Brancos ou tintos, quais envelhecem melhor?
As opiniões dividem-se mas há uma que predomina. Quais são os seus palpites? Perguntámos aos especialistas, de produtores a enólogos.
Tradicionalmente os tintos são apontados como envelhecendo melhor, mas os brancos já ganharam espaço. O responsável da Quinta do Monte d’Oiro, Francisco Bento dos Santos não escolhe cor desde que "tenham uma boa estrutura de base, acidez bem presente – bem integrada –, teor alcoólico com alguma expressão e perfil aromático algo fechado".
O enólogo e produtor Paulo Coutinho, avança hipóteses de vinhos com potencialidade para envelhecer, por ordem, dos que têm menos capacidade para os que a têm acrescida, de "brancos de bica aberta, sem qualquer contacto pelicular, rosé de sangria, estes quase sem hipótese, e brancos de curtimenta parcial ou completa, tintos leves, como os palhetos, encorpados e envelhecidos, com longa maceração fermentativa e pós-fermentativa e portos destinados a envelhecimento em madeira, Late Bottled Vintage (LBV) e Vintage.
Ainda sobre a cor para envelhecer, Sérgio Frade dos restaurantes Frade e Guelra sugere que "pelo método de fermentação habitual diria que os tintos, uma vez que os brancos ditos normais não têm extrações das películas, engaços e por esse motivo a estrutura tânica é baixa ou inexistente". Sérgio, que também é produtor, refere que no seu caso como produtor de vinho de talha "é muito evidente encontrar um bom comportamento nos brancos na longa guarda semelhante aos tintos".
A responsável pela garrafeira Wines 9297, Helena Pereira Muelle diz que antigamente havia algum preconceito em relação aos vinhos brancos com mais idade, coisa que hoje, pelo menos entre enófilos, não acontece". Mariana Siqueira da Garrafeira Imperial menciona que ambos terão capacidades para evoluir muito positivamente, mas no geral, nota "que as pessoas tendem a preferir tintos evoluídos e brancos mais jovens". A especialista em vinhos conclui que há regiões já reconhecidas por produzirem vinhos com mais potencial de guarda, "como a Bairrada, o Dão e o Douro, mas as praticamente em todo o nosso território, incluindo as ilhas podemos encontrar belos exemplos desses vinhos".
O enólogo e produtor Jorge Alves sugere que os tintos "parecem ter uma melhor capacidade para envelhecer", uma vez que "os taninos e a cor (polifenóis) têm um efeito fundamental no envelhecimento saudável dos vinhos, tal como a capacidade de que têm de captarem radicais livres resultantes de oxidações primárias permite que os vinhos tintos se oponham melhor ao envelhecimento".
O jornalista Luís Costa reconhece que, teoricamente, envelhecem melhor os tintos, mais do que os brancos, "por causa da estrutura, concentração e tipo de estágio, mas há exemplos de sentido contrário". Recorda ter bebido um espumante super reserva de 1998 "que estava surpreendentemente fantástico". A enóloga Martta Reis Simões sustenta que é mais fácil encontrar "tintos a envelhecer melhor do que brancos pois têm a componente tanino e muitos deles têm estágio em barricas que lhes confere tanino adicional". Porém refere que "brancos de maceração pelicular, estagiados sobre as borras finas, em madeira, também têm este tanino extra que ajuda a proteger dos efeitos do tempo e oxidação".
Joana Roque do Vale junta as cores e destaca que "os vinhos tintos têm sido mais valorizados ao longo do tempo, no entanto, há brancos velhos fantásticos". Para o produtor e enólogo António Ventura a questão das cores é muito difícil de responder. Considera que "quase sempre há tendência para relevar os tintos como possuindo maior capacidade de estágio, no entanto grandes brancos ou tintos normalmente apresentam grande capacidade de envelhecimento, com o seu potencial qualitativo quase sempre a crescer ao longo do estágio".
O enólogo e também produtor Francisco Gonçalves, concorda com a questão dos taninos nos tintos, mas não descura "brancos de alta qualidade que também podem desenvolver complexidade e melhorar significativamente com o tempo". Para a jornalista Maria João de Almeida, todos podem envelhecer bem, mas, "os tintos tendem naturalmente a durar mais tempo com maior número de taninos e compostos antioxidantes". Conclui que em Portugal "encontramos alguns brancos velhos de mesa de grande categoria, especialmente na região do Dão e da Bairrada".
Para o professor e enólogo Virgílio Loureiro, "a qualidade do envelhecimento é independente da cor do vinho". Explica que ao longo da sua vida tem "encontrado brancos, claretes e tintos de longevidade surpreendente e, em regra, quando os vinhos são de guarda, os brancos resistem melhor do que os tintos". O estudioso diz que os claretes, muito populares nas décadas de 1950 e 1960, "continuam a surpreender, pois raramente se encontra um que não esteja em condições". Confessa que não sabe por que razão envelhecem bem, mas suspeita que seja "por terem baixo teor de álcool, elevada acidez e feitos com uvas sãs de vinhas com produções baixas". Por último salienta que há exceções, "como os célebres vinhos da histórica Casa Francisco Ribeiro, cujas vinhas estavam nos campos de Valada, junto ao leite de cheia do Tejo, e produziam prodigiosamente".
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