8 percursos pedestres para o início do verão
As férias na praia já lá vão, mas ainda há muito verão para aproveitar, de preferência longe de tudo e todos, como nestes desafiantes trilhos pedestres, que de norte a sul do país (ilhas incluídas) nos mostram o melhor de Portugal.
NORTE
Romeiros da Peneda / Rota do Soajo (Soajo, Arcos de Valdevez)
É ao fim da tarde, quando o sol se esconde por detrás das serranias, fazendo impressionantes jogos de luz por entre as árvores, que a beleza desta paisagem se revela em todo o seu esplendor.
Do alto do miradouro da Porta do Mezio, avistam-se ao longe os penedos da serras de Soajo, da Peneda e Amarela, cuja imensidão se apresenta como um irrecusável convite para partir à descoberta. A Porta do Mezio é uma das entradas oficiais do Parque Nacional da Peneda Gerês, funcionando aqui como ponto de partida para os visitantes recém-chegados à região. O Centro Interpretativo inclui um parque escultórico com as mais emblemáticas espécies animais da região, canteiros com flora do parque, um museu com o espólio das escavações do Núcleo Megalítico do Mezio e uma zona de lazer com piscina, circuito de manutenção e ginásio ao ar livre. Mas o que atrai cada vez mais pessoas são os vários percursos pedestres que cruzam estas serras, como este, que tem início um pouco mais abaixo, no Soajo, famosa pelo vasto conjunto de espigueiros (o mais antigo é de 1782), situados sobre uma enorme laje de granito também usada como eira comunitária. Trata-se de uma pequena rota linear que liga a histórica vila ao santuário de Nossa Senhora da Peneda, um dos locais de maior devoção da região, onde todos os anos, no início de setembro, ocorre uma enorme e ancestral romaria. O percurso, serra do Soajo adentro, acompanha um velho caminho medieval, que em tempos idos ligava o Soajo a Castro Laboreiro e ainda hoje é usado por peregrinos e romeiros.
Partida: Soajo
Chegada: Santuário da Peneda
Extensão: 15 km
Trilho de Entre-Ambos-Os-Rios (Entre-Ambos-Os-Rios, Ponte da Barca)
A beleza da paisagem apenas é proporcional ao desafio que este trilho, com início junto à Igreja de S. Miguel Entre Ambos-os-Rios representa para os caminhantes. Logo no início alcança-se as faldas do lugar de Froufe, onde se começa logo a avistar a imponente meia encosta da Serra Amarela. Sempre por entre pinhal, carvalhos e giesta atinge-se Lourido, continuando em direção à Ermida. À medida que se avança serra acima, a paisagem vai-se também alterando, predominando agora os matos rasteiros, tão característicos de zonas de maior altitude. A dada altura, o percurso cruza-se com a conhecida GR 34, a Grande Rota Interpretativa da Serra Amarela e ao longo de quase 3 km, mesmo até chegar à Ermida, ambos os percursos são coincidentes. Neste troço, somos surpreendidos pelos deslumbrantes desfiladeiros do rio Carcerelhe, onde se formam poças, que durante o verão são perfeitas uma paragem, com mergulho incluído, antes de continuar para à Ermida. Chegados ao miradouro da Ermida, num dos pontos mais elevados do caminho, a vista panorâmica permite finalmente uma real perceção da distância percorrida e da que ainda falta percorrer. Iniciada a descida, somos agora acompanhados pelo rio Carcerelhe de um lado e pelo rio Froufe do outro, que se juntam um pouco mais à frente.
Outra vez no lugar de Lourido, voltamos a seguir o rio, agora já só chamado de Froufe, cruzando a ponte em direção à aldeia com o mesmo nome, com passagem pelos típicos currais que são um símbolo da arquitetura popular desta região, bem como por frondosos carvalhais, cuja sombra é uma verdadeira bênção quando o calor aperta.
Partida e chegada: Igreja de Chavão
Extensão: 14 km
CENTRO
Rota das Poldras (Souto de Lafões, Oliveira de Frades)
O riquíssimo património de Souto de Lafões, como a igreja de São João Baptista, que congrega no seu edifício elementos medievais, manuelinos e barrocos, ou as diversas casas apalaçadas onde a família real da casa de Bragança era presença regular, são um bom complemento cultural a este desafiante percurso pelos trilhos desta histórica freguesia. Depois da travessia das poldras da igreja, a primeira de muitas destas estruturas que será necessário cruzar, começa-se por percorrer diversas vias rurais, até começar a descer, através de uma floresta de folhosas onde predominam carvalhos e castanheiros, para começar a acompanhar as margens destas ribeiras e nascentes, plenas de vida e de biodiversidade, de onde no passado as gentes locais tiravam o seu sustento, como se comprova pelas ruínas de inúmeros moinhos de água e lagares de azeite.
Sempre encosta abaixo, chega-se à garganta do Vouga, onde a paisagem muda abruptamente, tomando a forma de uma vale escarpado que se prolonga até ao Cunhedo, outrora lugar de passagem obrigatória para as deslocações à outra margem, utilizando-se como ponto de passagem os carreiros ou caminhos que conduziam à velha ponte, ainda hoje associada a lendas e aos frades do vizinho Mosteiro de São Cristóvão de Lafões. Seguindo a margem para montante chega-se até Porto de Areias, outro importante ponto de passagem para chegar à povoação de Covelas, através de outro conjunto de poldras. A última etapa do trilho percorre as margens da Ribeira de Varzielas, passando pelo bonito poço da Sertã e terminando nas poldras do "Coixo", que rematam a passagem na linha de água, deixando para trás os densos bosques, até entrar novamente na aldeia de Souto de Lafões.
Partida e Chegada: Souto de Lafões
Extensão: 8,5 km
Rota da Garganta de Loriga (Loriga, Seia)
Com início no topo do planalto central da Serra da Estrela, este percurso linear percorre o vale da Ribeira da Nave, ligando esta garganta até à vila de Loriga, numa descida de mais de mil metros de altitude através de uma impressionante paisagem, esculpida há mais de 10 mil anos por um glaciar com mais de 6 quilómetros comprimento e cerca de 250 metros de espessura.
A ação modeladora do gelo criou aqui uma morfologia glaciar, composta por uma sucessão de quatro depressões, que os habitantes locais batizaram de covões (são eles o Boieiro, o do Meio, o da Nave e o da Areia). A primeira parte do percurso avança por uma típica zona húmida de montanha, com prados de altitude, juncais, turfeiras e vegetação flutuante.
Um passadiço metálico suspenso sobre o espelho de água da barragem dá em seguida acesso ao Covão do Meio, onde a sede pode ser saciada com a água fresca e pura do riacho que, um pouco mais à frente, cai em cascata junto ao paredão da represa. O caminho continua através de antigos trilhos de pastores, por prados verdes e lagoas naturais, em direção à praia fluvial da Ribeira de Loriga, onde a beleza da paisagem, da única praia do país assente sobre um vale glaciar, impõe nova paragem. Entretanto, já se avista finalmente a vila de Loriga, também conhecida como a "Suíça Portuguesa".
Partida: Salgadeiras
Chegada: Loriga
Extensão: 9 km
Dificuldade: Alta
SUL
Senhora das Neves (Monte da Estrada, Odemira)
Junto à ribeira do Seissal, bem no interior do concelho de Odemira, a ermida da Senhora das Neves é ainda hoje um importante local de culto, construída no século XVI, bem no topo do Cerro do Queimado, no mesmo local onde antes existiu uma pequena fortificação islâmica. É este, literalmente o ponto mais alto deste percurso, por entre os vales frescos e férteis de Figueira, Fojo de Baixo e do Poço, mas também ao longo de trilhos por cumeadas onde o olhar se perde no infinito.
Ao longo do caminho existem diversas nascentes, tanques e poços, que ajudam a explicar a fecunda a terra destes vales, imortalizada, em jeito de agradecimento, nos versos cravados junto ao Poço de Vale Figueira: "Deus te conserve a pureza, neste vale d’encantamento, és um poço de riqueza". A subida até àquele miradouro natural, a quase 300 metros de altitude, é sem dúvida um desafio, mas vista panorâmica sobre o montado vale bem o esforço, tal como é contado na lenda de Nossa Senhora das Neves. Conta-se que após Nossa Senhora terá aparecido no topo da serra, a população quis construir uma capelinha em sua honra no sopé da colina.
No entanto, sempre que pedras eram carregadas para o local da construção, no dia seguinte apareciam no topo da serra, onde acabaria erguida a capelinha para sempre conhecida como a Ermida de Nossa Senhora das Neves. Além do percurso completo, existem outras duas versões, uma intermédia de 8 km e outra mais curta, de apenas 5 km, mas todas com direito à subida ao cimo do monte.
Partida e Chegada: Monte da Estrada
Extensão: 13 km
Azinhal dos Mouros (Azinhal dos Mouros, Loulé)
Durante anos, a aldeia serrana do Ameixial, no concelho de Loulé, foi um dos pontos de paragem obrigatório, para quem se deslocava pela Estrada Nacional Nº2, outrora uma das principais vias de ligação ao Algarve. Desses tempos resta apenas a memória, mas a simpática aldeia soube adaptar-se aos novos tempos, em especial a partir do momento em que aqui começou a ser realizado o Festival de Caminhadas do Ameixial, transformando esta freguesia numa espécie de capital das caminhadas na Serra do Caldeirão. À volta da aldeia são três os percursos existentes, de diversas distâncias e níveis de dificuldade, que dão a conhecer toda a riqueza paisagística, arqueológica e social da região. O mais curto, que leva o nome da própria aldeia, é uma pequena rota circular de 3,2 km (opção curta) ou de 4,5 km. Tem como ponto de partida um pequeno parque e percorre alguns moinhos de vento, o aprazível parque de merendas da Fonte da Seiceira, diversas hortas tradicionais e a anta da Pedra do Algar. Quem preferir caminhadas mais longas, pode, a partir deste percurso, aceder aos outros dois. O mais longo é o do Azinhal dos Mouros, sem dúvida um dos mais bonitos trilhos do Algarve. Tem início em Azinhal dos Mouros, uma pequena aldeia rodeada de sebes de piteira (figos da Índia), onde, no século XIII, terá entrado D. Paio Peres Correia, vindo do Alentejo, para tomar a região aos mouros – tal como é contado na "Crónica da Reconquista do Algarve". Desde aí, o trilho acompanha o curso do Vascão, que aqui marca a fronteira com o Alentejo. O percurso segue depois pela margem deste afluente do Guadiana, cruzando-o por várias vezes. Acompanha depois a ribeira do Vascanito, antes de começar a subir serra acima, em direção ao Monte dos Vermelhos, sempre com vista panorâmica para os imensos vales que caracterizam a paisagem desta serra. O outro percurso, do Corte de Ouro, com 12 km, tem a particularidade de também poder servir de ligação à Via Algarviana, mas o que realmente salta à vista são locais como os tradicionais palheiros (de pedra e telhado cónico), a centenária Fonte do Pé Corso ou a milenar anta do Beringel, um dos mais importantes monumentos megalíticos do Algarve e testemunho único da ancestral ocupação humana desta região, cujos tesouros se encontram por aqui, hoje, à distância de uma simples caminhada.
Partida e Chegada: Azinhal dos Mouros
Extensão: 15 km
ILHAS
Trilho dos 10 Vulcões (Horta, Faial)
Antes da partida, podem-se percorrer os dois quilómetros de diâmetro da cratera, apreciando esta mesma paisagem desde cima e só então começar a descida para a levada, onde a paisagem passa a ser dominada pelo verde da cerrada floresta Laurissilva.
Como o nome indica, este trilho percorre os principais e mais recentes vulcões existentes no alinhamento fissural do Capelo. O último troço, entre o Capelo e os Capelinhos, é por isso um dos mais diversificados em termos paisagísticos, e igualmente um dos mais exigentes em termos físicos, sempre num constante sobe e desce. O esforço é no entanto recompensado com uma paisagem "repleta de aves e com uma densa vegetação", em tudo idêntica à que, segundo o padre historiador Gaspar Frutuoso, os primeiros povoadores aqui terão encontrado. A leste, fica o Cabeço do Fogo, local da primeira erupção histórica do Faial, em 1672. No horizonte avista-se já o Vulcão dos Capelinhos, o lugar da última erupção ocorrida no Faial, entre 1957 e 1958, que aumentou a ilha em mais de dois quilómetros quadrados em pouco mais de um ano. Se ainda houver pernas, aconselha-se portanto um último esforço para subir até à borda da cratera, por um novo e marcado trilho, para daí apreciar a vista panorâmica sobre este jovem território.
Partida: Miradouro da Caldeira do Faial
Chegada: Capelinhos
Extensão: 19,5 km
Vereda do Areeiro e do Pico Ruivo (Santana, Madeira)
São vários os locais na Madeira onde se pode apreciar o nascer do sol no oceano, mas nenhum se compara ao espetáculo proporcionado desde o Pico do Areeiro, o terceiro ponto mais alto da ilha da Madeira. É também daqui que parte um dos mais espetaculares percursos pedestres da ilha, mas também um dos mais exigentes. A Vereda do Areeiro tem a particularidade de ligar dois dos pontos mais altos da ilha da Madeira, o Pico Ruivo (1862 m) e o Pico do Areeiro (1818 m), percorrendo parte do Maciço Montanhoso Central através de um troço considerado um dos melhores percursos de trekking de pequena rota da Europa. Para além de declives acentuados e subidas íngremes em degraus escavados na rocha, inclui ainda alguns túneis, pelo que é aconselhável levar lanterna. Quem preferir aumentar a distância, pode começar a caminhada em sentido contrário, na Achada do Teixeira, a 1 592 metros, acrescentando uma subida de quase 3 km até ao Pico Ruivo. A vista sobre o vale é fabulosa, alcançando-se o mar e as localidades de Santana e São Jorge, na costa norte da ilha. E como sempre acontece quando se caminha pela Madeira, estes percursos são também uma viagem pela história, vislumbrando-se vestígios da passagem humana em sítios inimagináveis, testemunhos da vida dura de quem vivia no interior da ilha e precisava de se descolar até ao Funchal, muitas vezes com carga. À chegada ao miradouro final, obtém-se uma perspetiva fantástica de 360 graus, até mesmo nos dias em que o denso anel de nuvens ao redor da ilha, habitual na cota dos 1000 metros, deixa apenas visíveis os picos do maciço central.
Mas se o céu estiver limpo, a vista alcança os extremos da ilha, da Ponta de São Lourenço a Porto Moniz. Após este momento de contemplação, a caminhada prossegue agora no sentido do Pico do Areeiro. O piso, de terra ou de pedra, não levanta dificuldades, a não ser que se sofra de vertigens. A maior exigência está nos desníveis acentuados, alguns com cerca de 300 metros, que é necessário ultrapassar, com os muitos degraus a provocarem eventuais estragos nas pernas. O importante, mais uma vez, é fixarmo-nos na paisagem. Só quando se passa o Pico do Gato é que finalmente se avista a enorme escadaria que conduz até ao topo do Pico do Areeiro. Seja para recuperar o fôlego ou para admirar a paisagem, é impossível não nos determos a cada passo e, perante tão arrebatadora visão, até espetaculares miradouros como o da Pedra Rija ou do Ninho da Manta se tornam redundantes.
Extensão: 7 km
Partida: Miradouro do Pico do Areeiro
Chegada: Pico Ruivo
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