições ensinadas pela história. Deveríamos ser as últimas pessoas a serem intolerantes."
As crianças que ele salvou têm agora quarenta e tal anos e convidam-no para almoços e jantares de família e casamentos. O rabino que celebrou o casamento do filho de Dani de uma relação anterior estava a bordo de um dos barcos quando o soldado sudanês abriu fogo e viu Dani deitá-lo ao chão. "Ele lembra-se de tudo."
Antes de partir, Dani diz-me que não acha ter feito alguma coisa de especial. O que ele tinha era a certeza absoluta de que a missão era extremamente necessária. "Ser judeu não é fácil", diz, rindo-se e suspirando. "E, para mim, uma das melhores lições que aprendi enquanto judeu foi a não abandonar outro judeu ao seu destino. Temos de fazer tudo o que pudermos para os retirar de qualquer situação. Estejam onde estiverem."
Red Sea Spies: The True Story of Mossad’s Fake Diving Resort, de Raffi Berg, é editado pela Icon Books (£16,99)
Exclusivo The Times Magazine/Atlântico Press
Tradução Erica Cunha Alves
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Juan Gabriel Vasquez, O Informador
Tem 47 anos, um passaporte cheio de carimbos e duas filhas à espera, no regresso a casa, na sempre desconcertante Colombia. Escritor convicto e leitor apaixonado, o autor de O Barulho das Coisas Antes de Cair ou A Forma das Ruínas, obras distinguidas com um coro de elogios e vários prémios, passou por Lisboa para regressar à sua primeira obra, Os Informadores.
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