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Depois da covid-19, a tendência será passar meses num cruzeiro

Após um ano de isolamento e vários confinamentos, quatro meses num navio parece muito bom para os super fãs de cruzeiros.

Um dos navios da Viking Ocean Cruises em Geiranger, Noruega
Um dos navios da Viking Ocean Cruises em Geiranger, Noruega Foto: Bloomberg
05 de março de 2021 | Bloomberg

A pandemia de covid-19 abalava o globo em julho, quando a Viking Ocean Cruises abriu as reservas para itinerário de um cruzeiro mundial de 136 dias. A partida no Natal de 2021 esgotou em semanas. Em dezembro, em plena segunda onda, a empresa abriu um segundo cruzeiro para o mesmo período. Também esgotou rapidamente.

A empresa não teve problemas em lotar dois dos seus quase idênticos navios de 930 passageiros, o Viking Star e o Viking Neptune, embora as fronteiras de muitas das dezenas de países da visita permaneçam fechadas para visitantes internacionais. As únicas cabines que não foram vendidas, na verdade, foram as que estão bloqueadas para possíveis necessidades de quarentena. Agora, a empresa está a preparar um itinerário adicional à volta do mundo a partir de 2023.

"Estamos a tentar abrir a próxima oportunidade o mais rápido possível", disse Richard Marnell, vice-presidente executivo de marketing da Viking.

Os navios Viking Sea e Viking Star em Santorini, Grécia
Os navios Viking Sea e Viking Star em Santorini, Grécia Foto: Bloomberg

Apesar das terríveis dificuldades da indústria de cruzeiros no ano passado - ou possivelmente, por causa delas - os bilhetes mais procurados em muitas empresas de cruzeiros são caros, com passeios mundiais de vários meses planeados para daqui a um ano ou mais.

Essas reservas, que podem custar de cerca de 50.000 dólares por casal em quartos standard a centenas de milhares de dólares em suítes de primeira classe, representam uma esperança para uma indústria que perdeu mais de 30 mil milhões de dólares e que continua oprimida pela incerteza. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos considera  atualmente que os cruzeiros possuem um "nível muito alto" de risco para a Covid-19 e recomenda que os viajantes os evitem no mundo todo; até ao momento, a maioria das linhas cancelou viagens até junho, e até mesmo esse calendário parece otimista.

A Viking não é a única linha com grandes planos para um futuro bastante distante. A 27 de janeiro, a Oceania Cruises abriu as vendas ao público do seu cruzeiro 2023 "Around the World in 180 Days" (Volta ao mundo em 180 dias), que passará por cinco continentes, incluindo a Antártica. A linha de luxo esgotou um navio de 684 passageiros em um dia.

A linha Ultraluxury Seabourn, por sua vez, esgotou todas as suítes de alto nível em dois cruzeiros mundiais no Seabourn Sojourn para 450 passageiros, com casais a pagarem até meio milhão de dólares por cruzeiros de cinco meses que começam em 2022 e 2023. Há tanta procura, que a empresa abriu recentemente listas de espera.

Porquê agora?

muitos fatores a impulsionar essa tendência, como a promessa de vacinas para o famoso grupo demográfico tradicional dos cruzeiros.

A Ilha de Páscoa, na costa do Chile, está entre os lugares mais vistos via cruzeiro
A Ilha de Páscoa, na costa do Chile, está entre os lugares mais vistos via cruzeiro Foto: Bloomberg

Os cruzeiros mundiais não circundam necessariamente o globo, apesar do nome. Mas as pessoas que ficaram presas em casa desde março de 2020 estão aparentemente com vontade de ver o máximo possível do mundo de uma só vez - incluindo destinos difíceis de alcançar como a Ilha de Páscoa, Bora Bora ou as Seychelles.

Procura reprimida e "repriorização dos objetivos de vida" estão em jogo aqui, diz Matthew D. Upchurch, presidente da Virtuoso, rede de consultoria de viagens de luxo. Segundo o responsável, além dos cruzeiros mundiais, que normalmente acontecem durante o inverno e a primavera, também viagens mais longas de várias semanas ou meses estão a atrair mais interesse do que antes da pandemia.

"Há um anseio pelas oportunidades perdidas no ano passado e um forte desejo de aproveitar as vantagens de ver o mundo enquanto podem", diz Upchurch.

A aurora boreal sobre Tromso, na Noruega, onde a Seaborn fará escala em 2022 com o seu novo cruzeiro mundial de pólo a pólo
A aurora boreal sobre Tromso, na Noruega, onde a Seaborn fará escala em 2022 com o seu novo cruzeiro mundial de pólo a pólo Foto: Bloomberg

Segurança

Entre as pessoas que desejam voltar ao mar estão Linda Weissman e o seu marido Marty, cirurgião ortopédico reformado. O casal escapou das temperaturas frias no Michigan e passou o inverno nos cruzeiros mundiais da Cunard 14 vezes - sempre numa suíte de luxo Queen’s Grill. Agora, pretendem fazer mais viagens mundiais de quatro meses no Queen Mary 2 em 2022.

O Queen Mary 2 da Cunard no porto de Nova Iorque
O Queen Mary 2 da Cunard no porto de Nova Iorque Foto: Bloomberg

"Sinto falta das pessoas, do serviço, de ser servida e cuidada como a realeza 24 horas por dia, 7 dias por semana", diz Linda.

Após a pandemia, os passageiros terão de lidar com algumas preocupações sérias, incluindo a frequência de surtos em navios. Marnell, da Viking, diz que os adeptos dos cruzeiros mundiais beneficiarão de um ambiente seguro no qual os viajantes se podem sentir confortáveis por um longo período de tempo. Como outras linhas, os navios da sua empresa foram equipados com laboratórios para testes de PCR frequentes e novos sistemas de purificação de ar, entre outras medidas.

A segurança das visitas em terra, porém, continua a levantar questões - particularmente em países onde as vacinações ainda não começaram a ser implementadas de forma substancial.

Longe de ser garantido

Para que as empresas de cruzeiros realizem esses planos, várias mudanças terão de acontecer. O cruzeiro Viking deve navegar para 56 portos em 27 países em dezembro de 2021, incluindo pontos na América Central, Havai, Austrália e Nova Zelândia, Ásia, Médio Oriente e Mediterrâneo - com tarifas de 53.000 a 166.000 dólares por pessoa.

A empresa, como outras que oferecem cruzeiros pelo mundo, terá que navegar pela complexidade dos requisitos de entrada e regras de quarentena em constante mudança num mundo que pode não atingir a imunidade de grupo durante vários anos.

Marlborough Sounds na Nova Zelândia, um dos lugares que os passageiros podem desfrutar num cruzeiro mundial
Marlborough Sounds na Nova Zelândia, um dos lugares que os passageiros podem desfrutar num cruzeiro mundial Foto: Bloomberg

As incertezas em torno das regulamentações governamentais dificultarão o planeamento de itinerários para as empresas de cruzeiros, diz Upchurch, da Virtuoso. "Ter de mudar de rumo depois de uma viagem estar em andamento não é prático. É caro e não ajuda a restaurar a confiança do consumidor", diz.

As empresas de cruzeiros esperam que, quando esses itinerários mais distantes se iniciarem, a Covid não seja um problema; caso o encerramento de fronteiras persista por mais tempo do que o esperado, esses itinerários podem ser adiados, assim como o resto do calendário de cruzeiros.

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