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Isto Lembra-me uma História: Índia, a mais populosa nação do planeta

Na verdade não lembra história alguma porque nunca na história tal tinha acontecido. Pela primeira vez, a China não é o país mais populoso à face da Terra.

É oficial: a Índia ultrapassou a China em número de pessoas
É oficial: a Índia ultrapassou a China em número de pessoas Foto: Getty Images
23 de abril de 2023 | Diogo Xavier

Foram consultados gráficos, estatísticas, dados de várias origens, documentação disponível online, andou-se para trás no tempo até tão longe como o ano de 1500 da era cristã. A informação obtida não deixa tirar outra conclusão que não a seguinte: o que aconteceu neste final de abril é histórico - no sentido de nunca antes ter acontecido na história da humanidade, pelo menos, tanto quanto os registos permitem aferir. Pela primeira vez desde que andamos a contar as pessoas que há no mundo a nação mais populosa do planeta não é a China (ou as outras anteriores denominações que a China, enquanto entidade, possa ter tido). 

É oficial: a Índia ultrapassou a China em número de pessoas. Era uma viragem no marcador mais ou menos esperada. Os especialistas antecipavam que a Índia viesse a ultrapassar a China, mas as estimativas de há uns tempos apontavam o ano de 2028 como o mais provável para que tal acontecesse. Mas esses especialistas não tinham bem a noção do quão rápidos podiam ser os indianos a crescer e a multiplicar-se, e a Índia acabou por ultrapassar a China 5 anos mais cedo do que o previsto.

A Índia acabou por ultrapassar a China em população 5 anos mais cedo do que o previsto.
A Índia acabou por ultrapassar a China em população 5 anos mais cedo do que o previsto. Foto: Getty Images

Que a China tenha sido, ao longo de séculos e milénios, a nação mais populosa à face da Terra, não há de causar grande surpresa. Tratando-se de um país de dimensão continental, com os seus quase 9 milhões e meio de quilómetros quadrados, entende-se perfeitamente que possua uma população também ela numerosa à escala de um continente. Ainda assim, a Europa - o território que se convencionou chamar assim para cá dos Montes Urais, e incluindo a Turquia e o Cáucaso, e que perfaz 10 milhões e meio de quilómetros quadrados - tem uma população de 746 milhões de pessoas, mais milhar, menos milhar. Já a China, com menos 10% de território, comporta 1425 milhões de cidadãos, ou seja, sensivelmente o dobro. Agora, o que verdadeiramente choca é que a Índia, com cerca de um terço do tamanho da China (e menos ainda em relação à Europa) tenha atingido os 1428 milhões de seres humanos. São números extraordinários e que devem levar a leituras sérias acerca do crescimento demográfico num território que, embora gigantesco, não é maior do que a Europa Ocidental.

A Índia tinha, em 1973, 596 milhões de habitantes. Nesse tempo, a China dominava (como sempre dominou até há meia-duzia de dias) a tabela dos países mais populosos, com 881 milhoes de pessoas. Em ambos os países, os avanços tecnológico, social, científico e económico trouxeram um aumento substancial esperança média de vida, ao mesmo tempo que a natalidade não diminuiu - na China, foram postas em prática políticas de controlo de natalidade muito restritivas (e muito pouco humanas), entre 1980 e 2015, que permitiam a cada casal ter apenas um filho. Entretanto, houve abertura por parte do regime chinês, que em 2016 alargou o limite aos dois filhos e, em 2021, aos três. Curiosamente, a população continua a diminuir espontaneamente: o conforto financeiro parece ter atraído as gerações mais novas, que preferem os bens materiais e uma vida tranquila a ter uma família numerosa. 

Na Índia, por outro lado, e como os números deixam perceber - a população aumentou 832 milhões de pessoas (quase triplicou) em 50 anos -, a natalidade não tem controlo, a não ser em alguns estados, como Uttar Pradesh e Assam, ambos no Norte do país, onde os governos estaduais bloqueiam o acesso a apoios estatais às famílias que tenham mais do que dois filhos.

Numa altura em que o planeta já ultrapassou o seu limite para responder às necessidades da população mundial, é importante olhar para o mapa demográfico e pensar na urgência em abrandar o aumento populacional à escala global. Existem na Terra, neste momento, mais de 8 mil milhões de seres humanos - o Dia da Sobrecarga da Terra, aquele em que os recursos do planeta para um ano são esgotados, assinalou-se em 2022 a 28 de julho. Contudo, não se pense que são estes países demograficamente mais numerosos aqueles que mais recursos consomem ao planeta. Segundo dados recentes, as cinco nações com maior pegada ecológica são, por ordem, os Emirados Árabes Unidos, o Qatar, a Dinamarca, a Bélgica e os Estados Unidos da América. O traço comum não é discreto: o elevado poder de compra das populações está diretamente ligado ao consumo de recursos das nações. Olhando para o crescimento económico exponencial a que se tem assistido na China, onde a classe média aumenta de forma consistente e rápida há já vários anos, é de saudar que o crescimento populacional do país tenha praticamente estagnado - é, neste momento, de 0,1% ao ano.

Há outros países cujo aumento da população foi exponencial, tendo acabado por alavancá-los para o grupo de nações mais populosas do mundo. O Paquistão e a Nigéria tiveram aumentos populacionais superiores a 3,5 vezes em apenas 50 anos, o que representa o maior aumento demográfico relativo entre as nações mais populosas. Têm hoje, respetivamente, 240 e 223 milhões de habitantes. 

Segundo os analistas, agora que se consumou a ultrapassagem da Índia à China em número de habitantes, os indianos deverão permanecer no primeiro lugar desta tabela durante várias décadas - chegará à sua população máxima em 2060, com 1700 milhões de habitantes. Os mesmos especialistas apontam para 2080 como o ano em que a população mundial atingirá o seu pico: 10,5 mil milhões de pessoas. Mas como já vimos anteriormente, os especialistas também se enganam nas contas. E muita coisa pode acontecer num intervalo de 57 anos.

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